Confira íntegra da entrevista coletiva de Jorginho após o título estadual

Domingo, 08/05/2016 - 20:51
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Com o empate por 1 a 1 com o Botafogo, o técnico Jorginho, peça crucial para a reconstrução cruz-maltina, conquistou seu primeiro título dentro do futebol nacional. Com a voz bastante embargada, fez uma série de agradecimentos, mas a mais marcante foi em relação a Eurico Miranda, que, em sua visão, o bancou num momento de dificuldade.

- Quero agradecer a esse grupo por entender nossa metodologia, comprar nossa ideia. Quero agradecer à minha comissão, ao Capres. Quero agradecer ao meu presidente, que confiou em mim e me manteve mesmo depois de eu perder quatro partidas. Ele é uma das razões para eu ficar aqui.

Jorginho também fez questão, momentos após o Vasco se sagrar bicampeão carioca, explicar por que preferiu permanecer no clube em vez de assumir o Cruzeiro.

- Tenho muito respeito pelo Cruzeiro, uma das grandes equipes do futebol brasileiro, mas tenho certeza que essa foi a decisão correta. Eu estaria pegando um trabalho para recomeçar, mas as coisas estão caminhando bem aqui. Eu entendo que o Vasco tem que se reforçar com contratações pontuais para que a gente sonhe com a Copa do Brasil e faça uma boa Série B. Então estou muito feliz de ficar no Rio, na minha casa e no Vasco.

Terminada a explicação, Jorginho tratou de dividir a conquista com Doriva, técnico campeão carioca no ano passado. Também disse ter o objetivo de ter projeção semelhante a de Muricy Ramalho, treinador do Flamengo.

- Significa muita coisa, mas quero lembrar as palavras do Doriva. "Parabéns, meu irmão!" Você faz parte disso. Estou muito feliz nesse momento, espero que seja o primeiro de muitos. Se eu conquistar a metade do que o Muricy já conquistou, estou muito feliz.

Elogios a Ricardo Gomes

- Eu queria parabenizar o Ricardo Gomes pelo excelente trabalho que realizou e desejar sucesso. É um grande amigo. Feliz de vê-lo recuperado, trabalhando. Depois do jogo ficou uma doideira e eu não o vi. Mas é um campeão também. Fizemos uma final digna, de grandes clubes.

A satisfação de ser campeão

- Estou muito feliz e grato a Deus por viver essa emoção, ainda mais na minha cidade, país...de forma invicta. A concretização de um trabalho feito com seriedade, começando no olho do furacão. Os jogadores são a razão da conquista, são os protagonistas. Entenderam a metodologia e recuperaram a confiança no grupo. Coroamos com esse empate um trabalho que começou no dia 17 de agosto.

"Eu estava batendo na trave"

- Ficamos apreensivos. Dorme-se pouco. Vivi isso como jogador, mas a responsabilidade como treinador é outra. Eu estava batendo na trave com alguns trabalhos, como na vez pelo América, contra o Botafogo. Essas coisas vêm na cabeça. Hoje levamos o gol, mas tínhamos convicção. Nossos jogadores deram a resposta rápida. Minha maior satisfação é ver os atletas realizando aquilo que nós trabalhamos. Sabíamos da dificuldade que seria na saída de bola deles. No primeiro jogo nós não encaixamos. Aí conseguimos tirar a possibilidade de construção de jogadas do Botafogo. É uma alegria. Não é um título nacional, mas, pela forma que foi, acho que ficará marcado na história. Simplicidade e humildade. Foi muito bom. O Vasco virou chacota (com a queda para Série B), mas recuperamos a honra do time, do clube. Trabalhamos constantemente.

Necessidade de reforços

- Nós temos algumas conversas internas sobre algumas possibilidades. Sabemos o que pensamos em alcançar. São contratações pontuais. Não vamos falar em nomes. Mas vamos trabalhar isso nesta viagem que faremos agora. O mais importante é manter os jogadores que vão terminar o contrato, como o Rafael Vaz, um jogador que decidiu. Diguinho, Riascos... são jogadores que queremos contar, mas cada contrato tem sua particularidade.

Mudanças durante a partida

- Precisávamos de um empate, como aconteceu. Sabemos quanto o Julio tem sido importante na parte tática, mas não é agressivo ofensivamente. Time do Botafogo é alto, forte na bola parada. Tínhamos que ter cuidado. Ao mesmo tempo, precisávamos arriscar. Yago é aquele jogador que bate de fora, aparece do nada pelo lado esquerdo. Quando fizemos o gol, tive que frear um pouco. Esperamos o momento certo.

Parceria com Zinho

- Tem gente que fica preocupado... Existe um só comando. O Zinho é um cara fantástico, coloca as coisas que está vendo. Sei que a decisão é minha, mas a bom ter alguém do meu lado que é extremamente capaz. Sou privilegiado porque ele já trabalhou como coordenador de futebol. Me preocupo com trabalho de campo. O Isaías (Tinoco) também tem feito um excelente trabalho, está sempre ligado. Brincamos que ele é chato. Mas o Zinho é meu irmão, um grande prazer tê-lo como meu auxiliar. Há pouco tempo (quando estava no Flamengo) ele queria me levar para trabalhar no nosso maior rival, o Flamengo. Ele seria acima de mim. Mas sou democrático. Em alguns momentos sou voto vencido. Temos o Valdir também, o Cléber, o pessoal do Caprees, da assessoria de imprensa...

Sintonia com os jogadores

- Por nós termos sido atletas de alto rendimento, termos jogado em grandes clubes, termos sido campeões mundiais, eles respeitam o que falamos. É um motivo de gratidão para mim. Alguns momentos preciso ser duro, e eles entendem. É muito bom ver como absorvem. O Nenê se destacou tecnicamente, mas não existe ciúme dos outros. Sabem o quando são importantes. A minha linha de quatro no meio é uma das melhores do Brasil. Unidos somos mais fortes.

Jorginho racional

- Eu poderia estar emocionado por uma conquista marcante, mas acalmei, tomei um banho gostoso. Frio... não consegui esquentar a água. Às vezes falam que o Jorginho é muito religioso... mas é gratidão. Se a gente tivesse perdido, estaria parabenizando o Ricardo Gomes e sendo grato pelo trabalho que temos feito, com respeito. Essa humildade é uma coisa marcante entre nós. Essa conquista é da humildade e da simplicidade. Não somos uma equipe maravilhosa. Temos um jogador do nível do Nenê, mas não jogamos maravilhosamente bem. Mas fizemos sim um grande campeonato, trabalhamos em cima das nossas deficiências. Por exemplo, nosso lado esquerdo foi forte sempre, principalmente defensivamente. Andrezinho, Jorge, Julio, Rodrigo... muita experiência. Do outro lado, tínhamos dificuldade. Nós entendemos que era necessário o sacrifício. Isso foi uma das minhas maiores alegrias.

Próximos passos

- Vamos festejar muito hoje. Amanhã tem folga, mas terça-feira já volta o foco. Estamos atentos. Não podemos achar que jogadores com 17 anos vão resolver. Precisamos qualificar o plantel. As viagens são prejudiciais. Temos que ter cuidado. Já vamos contar com a boa vontade do nosso presidente com alguns voos fretados. Não vai ser fácil a Série B. Não vamos ganhar com os pés nas costas. O primeiro jogo já será muito difícil.

Diferença de ser campeão como jogador e treinador

- Tem diferença. Eu já estou pensando no CRB, que ainda não vi nada. Já tenho compromisso na CBF nesta segunda. Os jogadores vão celebrar e acordar tarde. Mas é uma satisfação grande, mas um pouco mais racional. Sendo dentro da nossa cidade, é diferente, e também no Maracanã.

Riascos

- Mais um dos motivos de alegria. Não desistimos dele. Alguns momentos a torcida pega no pé e o jogador se deixa levar por esse lado emocional. Em campo não consegue boa atuação. Poupamos um pouco nos jogos no Maracanã e São Januário. Levantamos ele aos poucos. Conversamos olho no olho, dissemos que ele mudaria esse placar. É forte, imprevisível nos dribles... foi ganhando confiança. Será maravilhoso se ele permanecer.

Rafael Vaz

- É uma conquista do grupo, do time, mas é muito legal o que aconteceu no vestiário. O Luan ainda não tinha certeza de que sairia. Fez um teste. Vaz aqueceu e estava amarrando a chuteira. Eu disse: "Não pensava em te colocar porque a defesa estava bem. Deus te separou este momento. Vai lá e decide o jogo". Eu tenho cinco zagueiros, e posso fechar o olho e colocar qualquer um, até o Aislan, que não veio para o jogo.

Torcida do Vasco

- Ao nosso torcedor, tenho muita gratidão. Entenderam que eles fazem a grande diferença. Fizeram ano passado. O que agrediu o Rodrigo não é o verdadeiro. É o que o que lutou, sofreu. Estes torcedores merecem essa alegria hoje. A gente acaba jogando junto. A torcida deu um grande show, é completamente apaixonada.

Fonte: GloboEsporte.com