Conheça as semelhanças e diferenças entre Doriva e René Simões, treinadores finalistas do Estadual

Quarta-feira, 22/04/2015 - 09:06
comentário(s)

A final do Campeonato Carioca põe frente a frente dois técnicos fora do pelotão dos "medalhões" do futebol brasileiro. Se por um lado o experiente René Simões, que já foi de tudo um pouco no esporte em mais de 30 anos de carreira, chega "reinventado" à final com o desacreditado Botafogo, o promissor Doriva faz pelo Vasco sua segunda final estadual consecutiva, após se sagrar campeão paulista com o Ituano em 2014.

Estreantes na decisão do estadual mais charmoso do Brasil, René Simões e Doriva tem caminhos distintos no futebol. Em comum, o fato de serem estudiosos do esporte. O experiente treinador do Botafogo demorou a aparecer no cenário mundial, enquanto o promissor técnico do Vasco se sagrou campeão em seu primeiro trabalho.

Na passagem mais marcante onde se encontraram, Doriva era o "xodó" de Zagallo na seleção brasileira. Volante de força e obediência tática, além de técnica subestimada, o então titular absoluto e referência do meio de campo do Porto era bastante contestado no grupo que se preparava para a Copa do Mundo. Sob a sombra de Djalminha e do amigo Juninho Paulista, à época vivendo grande fase em seus respectivos clubes, o aplicado cão de guarda acabou indo para o Mundial, onde atuou poucos minutos na goleada sobre o Marrocos, por 3 a 0. Antes disso, jogou bastante no amistoso entre Brasil e Jamaica, comandado à época por René Simões, que fazia história com os Reggae Boyz.

Ídolo na Jamaica, René foi condecorado pela FIFA por trabalho com 'Reggae Boyz'

René Simões largou a carreira de jogador na base após passagens por Bonsucesso, São Cristóvão e Flamengo para se formar em Educação Física pela Universidade Federal do Rio e Janeiro (UFRJ). Em outros tempos, treinou pela primeira vez uma equipe semi-amadora, o Clube Ginástico do Rio de Janeiro, em 1973.

Apesar das passagens por Fluminense e seleção brasileira nas divisões de base no começo de sua carreira, foi com a seleção da Jamaica que o treinador apareceu para o mundo do futebol. Levou a seleção caribenha a classificação nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1998, pela primeira vez na história do país.

O trabalho rendeu uma condecoração da FIFA como o técnico que mais evoluiu um time no mundo, em 1996. Ameaçado de morte no país, o treinador não titubeou ao bancar a não convocação de Walter Boyd, o "Pelé" jamaicano. Ao assumir, o treinador viajou pela Inglaterra e descobriu seis jogadores com ascendência jamaicana, que reforçaram a seleção em sua saga nas eliminatórias, como Deon Burton, atacante do Derby County que marcou quatro gols em cinco jogos e ganhou o apelido de "Ronaldo Junior" no país. Além disso, criou o projeto "Adote um jogador", trazendo investimentos de grandes empresas para jogadores que não viviam do futebol, como o meia Whitmore, que era barman.

E René, além de tudo, é um profissional do futebol. Já atuou como preparador físico, foi superintendente do Flamengo em 2000, diretor técnico das categorias de base no São Paulo em 2012, e diretor executivo no adversário da final, o Vasco, em 2013, quando não fez bom trabalho e teve passagem marcada pela briga com o meia Felipe. Ao fim do ano, o Cruz-Maltino acabou rebaixado para a Série B.

O andarilho da bola alternou em toda a carreira cargos administrativos, nas divisões de base e como técnico. A frase mais famosa do treinador, entretanto, não se mostrou acertada anos depois. Em 2010, o craque Neymar discutiu com o técnico Dorival Junior, que ordenou que o atacante Marcel cobrasse pênalti sobre o Atlético-GO, treinado à época por René Simões. Após o jogo, o técnico se disse estupefato.

"Estamos criando um monstro no futebol brasileiro", declarou.

Se René já publicou livros sobre suas histórias no mundo do esporte bretão, como sua marcante passagem pela seleção brasileira feminina que culminou com a conquista da medalha de prata nas Olimpíadas de Atenas, em 2004 e a Odisséia Coxa-Branca, na volta para a Série A após três anos, em 2007, além de trabalhar em 10 países em diferentes cargos, Doriva não ficou para trás.

Descoberta de arritmia abreviou planos de Doriva como treinador

Após ser obrigado a pendurar as chuteiras em 2008, quando descobriu uma arritmia cardíaca quando se preparava para disputar o Paulistão pelo Mirassol, o ex-volante, que disputou a Copa do Mundo de 1998 pela seleção brasileira, se preparou como poucos para a carreira de treinador, fazendo cursos de formação e estágios com outros treinadores. Aos poucos, acumulava cargos no Ituano, cuidando da coordenação das categorias de base da equipe e sendo auxiliar técnico do time principal.

Com muitos títulos na carreira de jogador, como a Libertadores, Recopa, Supercopa Libertadores e Mundial Interclubes em 1993 pelo São Paulo, dois Campeonatos Portugueses e uma Taça de Portugal pelo Porto em 1998 e 1999 e até uma Copa da Liga Inglesa pelo pequeno Middelsbrough, em 2004, a trajetória vencedora de Doriva como treinador também começou logo cedo, assumindo interinamente a equipe de Itu, ameaçada de rebaixamento em 2009. Precisando vencer as duas últimas partidas para escapar do descenso, o time comandado pelo auxiliar virou a primeira sobre o Paulista, em Jundiaí, por 3 a 2 e na derradeira rodada, triunfou com gol no último minuto sobre o gigante Palmeiras, por 2 a 1.

Cinco anos depois, em 2014, deixou o Corinthians fora da segunda fase e eliminou São Paulo, Palmeiras e Santos na fase decisiva para levar o Ituano a conquistar pela primeira vez o Campeonato Paulista. Foi a primeira vez, também, que um clube sem divisão no futebol brasileiro venceu o Estadual mais forte do país.

Depois de breve passagem no Atlético-PR, o jovem treinador de 42 anos recebeu a chance de dirigir o gigante Vasco da Gama, e não decepcionou. Se o começo foi claudicante, na segunda fase Doriva levoou o Gigante da Colina a quebrar um tabu de três anos e 11 jogos sem vencer o arquirrival Flamengo, para delírio do presidente Eurico Miranda, que declarou em sua volta que "Flamengo e Vasco é um campeonato à parte".

Agora rivais na decisão, René e Doriva tem desafios parecidos. Comandando os "renegados" pela crítica, os dois chegam com moral para a final. Ambos descartam qualquer favoritismo. O experiente ou o jovem promissor se sagrará campeão após o segundo jogo da final, com a certeza de que surpreenderam às expectativas.

Fonte: ESPN.com.br