Manga fala sobre seu início do Vasco, diz que é diferente dos outros e revela que ainda se enrola com o português
Quinta-feira, 01/06/2017 - 08:39
Esqueça caveiras, mulheres, dragões e todas aquelas tatuagens clichês. No braço de Manga Escobar, o desenho mais significativo para o atacante é o de uma carpa. Um peixe simples que nada contra a corrente nos rios. Exatamente como o atacante do Vasco se sente: alguém que busca o diferente para conseguir seu espaço.

- Eu gosto de fazer coisas diferentes dos outros. Para que me encaixar se eu posso me sobressair? Se todo mundo vai para lá, e eu posso ir para cá, eu vou para cá. Não me importa que vá todo mundo para lá.

Manga chegou ao Vasco fazendo sucesso com a torcida. Espontâneo, é simpático e querido no grupo. No último sábado, foi vítima de uma brincadeira de Jean, que disse para o taxista que os levava a São Januário que o atacante precisava chegar cedo para ir ao banheiro. Ainda com dificuldades com o idioma, o colombiano apenas confirmou a história. Depois da repercussão, negou que tenha dito algo. Mas era tarde: virou alvo de zoação dos companheiros.

Da infância em Cali, na Colômbia, à visita ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, Manga contou nesta entrevista de um pouco sobre sua vida. E revelou algo curioso: seu primeiro contato com o Vasco foi assistindo à histórica virada por 4 a 3 sobre o Palmeiras, pela Copa Mercosul. Na época, era uma criança fanática por futebol. Hoje, é atacante do Cruz-Maltino.

Confira:

GloboEsporte.com: É verdade que você tem um ritual antes de entrar em campo? O taxista que te levou para o jogo contra o Fluminense disse isso...

Manga: Não. É mentira. Foi o Jean que falou isso. Eu não falo português, não sei por que ele falou isso. Jean gosta muito de brincar. Ele falou isso, mas eu falei: “Sim, sim, vamos chegar atrasados”, mas não falei nada mais.

Os jogadores pegam muito no seu pé?

Tem muitos. Não só o Jean. Douglas, Gilberto, Gabriel, agora está muito melhor o ambiente no Vasco. Eles tiram muita foto. Temos um grupo no WhatsApp, então todo dia tiram fotos, vídeos de comédias. Compartilham muitas coisas. Por exemplo, Jean vê uma pessoa caminhando e tira foto e envia no grupo. Sim (sou o principal alvo deles). Todo mundo no Vasco gosta de mim, mas eu gosto deles também, porque eu sou um cara bom, puro. Sou muito feliz aqui.

Você lida bem com essas brincadeiras. Vimos o vídeo de você dançando na preleção.

Eu tinha que dançar porque era meu primeiro jogo no Brasileiro. Todo jogador que tem primeiro jogo tem que dançar. Ficou bom, né (risos)? É fácil para mim. Para outros, não. Para o Bruno Cosendey é muito difícil, para o Mateus (Vital), porque eles são tímidos. Eu não. Para mim, é fácil. Jean não vi ainda, mas acho que sim. Ele tem qualidade.

Que dança foi aquela? Algum ritmo colombiano?

Eu dancei como Michael Jackson, como Thriller. Lembra?

Que tipo de música você gosta?

Reggaeton, salsa. Agora estou gostando da música brasileira. Não lembro agora, mas tem muitas. Eu gosto de funk. Parece com o reggaeton. Eles colocam muito funk no vestiário antes do jogo. Não sei cantar, só dançar.

Já conheceu algum ponto turístico no Rio de Janeiro?

Fui ao Cristo. Muito bom. Nunca tinha ido. Minha mulher e meu filho queriam ir, e eu estava dormindo, disse: “Ai, caramba”. Fomos, e foi muito bom. Tinha pouca gente. Gostei da vista, vi o Maracanã, tinha torcedores do Vasco lá. Alguns me reconheceram. Tirei duas ou três fotos, com o cara da segurança.

Você ainda tem dificuldade com o idioma?

Sim, está difícil. Porque eu achava que como há certa igualdade com o espanhol... Mas não, é muito mais difícil o português. Ainda mais eles que falam muito rápido, porque moram na favela. Eu não entendo nada quando fala, por exemplo, o Gabriel (Félix, goleiro). O Alan fala, não entendo nada. Mas quando fala o Bruno Gallo, entendo.

Como foi sua infância na Colômbia?

Foi boa. Passei dificuldades, como todos, mas não muita. Sempre tive comida, coisas normais. Queria ter mais, mas não dava. Tinha meus pais, meus irmãos. Graças a Deus agora estou melhor. Sempre jogava futebol, não gostava de mais nada. Na escola, só futebol. Era capitão. Antes era atacante como Luis Fabiano, jogava na área, depois quando iniciei na base do Deportivo Cali me colocaram pelos lados. Fiz toda a minha base no Deportivo Cali até a estreia, aos 18 anos. Depois fui ao Dinamo de Kiev, fiquei um ano. Depois voltei para o Deportivo Cali, depois Evian (França), Dallas (EUA), Atletico Nacional, Millonarios, agora Vasco.

Por que tantas mudanças?

Não sei. Queria ficar num lugar só por mim, por minha família. Porque a cada ano estar em times diferentes é muito difícil. Mas agora acho que vou ficar aqui no Vasco. Acho que sim.

Em qual país teve mais dificuldade?

Ucrânia. Sem dúvida. Quando cheguei lá tinha 19 anos. Lá falam russo. Não entendia nada, nem falavam inglês. Quando cheguei estava inverno, sozinho, não jogava. Foi muito difícil. Do clube não tive muita ajuda, porque eu não jogava, então... Mas havia jogadores brasileiros, que me ajudaram muito, como Betão, Leandro Almeida, Correa, Dudu, Danilo. Eles me ajudaram muito, ficou mais fácil. Mas ainda foi difícil para mim.

Você tem um estilo diferente, como você se caracteriza? Acha que se veste bem?

Sim, me visto muito bem. Quando você sai na rua, todos querem ver como você se veste. Gosto de me vestir como os artistas, os reggaetoneros. Me inspiro neles. Se vestem muito bem. Minha esposa também gosta que eu me vista bem, tenho que agradá-la.

Suas tatuagens têm alguma história?

Umas, sim, outras, não. Esta se chama pez koi (carpa em português), é um peixe, o único que nada contra a corrente. Tem muita força. É diferente. Gostei muito. Essa do relógio relógio significa o tempo. Para mim, o tempo vale muito, vale ouro. Não há tempo para perder tempo, entende?

Você se acha um cara que nada contra a corrente?

Gosto de fazer coisas diferentes dos outros. Para que se encaixar se posso me sobressair? Se todo mundo vai para lá, e eu posso ir para cá, eu vou para cá, não me importa que todo mundo vá para lá.

Aqui em São Januário tem a estátua do Romário. Você é parecido com ele...

Não! A altura, sim. Mas parecido não. Nada. Eu não tenho comparação. Jamais. Ele fez mil gols, eu só tenho um. Mas, sim, é uma inspiração. Vi muitos vídeos dele. Vi um dele quando jogava no Barcelona, que dominou a bola e tinha zagueiros do Real Madrid, e girou. Caramba! Fenômeno. Algum dia, eu quero fazer um gol assim como ele. Eu jogava com o 11 na Colômbia. Mas aqui não tem número fixo. Quando tenho a possibilidade de jogar de titular vou pedir a 11.

Qual seu jogador favorito de todos os tempos?

Ronaldo Fenômeno. Porque era um fenômeno. Sem dúvida.

E na folga, o que gosta de fazer?

Minha esposa gosta de viajar, eu não. Eu quero ir para Cali. Fico meus amigos, jogo videogame, vou comer, à praia. Cali não tem praia, mas tem rios. Não gosto de pescar. Não tenho paciência. Ficar ali quinze minutos... É muito tempo. Fazemos comida.

Qual seu prato predileto?

Arroz, feijão, ovo, banana frita, em Colômbia se chama bandeja paisa. Aqui não consigo restaurante colombiano. Não cozinho, minha esposa faz tudo. Só sei fazer arroz e fritar um ovo. Comia sempre em restaurantes na Ucrânia, porque não dava para cozinhar, não conhecia ninguém. Sempre comia fora.

Você mencionou que tem problemas com o idioma. Qual a palavra mais difícil para você?

Ganhar. Quando ganha o jogo. Ga-nhar. Não consigo falar. É muito difícil. Porque em espanhol é ganar. E em português, ga-nhar.

E a que você mais gosta?

Parabéns. Porque cantam nos aniversários. É muito boa a canção.

Já recebeu muitos parabéns aqui?

Agora, sim. No começo, não. Agora, sim. Estou muito feliz no Vasco, no Rio. Esperamos conseguir muitas coisas juntos. Não sabia que tinha tanta torcida no Vasco. Me surpreendi. Porque na Colômbia há torcida, mas o cara que pula so fica de um lado. Eles ficam aqui, lá, ali, pulando. Entende? Nunca tinha visto algo assim.

O que você conhecia do futebol brasileiro antes de vir para cá?

Conhecia tudo do futebol brasileiro. Eu era fanático. Porque na Colômbia havia um canal de televisão que passava todos os jogos do Brasil. Eu lembro do São Caetano. Lembro de um jogo do Vasco perdendo por 3 a 0 e depois virou com Romário. Vi na televisão. Era pequeno, mas via futebol todo dia. Minha mãe me perguntava se eu não me cansava de ver. Eu dizia que não, porque não vejo correndo, vejo sentado. Não me canso (risos).

E hoje você é jogador do Vasco. Te surpreendeu?

Nunca imaginei. Quando meu agente falou para mim que tinha opção de ir para o Vasco, disse que sim, queria ir. Me disse que também tinha opções em times pequenos na Europa, e eu disse que queria ir para o Brasil, para o Vasco. Primeiro falou que tinha chance no Bahia, e disse que sim, porque queria ir para o Brasil, mas depois o negócio se quebrou. Depois, falou que tinha possibilidade no Vasco, e pedi a Deus, porque não pude ir ao Bahia, então queria ir ao Vasco.

Foi uma opção contra a corrente.

Sim. Tinha contratos melhroes na Europa, mas eu tinha muita vontade de jogar no Vasco, porque o Brasil é um país que respira futebol. Sempre disse que meu jogo é para o futebol brasileiro. Meu futebol é para o Brasil. Gosto de tudo no Brasil. Para mim, é o melhor futebol da América do Sul. Quando eu morava na Ucrânia havia uma novela, chamada Amor Eterno Amor, de 2012. Eu via. Não entendia nada. Mas gostava de como falavam e tudo. Gosto muito do Brasil.





Fonte: GloboEsporte.com