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Vasco volta ao Engenhão, palco do AVC de Ricardo Gomes em 28/08


Sábado, 12/11/2011 - 18:50

Ao primeiro nome, pelo qual era conhecido como jogador, foi acrescido o Borges para cumprir o protocolo que impõe aos técnicos uma responsabilidade de chefe de família. Homônimo ao grande navegador genovês, à frente de uma tradição portuguesa, poderia ser conhecido também como “Cristóvão da Gama”, o velho marinheiro do samba de Paulinho da Viola. Homem do futebol e da música, o técnico leva o Vasco devagar diante do nevoeiro e abre as velas do otimismo à medida em que avista o mundo novo. Diante do mar de emoções do futebol, descobriu que as tormentas podem servir de impulso para momentos de prazer. Dois meses e meio depois de Ricardo Gomes deixar o Engenhão agonizante, o Vasco volta ao local para enfrentar o Botafogo amanhã disposto a trasformar dor em festa:

- Vamos encontrar o palco, o lugar e o momento ideais para continurar lhe dando boas noticias que ajudem na recuperação. O Ricardo vai estar vendo o jogo, espero que fique muito feliz — disse Cristóvão, certo de que a vida vem em ondas e que só resta assumir a melhor posição diante delas. - Se lutar contra, estoura na cabeça, mas sabendo tirar proveito, pode te levar longe.

Do alto da capacidade vascaína de crescer diante do perigo, o Engenhão já não pode ser visto como território hostil. Com nome do presidente de honra do Fluminense, (João Havelange), cedido ao Botafogo até 2027, sob o mando de campo do Flamengo na ocasião do acidente vascular encefálico de Ricardo, o estádio ainda espera pela ocupação cruzmaltina. Em 17 jogos ali desde o empate com o Botafogo em 1 a 1 pela Copa do Brasil de 2008, o Vasco soma seis vitórias, oito empates e três derrotas. Em clássicos, são oito empates, duas derrotas e duas vitórias, uma delas por 6 a 0 sobre o Botafogo no Estadual do ano passado. No atual Brasileiro, empatou com Flamengo e Fluminense, mas foi goleado por 4 a 0 dos donos da casa.

No lugar da ânsia de botar o preto no branco, surgem os meio-tons e a cores da serenidade. Num clássico alvinegro, salvo pelo vermelho no coração vascaíno, a experiência do que passou serve para mostrar que o mais importante é o porvir. Depois do pior início da temporada em seus 113 anos, com quatro derrotas seguidas no Estadual, o Vasco trocou o desejo de que aquilo tudo passasse logo pela vontade de o ano seja cada vez mais longo.

- A gente nem parou para pensar em férias. Contando que a Sul-Americana termina em 14 de dezembro, só vamos fazer planos a partir do dia seguinte - disse Diego Souza, para quem o desgaste não vem da quantidade dos jogos mas sim da qualidade dos resultados. - O Prass (goleiro) brinca que quando o ano é bom, pode ter 15 meses.

A começar pela admitida irregularide de Ricardo Gomes em tomar os remédios antes de ter o AVE, o Vasco tem sido pródigo em contrariar certos padrões para criar novas e surpreendentes soluções. Embora o manual do futebol profissional sugira que a disputa de competições simultâneas seja prejudicial ao desempenho, nunca o desgaste trouxe tanta alegria e vitalidade. Falta agora contrariar a suposta vantagem do Botafogo por jogar em casa e evitar o tropeço nos buracos do Engenhão:

- Assustar, nada assusta - disse Cristóvão, certo de que o pior já passou. - O mais difícil no futebol é montar um grupo. Não se trata só de juntar gente, mas de canalizar a força de pessoas tão diferentes para o mesmo lado.

Em sua primeira viagem, o técnico já dá o tom sereno do velho marinheiro de Paulinho da Viola. Antes de Colombo conquistar as Américas, Vasco já usava o acidente de percurso como impulso para as grandes conquistas. De volta ao Engenhão, o espaço da agonia se oferece como porto seguro e templo da primeira missa. Salvo Ricardo, não é preciso citar nomes de outros heróis vascaínos. Estão todos no mesmo barco de Cristóvão da Gama.

Fonte: Globo Online