Jorginho falou em entrevista na manhã desta segunda-feira sobre a emoção do título

Segunda-feira, 09/05/2016 - 13:50
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A casa de Jorginho, na Zona Oeste do Rio, teve a manhã de segunda-feira movimentada. No dia seguinte à conquista do título do Campeonato Carioca, o treinador do Vasco recebeu jornalistas para um café da manhã servido à beira da piscina. Foi difícil para ele comer. As inúmeras entrevistas desde a noite de domingo e os assuntos sobre a campanha invicta, a recuperação do time e seu trabalho no comando da equipe o fizeram falar sem parar. Falar, falar e falar. Entre sorrisos e até voz embargada ao elogiar o comandante adversário e amigo pessoal Ricardo Gomes, Jorginho comemorou mais uma vez sua primeira taça como técnico no Brasil.

Jorginho estava cansado, mas de bom humor. Pouco depois do café com a apresentadora Fernanda Gentil e o GloboEsporte.com, o técnico teve compromisso na CBF - o encontro dos técnicos. A esposa Cristina não desceu a tempo. Os dois foram dormir tarde neste domingo. O técnico até brincou que ela queria conhecer a apresentadora Fernanda Gentil durante o café, mas não conseguiu. A casa estava mais movimentada do que o normal, já que duas de suas filhas, que não moram mais com os pais, acompanharam o pai na festa do título na noite anterior e ficaram para o dia seguinte. São quatro filhos: Laryssa, Vanessa, Daniel e Isabelly. E também três cachorros: Bacon, Nina (por causa da personagem de Avenida Brasil) e Jonny (por causa do desenho Jonny Quest).

Ao falar sobre a emoção do título, comparou o sentimento a uma Copa do Mundo. E lembrou que as duas últimas semanas foram difíceis, referindo-se ao interesse do Cruzeiro em sua contratação.

- Vou ser sincero, é sentimento de Copa do Mundo. Eu me senti ontem como se estivesse sendo campeão do mundo. Foi uma alegria tão grande. Eu não tinha provado isso. Venho buscando isso já há algum tempo. Foram duas semanas bem difíceis, com algumas decisões importantes a serem tomadas. Então foi muito especial - disse Jorginho.

O treinador disse que, ao deitar a cabeça no travesseiro, depois da comemoração de domingo, passou um filme em sua cabeça - desde a derrota sofrida por 6 a 0 contra o Internacional até o título.

- Quando eu tomei de seis do Internacional foi um dos momentos mais tristes da minha vida. Vi algumas cenas no vestiário, que infelizmente eu não posso relatar, que me entristeceram muito. E eu precisei agir como treinador e líder. Eu entrei no meio da roda, não vou falar o que aconteceu antes, mas eu entrei e falei: "A partir de hoje o nosso vestiário vai ser o melhor, e essa equipe vai resgatar a honra de jogar no Vasco da Gama". E foi o que aconteceu.

Confira toda a conversa com Jorginho na manhã desta segunda-feira:

Importância da família

- É fundamental. É a base, porque a gente não vive só dessas glórias. Momentos como esse que passamos ontem são bem curtos em relação aos momentos de luta, de trabalho. Precisamos de compreensão. Às vezes eu chego em casa e não posso dar uma atenção necessário para a família, porque eu preciso estar estudando. A compreensão é fundamental. E esse carinho, apoio. Existem momentos de luta, de dificuldade. Como aconteceu de tomar decisões importantes. É importante ouvir minha família, minha esposa. É fundamental que tomemos a decisão sem nenhuma discordância. Claro que há momentos que eu, como líder do meu lar, tenho que tomar uma decisão. Mas tento fazer aquilo que vai beneficiar minha família.

Sensação de dever cumprido

- Vou ser sincero, é sentimento de Copa do Mundo. Eu me senti ontem como se estivesse sendo campeão do mundo. Foi uma alegria tão grande. Eu não tinha provado isso. Venho buscando isso já há algum tempo. Tive poucos trabalhos que eu iniciei, que foi o caso do America. Batemos na trave, perdemos para o Botafogo na final da Taça Guanabara, bati na trave com a Ponte Preta na Sul-Americana... Ontem foi assim. Foram duas semanas bem difíceis, com algumas decisões importantes a serem tomadas. Então foi especial.

Copa do Brasil

- Desde que continuemos bem entrosados em todas as áreas, a parte técnica, física. O Alex Evangelista chega e fala: "Jorge, eu preciso que você segure o Rodrigo". E o Rodrigo não quer parar, mas temos que pará-lo, por exemplo. Esse relacionamento é fundamental que aconteça. Eu faço para o Rodrigo: "Nem sempre você precisa fazer o que os outros jogadores fazem, você tem 35 anos. Se quiser chegar aos 40 que nem o Zé Roberto, tem que segurar algumas coisas". Eu tenho falado com a diretoria de nós fazermos algumas contratações pontuais, com idade média, de 25, 27 anos. Para que possamos em algum momento rejuvenescer essa equipe, porque vamos precisar.

Setores específicos para contratações

- Tenho, mas não posso divulgar. Estudamos nomes, estamos tratando disso. Já vi vários vídeos de jogos de jogadores, alguns jogadores que já trabalharam comigo, que eu tenho um conhecimento legal de como é esse atleta, até mesmo como pessoa, como profissional. Mas deixamos para tratar na hora certa, para não acontecer errado. De repente pode vazar alguma coisa, pode ser que um jogador fique: "Ah, mas por que da minha posição?". Até porque podemos perder um jogador ou outro.

Jogadores em fim de contrato

- Temos três jogadores. Diguinho é uma situação mais confortável, não vem jogando como titular, teve uma contusão, o Caprres identificou qual era o problema dele e tratou. Hoje ele está bom e é fundamental para nós. Jogador que está acostumado com decisão. Temos a situação do Rafael Vaz, que não sabemos como será. Até agora não houve uma aproximação, pelo o que ficamos sabendo. O desejo da comissão técnica é que ele permaneça, mas a gente sabe que há uma série de coisas que não temos como decidir. Assim como o Riascos, que não pertence ao Vasco. O Vaz já está três anos no Vasco. Está mais livre. Isso talvez possa ser resolvido, é o que esperamos.

Grupo especial do Vasco

- O grupo aprendeu a lidar com as diferenças, com a situação da vaidade. O quanto é importante colocar todo o seu potencial em prol do grupo, pensando no Nenê, por exemplo. Muito respeito entre todos. A gente vem trabalhando e construindo isso desde o ano passado. Eu fui um jogador de altíssimo rendimento. Meu caso e do Zinho. Aprendemos a lidar com essas situações. Essas vaidades não levam em nada. Quando acontece de um jogador nosso não ir cumprimentar o companheiro que está entrando ou saindo é chamado a atenção. O próprio grupo cobra.

Filme passando na cabeça antes de dormir

- Quando eu tomei de seis do Internacional foi um dos momentos mais tristes da minha vida. Vi algumas cenas no vestiário, que infelizmente eu não posso relatar, que me entristeceram muito. E eu precisei agir como treinador e líder. Eu entrei no meio da roda, não vou falar o que aconteceu antes, mas eu entrei e falei: "A partir de hoje o nosso vestiário vai ser o melhor, e essa equipe vai resgatar a honra de jogar no Vasco da Gama". Existem momentos que temos que bater a mão na mesa e falar a verdade para eles. Tirar toda a vaidade de lado. Não importa se cheguei depois. Se eu assumi como treinador, a responsabilidade é minha. Eu tive a oportunidade de sair. Não conseguimos reverter aquela situação, mas chegamos perto. E isso trouxe uma força muito grande.

Zinho

- Na realidade, a gente nem olhou muito um para o outro quando acabou o jogo. Isso nos faz muito feliz, de saber que estamos desenvolvendo um trabalho com muita paixão, com o apoio da diretoria, dos torcedores. Não temos essa adrenalina, essa alegria a todo momento. É muito bom estar com o Zinho do meu lado. É um cara especial. Nossos filhos são muito amigos. Meu filho toca e canta com a filha dele. É muito bom contar com ele. Muito do que conquistamos no Vasco eu devo à presença do Zinho ao meu lado.

Ricardo Gomes

- O Ricardo era capitão do nosso time de 1994. Então, com certeza se ele conquistasse esse título seria merecedor porque o Botafogo fez por onde, mereceu estar na final. Se o Vasco mereceu um pouquinho mais, foi porque era o único time invicto. Em termos de qualidade, o Ricardo teve uma mudança muito grande de vários jogadores. Ele sabe muito bem o que fazer. Essa admiração minha pelo Ricardo é grande porque ele é muito homem, é um cara muito humano, muito parceiro. E é claro que fica aquele sentimento de maior amor e carinho por ele, porque quase o perdemos. Seria realmente difícil perder um irmão, um amigo. Eu fiquei triste ontem porque eu não o encontrei mais. Não nos vimos mais. Queria ter dado um abraço nele. Eu fico mais feliz por vê-lo vivo, sendo meu adversário na beira do campo.



Fonte: GloboEsporte.com