Agora aposentado, Felipe relembra alguns momentos da carreira

Terça-feira, 01/04/2014 - 12:03
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"Hoje eu já me considero um ex-jogador". Demorou pouco mais de duas semanas desde o dia do anúncio de que encerrou a carreira até o momento em que ele confirmou, de fato, que não atuará mais como jogador de futebol profissional. Aos 36 anos, o ex-meia Felipe, que começou como lateral esquerdo e já atuou até como atacante, garante que agora já está 100% aposentado.

"Agora defini o que já estava praticamente definido", afirmou.

Ídolo do Vasco da Gama, Felipe atuou pelo clube durante nove dos 18 anos que teve de carreira. Bicampeão brasileiro (1997 e 2000), campeão da Libertadores (1998), da Copa do Brasil (2011), do Carioca (1998), da Copa Mercosul (2000) e do Torneio Rio-São Paulo (1999), ele fez história no clube cruzmaltino, mas também teve passagens por Flamengo e Fluminense e conta que é abordado nas ruas com admiração pelos torcedores rivais.

Em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br, Felipe relembrou momentos marcantes de sua trajetória no futebol. O ex-atleta falou sobre a possibilidade de voltar a atuar pelo Vasco (o que agora, segundo ele, já está descartado), do calote que tomou na Europa quando atuou pelo Galatasaray, da relação com os presidentes Eurico Miranda e Roberto Dinamite em São Januário, da queda do nível técnico do futebol brasileiro e da vontade de ser treinador no futuro.

Além do Vasco, Felipe também atuou por Palmeiras, Atlético-MG, Galatasaray (Turquia), Flamengo, Fluminense e Al Sadd (Catar).

Confira a entrevista completa com Felipe:

ESPN.com.br - Já se acostumou com a vida de um jogador aposentado?

Felipe - Eu me adaptei muito bem, achei que ia sentir muito mais falta do que estou sentindo. Óbvio que, tendo jogado a vida toda, você sente falta do futebol. Mas por outro lado, tudo na vida tem um bônus e um ônus, estou sendo um pai mais presente, infelizmente o futebol te exige algumas coisas que você acaba abdicando na vida. Estou curtindo mais a minha família, meus filhos, tenho um de oito e outro de quatro anos, por este lado para mim está sendo ótimo.

Você cogitou voltar a jogar depois que anúnciou a aposentadoria? Não estava convicto em parar?

As especulações sempre vão existir, está muito recente. Tive alguns convites para retornar e jogar em outras equipes. Mas sair do Rio é complicado, tem a adaptação da minha família, hoje penso muito mais na família. Em um contrato de um ano, não sei se valeria a pena, meus filhos teriam que mudar de escola, eles teriam que me acompanhar, eu não gostaria de ir para ficar sozinho. Vira e mexe pinta um convite ou outro, mas hoje eu já me considero um ex-jogador. Eu tenho alguns negócios fora do futebol, que agora estou um pouco mais à frente, com tempo para saber dos negócios mais a fundo. Como o futebol exige muito, eu acabei não acompanhando.

Uma dessas propostas foi do Vasco? Por que não deu certo?

O Rodrigo Caetano é um cara que eu aprendi a gostar no futebol, é um cara muito sério, então realmente houve esse contato, mas é complicado. Não adianta o Rodrigo Caetano querer se algumas pessoas de dentro da diretoria, da presidência, não querem. Então, eu estou bastante tranquilo. Claro que o ideal para mim, para minha família, meu pai gostaria que eu terminasse minha carreira jogando no Vasco, mas isso não foi possível. O importante é que eu fiz uma história legal no Vasco e estou bastante tranquilo.

Alguém do Vasco já falou em fazer um jogo de despedida para você?

Não, nada foi falado, até porque é muito recente. O Edmundo mesmo foi um ídolo do Vasco também e teve sua festa de despedida depois de muitos anos. Tem o Juninho que também encerrou e merece uma festa de despedida. Então, estou nessa fila, mas sem problema nenhum, não tenho essa ganância de "eu tenho que ter", não tenho esse tipo de vaidade. Claro que se tiver vai ser legal, até pela história que eu construí no Vasco, foi onde comecei, hoje sou o maior vencedor da história do Vasco em títulos. Então, particularmente para mim isso é sensacional, isso mostra que minha história no futebol foi muito legal.

Qual foi o melhor momento da sua carreira?

É complicado falar, mas quando eu surgi no futebol eu consegui em pouco tempo conquistar títulos importante. Subi para o profissional do Vasco em 1996, conquistei o título brasileiro em 97, fui eleito o melhor lateral esquerdo do campeonato, estava na seleção do brasileiro com apenas 19 anos. Foi muito gratificante, e ainda teve o título da Libertadores no ano seguinte. O Vasco me colocou no cenário do futebol, foi ali que em 99 eu consegui ser convocado para a seleção. Então, são títulos marcantes que vão ficar guardados para sempre no meu coração. É legal, espero que eu possa ter ajudado um pouco na história do futebol.

Você também teve bons momentos em outros clubes, inclusive em rivais cariocas do Vasco. Como foram essas passagens?

O Palmeiras foi legal, apesar de ter sido uma passagem muito curta, porque eu fui contratado somente para a Libertadores. No Flamengo foi uma passagem muito boa, apesar de ter essa rivalidade entre Vasco e Flamengo, por eu ter mudado de posição, no Vasco comecei na lateral esquerda e fui para o meio-campo, no Flamengo fui para o meio e depois acabei jogando no ataque. O Flamengo não tinha um time muito qualificado naquela época, mas eu consegui me destacar muito bem no Campeonato Estadual de 2004, isso em deu muita visibilidade. Me sinto lisonjeado pot até ter sido comparado com o Garrincha, pela maneira como eu driblo. Então, pra mim foi muito gratificante. O legal disso tudo é que eu ando na rua, quando eu encontro um tocedor do Flamengo, ele fala: ‘Vai pro Flamengo', Encontro um torcedor do Vasco, ele fala: ‘Vai pro Vasco'. Do Fluminense: ‘Por que tu saiu?'. Enfim, esse respeito, essa admiração, é complicado de ter, por causa da rivalidade. Óbvio que você não vai agradar a todos, porque a rivalidade acima de tudo é muito grande, torcedor é paixão, mas fico lisonjeado por poder ter agradado a torcedores rivais.

Apesar de se destacar no Brasil, você não chegou a se firmar e ficar mais tempo na Europa. Por que isso não aconteceu?

Sondagens na minha vida existiram, mas financeiramente não foram muito boas. Passei um tempo na Europa, no Galatasaeray, na Turquia, em 2001. Quando o Hagi se aposentou, eles me contrataram para o lugar dele. Mas não sei se eu sou pé frio (risos), para onde eu vou acaba o salário atrasando. Quando cheguei no Galatasaray, eu tinha 25 anos, estava, sozinho, solteiro, fui para um país com cultura totalmente diferente, mas eu estava feliz jogando lá. Eu tinha contrato de quatro anos quando o Galatasaray me comprou do Vasco, mas fiquei apenas seis meses, eles não me pagaram salário. Eu estava fora do país, sozinho, e em seis meses só recebi dois salários, foi complicado. Então, eu acabei voltando, entrei na Justiça, peguei meu passe. Também teve a negociação da Roma, com 19 anos eu fui vendido por 22 milhões de dólares. Mas eles me contrataram em março, e na época o Eurico falou eu só iria quando acabasse o Estadual. Nessa transição trocou o treinador lá, então na Roma acabei não tendo sorte. Mas não tenho do que reclamar, só posso agradecer ao que o futebol me proporcionou e ao que eu pude fazer pelo futebol.

Seu último clube na carreira foi o Fluminense, no ano passado, mas você atupu pouco por lá. Faltou oportunidade?

Era complicado porque quando eu cheguei o Fluminense já tinha um time formado, um elenco. Quando eu fui para o Fluminense eu já sabia que eu ia ajudar a somar, em três anos eles conquistaram dois brasileiros, é um feito que poucas equipes conseguem. Mas a rapaziada me recebeu muito bem, Fred, Thiago Neves, Deco, todos eles, me adaptei muito bem. Procurei colaborar da melhor maneira possível, dentro e fora do campo. Infelizmente, não joguei como de costume, gostaria de ter ajudado mais, mas faz parte do futebol, espero que o Fluminense possa seguir seu caminho.

O Deco disse em um entrevista recente que jogador mais velhos, como ele na época do Fluminense e Seedorf no Botafogo, só se destacavam porque o nível do futebol brasileiro atual é mais baixo do que o europeu. Você concorda?

Concordo. Acho que o nível técnico caiu bastante no futebol brasileiro hoje, o Campeonato Brasileiro está nivelado por baixo na minha opinião. Hoje você ve muita disposição, parte tática, muita combatividade, o atacante tem a obrigação de acompanhar o lateral e atacar. Antes o futebol era um pouco mais bonito de se ver. Acho que isso aconteceu devido à evolução do futebol, não sei se foi para o bem ou para o mal, mas faz parte. O futebol brasileiro acabou deixando de usar a criatividade.

Você vê no Vasco hoje algum jovem com características parecidas com as suas, um jogador técnico, de dribles curtos?

Não, hoje eu não vejo, ainda não. Espero que surja bastante, mas acredito que o Vasco já revelou muIto mais jogadores do que está revelando agora. Os times brasileiros em geral também.

Você trabalhou com os presidentes Eurico Miranda e Roberto Dinamite no Vasco. Qual a diferença entre os dois para quem convive com eles?

O Eurico era muito mais presente, apesar de ser polêmico, sempre foi muito mais presente, aparecia, falava, questionava. Acho que o Vasco na época do Eurico era muito mais respeitado fora das quatro linhas. Não sei se por ele criar tanta polêmica, as pessoas tinham um pouco mais de medo, receio. São maneiras diferentes de comandar. O Roberto é uma pessoa que fala pouco, muito mais pacato, acompanha o time, mas não com tanta frequência. Ele ouve muito mais a opinião das pessoas em volta dele, o Eurico já fazia muito mais a vontade dele, o que ele queria. Entendo que ser presidente de um clube é uma posição complicada, é complicadíssimo gerir um clube onde tem o futebol, pressão da torcida, uma dívida enorme. É complicado, não é fácil, não.

Quais os seus planos agora depois de aposentado? Pensa em ser presidente do Vasco? Treinador?

Presidente, não. Tenho vontade de ser treinador, acho que a única coisa que pesa contra é a rotina de viajar, concentrar, mas tenho essa vontade de me preparar, fazer alguns cursos. Agora que estou aposentado, tenho mais tempo para a família, mas vou me dedicar. Óbvio que o maior curso que posso fazer eu já fiz, que foi o que futebol me deu, a vivência desses 18 anos como profissional. Mas é importante você estudar, ler a parte tática, porque na pratica é diferente. Mas o conhecimento que o futebol me deu, se eu vier um dia a virar treinador, vai ser muito bem usado.

Agora ex-jogador, Felipe foi revelado pelo Vasco e fez história do clube cruzmaltino



Fonte: ESPN.com.br