Juniores: Confira entrevista com o preparador físico André Portela

Sábado, 23/03/2013 - 06:43

Ele filho do saudoso Alcir Portela, que marcou época dentro do Vasco da Gama como jogador e treinador, sendo inclusive capitão cruzmaltino durante o título do Campeonato Brasileiro de 1974 e o atleta que mais atuou no clube entre os anos de 1963 e 1975.

Apesar disso, engana-se quem pensa que André Portela, atual preparador físico da categoria de juniores, está no Gigante da Colina apenas por conta da história do pai. Formado em Educação Física e Fisioterapia, o profissional acumula passagens Bonsucesso, Olaria, Portuguesa-RJ, Bragantino e Seleção Brasileira.

Fã de Bebeto de Oliveira, preparador que trabalho no Vasco e em outros clubes do Rio de Janeiro, André participou na última quarta-feira (20/03) do programa 'Só dá Base', do grupo Só dá Vasco. Na oportunidade, o profissional falou um pouco sobre sua trajetória no Vasco e deu detalhes do trabalho que vem sendo realizado nas categorias de base em seu setor.

Confira uma entrevista exclusiva com André Portela, preparador físico do Juniores:

Em primeiro lugar, conte um pouco sobre sua formação e a trajetória no futebol. Quando chegou ao Vasco?

"Eu comecei no Vasco acompanhando muito o meu pai. Quando ele voltou da Arábia Saudita eu passei a acompanhar sempre ele de 1988 a 1993, quando eu entrei para a faculdade. Eu fiz faculdade de Educação Física e me formei em 1996. Depois engajei na faculdade de fisioterapia e em 1999 eu comecei a trabalhar na equipe profissional do Bonsucesso. Em 2000 fui para o Portuguesa da Ilha do Governador, onde consegui junto com os jogadores ser campeão do estadual da segunda divisão. No final de 2001 pintou a oportunidade de ir para o Vasco para trabalhar como preparador físico do juniores. Em 2002 eu engajei direito e estou no Vasco até hoje. Mas eu já estou no futebol há muito tempo. Eu fui criado com jogadores e por isso o pessoal me fala que eu tenho a linguagem dos jogadores. Para mim é muito fácil ter uma boa relação com os atletas. A minha toda é Vasco".

O que exatamente faz o preparador físico e qual é a sua importância para um clube de futebol?

"Lá no Vasco a gente tem uma relação muito boa. Eu, que sou do juniores, tenho uma relação mais direta com o profissional, com o fisiologista Daniel Gonçalves. Todas as informações que eu tenho no juniores eu passo para ele e a gente vai fazendo uma cadeia. Temos uma ligação também com o preparador físico do juvenil e do infantil. A nossa proposta é fazer uma rede para pegar todos os atletas e pegar o máximo de informação possível para o profissional. Isso é importante para que o atleta já chegue ao profissional conhecido por todos que trabalham lá. As informações que pretendemos acumular diz respeitos aos problemas com lesão e aos procedimentos utilizados para curá-las. Quando eles já chegam ao profissional, eles já chegam com todas as informações referentes ao tempo que ele passou na base do clube. Nós preparadores físicos fazemos isso".

Você se inspira em algum preparador físico?

"Uma pessoa que me inspira muito é o Bebeto de Oliveira. Toda a minha parte técnica e um pouco que tenho em termos motivacionais eu peguei do Bebeto de Oliveira. Quando eu comecei a frequentar o Vasco depois que fiz as faculdades, em 1998 e 199, conheci o Bebeto de Oliveira. Ele é o melhor cara que trabalha na parte prática de campo. Não existe ninguém igual a ele. Eu me inspiro muito no Bebeto de Oliveira, que já foi preparador físico do Vasco. É um cara que chamava os jogadores e motivava bastante o grupo. Eu devo muito essa minha parte motivadora ao Bebeto de Oliveira. Me inspirava muito nele e me inspiro até hoje".

No ano passado o preparador físico do profissional era o Rodrigo Poletto e nesse ano quem está a frente desse departamento é o Luiz Otávio. Existe um trabalho em conjunto no que diz respeito a metodologia com o pessoal que está no profissional?

"A gente trabalha de acordo com a nossa realidade. Para cada fase do atleta é necessário um processo. Lá no Infantil ele já começa a ter a preparação de acordo com a idade. Esse trabalho continua da mesma forma até ele chegar ao juniores. No juniores, como a gente já possui todas as informações desses atletas, nos iremos prepará-lo para o profissional. Eu sou um auxiliar do fisiologista do profissional, até porque o Daniel já trabalha no Vasco faz um bom tempo. Todas as informações que eu possuo é passada especificamente para o Daniel. É ele que entra em contato com o preparador físico que estiver no cargo naquele momento. Se isso não acontecesse, a gente teria que ficar mudando a metodologia constantemente. No profissional a idade varia muito e a margem é maior do que a gente que trabalha no juniores só com três fases, com três anos de diferença até porque lá temos atletas de 18 a 38 anos. A gente tem que trabalhar especificamente dentro da nossa realidade, que são três idades. Lá a margem é maior e por isso a gente não pode fazer algo igual ao profissional. Lá no profissional eles têm uma carga estabelecida para determinada competição. Às vezes o time profissional joga quarta e sábado e o juniores sábado e sábado. Por isso, a gente não pode acompanhar todo o método do profissional ao pé da letra. Tem que ser de acordo com a competição. Mas a gente tem esse troca com o Daniel Gonçalves e consideramos ela muito importante".

Como funciona o trabalho de preparação física nas demais categorias da base vascaína? Quais as diferenças?

"Essa parte é bem básica e específica em cada categoria. Quando tem uma competição de tiro curto nós do juniores fazemos após o jogo ou no dia seguinte alguns tipos de trabalho, como banheira de gelo, que apoia a fisioterapia. Ele entra nela para ter uma melhor recuperação para o jogos. Acredito que no mirim, por conta da juventude e do tempo da competição, eles não possuem muito problemas com a recuperação e problemas de lesão. Digo isso porque o treinamento deles é jogando. Tem uma preparação, tanto é que o preparador físico do mirim está sempre em contato com a gente. Eles fazem trabalhos físico principalmente antes de cada competição. No profissional e no juniores já é diferente, pois é preciso ter essa recuperação que citei. Eles não disputam jogos seguidos por conta da lei, que não permite que um atleta jogue mais de um jogo em menos de 48 horas".

O Vasco treina desde o ano passado no Centro de Treinamento de Itaguaí, que tem uma boa estrutura. Qual a importância de se trabalhar num local como esse para o departamento de preparação física?

"Mudou muito. Em 2010 e 2011 eu estava no juvenil pelo fato de terem ocorrido algumas mudanças na parte de funcionários. Passei um período da minha vida no juvenil e isso aconteceu justamente quando ocorreu a transição, quando a gente deixou de treinar em Caxias e passou a treinar em Itaguaí. Vocês não imaginam a diferença que foi para nós trabalharmos em Itaguaí. Ganhamos muito e a maior prova disso foi que ganhamos o primeiro turno do Estadual daquele com um pé nas costas. Foi uma tremenda melhora. É distante? Claro que é, mas nós temos lá uma caixa de areia, uma marcação para todos os preparadores físicos de 900 metros, o que ajuda nos trabalhos de curta distância, temos uma piscina para fazer recuperação. Além disso, temos nutricionistas que ajudam diariamente na recuperação dos atletas auxiliando na alimentação e indicando suprimentos. Sem contar na maravilhosa sala de musculação, que possui todos os equipamentos que eram utilizados no profissional antes da reformar da academia de São Januário. Todos os aparelhos que estavam com o profissional foram para Itaguaí e todos passaram por melhorias. Agora temos aparelhos em perfeitas condições e isso tem feito os atletas crescerem muito em termos de percentual e massa corporal. Essa mudança para Itaguaí só nos trouxe melhorias".

Como você avalia o trabalho que vem sendo feito atualmente na categoria de juniores? O time já está 100% fisicamente?

"Nós estamos vindo de uma batida de três competições e o campeonato carioca é a quarta. Jogamos a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro no final do ano e a Copa São Paulo no início do ano. Entramos no Estadual sem ter feito uma pré-temporada como a maioria das equipes pequenas. A prova disso é que temos encontrado dificuldades contra as equipes pequenas, embora a parte técnica dos atletas da nossa equipe supere a dos adversários. Nos jogos a gente vem tendo algum tipo de dificuldade, mas alguns atletas conseguem superar essa parte física com a parte técnica. Como sofremos muito no primeiro turno do Estadual, até mesmo pelo fato de vários atletas nossos terem subido para o profissional, nós fizemos uma inter-temporada nessas três semanas que tivemos e fizemos que os atletas obtivessem um ganho de força e massa muscular. Eles estavam bem na parte aeróbica, que é parte de resistência, mas faltava essa parte de força. Nessas três semanas nós tentamos melhorar isso".

Como é a sua relação com o senhor Jair Bragança e o Sorato, membros da comissão técnica da categoria juniores?

"O Jair Bragança tem um lugar especial na minha vida, pois ele já me conhece há muito tempo, antes mesmo do Vasco. O filho dele, o Jairzinho, já convivia comigo antes da minha entrada como profissional do Vasco. Além do Jair ser um excelente profissional, um cara experiente e meu consultor, ele tem um espaço muito grande na minha vida. Antes do meu pai ficar doente ele era o braço direito dele e quando meu pai ficou doente ele virou braço direito, braço esquerdo, virou tudo. Eu tenho muito a agradecer ao Jair. Ele nunca esqueceu meu pai. Acho que o Jair frequentou a casa do meu pai muito mais do que eu. Eu tenho um carinho muito especial por ele. O Sorato eu conheço desde 1988, época em que eu frequentava com meu pai o juvenil. Em 1989 foi o Sorato foi promovido do juniores para o profissional. Eu tive uma longa vida de vestiário com o Sorato, pois quando era garoto eu frequentava concentrações e comemorações. Quando eu fiquei sabendo que ele vinha trabalhar no Vasco foi uma grande surpresa. Sempre admirei e é muito bom trabalhar junto com ele, pois é um cara correto, sincero e que saber trabalhar".

O que você pensa sobre o fato do Vasco estar dando oportunidade para vários ídolos trabalharem? Temos hoje no clube, além dos já citados, Mauro Galvão e próprio Roberto Dinamite.

"Todos me conheceram e me conhecem desde pequeno. Esse relacionamento que tenho com todos é muito bom. Conheço o Mauro Galvão e o Roberto Dinamite antes de trabalhar no Vasco por ser filho do Alcir. Só depois eles conheceram o meu trabalho. Eu tento seguir a linha do meu pai no que diz respeito a seriedade e o compromisso com o Vasco da Gama. A presença dessas pessoas só vem a acrescentar, muito boa essa atitude. O Jair Bragança sempre fala que todos os ex-atletas precisam ter uma oportunidade e eu acho isso também. Na minha concepção todo mundo precisa ter seu espaço. Não é porque é ex-jogador que o cara não entende. Ele tem a vivência e acho muito importante essa troca. Essa parte de experiência dentro do campo vale muito, inclusive para ajudar muito o futebol. Eu acho importantíssima essa filosofia do presidente. É muito importante para o futebol".

O que representa o Vasco na sua vida?

"Estou no clube há 11 anos como funcionários e a 25 anos como frequentador. Eu respiro o Vasco o tempo todo, não tem como fugir disso. Foi onde o meu pai teve a honra de fazer história. Eu não tive a honra de acompanhar meu pai jogando. Quando ele foi campeão brasileiro em 1974 eu tinha apenas noves meses e não tive essa oportunidade. Nos outros títulos o meu pai teve participação e eu estive junto com ele. Estou buscando seguir os passos dele e ajudar o Vasco a melhorar suas categorias de base. Acho que vamos melhor num médio-longo prazo. Com certeza iremos dar alegrias para o torcedor".

O que você pensa sobre o fato de alguns jogadores treinarem no profissional e atuarem pelo juniores?

"O que eles reclamam e sentem dificuldade é no Juniores a gente tem outro ritmo. Os atletas que estão treinando no juniores tem uma batida maior de jogos. Alguns atletas que vão para o profissional não possuem essa batida de jogos. Eles treinam algumas vezes com o profissionais e algumas vezes eles não participam, ficam só fazendo treinamentos específicos, como finalização. Quando descem eles estão com o ritmo do profissional e sem ritmo de jogo. Eles sentem essa dificuldade nesse sentido, além da falta de entrosamento. Mas se eles estão no profissional eles estão tendo um acompanhamento melhor e trabalhando com profissionais mais experientes, o que faz com que eles tragam experiência ao time de juniores. Mas a questão da parte física não muda muito não. O que eles sentem dificuldade é a adaptação em relação a uma batida de treinamento, pois eles não participam de coletivo constantemente".

Que mensagem final você deixa?

"Eu quero agradecer a torcida e ao Vasco. Tudo que eu tenho hoje na vida é graças ao Vasco. Muito obrigado a torcida e a diretoria do Vasco".

Com informações do Programa "Só dá Base/Só Dá Vasco".

Fonte: Blog do Carlos Gregório Jr - Supervasco