Ângela Diniz, criadora do projeto Enquanto Houver um Coração Infantil, fala sobre a iniciativa

Terça-feira, 25/11/2014 - 19:29
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Há três anos, um pedido inusitado pegou a vascaína Ângela Diniz de surpresa. Sua sobrinha, filha de um flamenguista fanático, chegou para ela e pediu uma camisa do arquirrival do Rubro-Negro de presente. Ângela decidiu realizar o desejo da criança, mas com uma condição: ela teria que ser aprovada na escola. Deu certo. Empolgada, a sobrinha Maria Luíza começou a estudar ainda mais, tirou notas boas e ao fim do ano ganhou de presente a tão cobiçada camisa do Vasco da Gama. Meio por acaso, assim, Ângela percebeu que poderia unir sua paixão pelo Vasco e seu desejo de ver nascer cada vez mais torcedores do clube, com o combate à evasão escolar e o incentivo aos estudos. E em pouco tempo, a brincadeira virou o projeto "Enquanto Houver um Coração Infantil", que só agora no início de 2014 premiou 58 crianças da rede de ensino secundarista da cidade de Taperoá (interior da Paraíba, onde ela mora) aprovadas com boas notas no ano letivo de 2013.

A coisa deu tão certo que o projeto hoje conta inclusive com o aval do clube cruz-maltino, que soube da iniciativa, gostou do que viu, e atualmente participa doando brindes para serem distribuídos entre os estudantes que tiverem um bom desempeno escolar no ano letivo. Tem mais: a loja oficial do Vasco, Gigante da Colina, e a fornecedora de material esportivo do clube são duas outras entidades que também abraçaram a causa.

No início, depois da boa experiência com a sobrinha, a ideia era atender um novo jovem por ano. E foi assim que ela repetiu a dose no ano seguinte com um outro estudante, que também melhorou seu desempenho escolar depois que se viu com chances de ganhar uma camisa oficial do Vasco da Gama. Foi quando ela percebeu que queria e poderia fazer ainda mais. E assim foi atrás do Vasco da Gama.

Torcedora conhecida nos corredores de São Januário, Ângela entrou em contato com o clube para apresentar seu projeto e transformá-lo em algo mais abrangente. Depois de uma tentativa frustrada de chegar à cúpula cruz-maltina, ela resolveu traçar uma outra estratégia. E a figura principal para chegar à diretoria do Vasco foi escolhida: o meia Juninho Pernambucano. Segundo a idealizadora do projeto, o Reizinho tem tudo a ver com a ideia.

- Ele é um exemplo de profissional, de atleta. É nordestino. Tem tudo a ver com o nosso projeto – revelou Ângela.

De acordo com Ângela, após uma reunião com o meia as coisas ficaram mais fáceis. O jogador levou a ideia ao clube e desta forma a diretoria vascaína passou a conhecer melhor o projeto e resolveu ajudar. O “Enquanto Houver um Coração Infantil” atende um número ilimitado de crianças e adolescentes do sistema de ensino da cidade de Taperoá. E para participar do programa, os estudantes precisam apenas se inscrever junto com os voluntários que moram na cidade. Dos 60 inscritos em 2013, apenas dois não conseguiram ser aprovados na escola.

O prêmio para eles foi mais diversificado. Cada criança recebeu uma mochila do Vasco com itens como caderno, lápis e borracha personalizados do time. Além de uma camisa do Vasco da Gama, garrafa de água do clube cruz-maltino e o livro “Meu Pequeno Vascaíno”, de Fernanda Abreu. Os kits e as camisas foram recebidos através de doações de torcedores interessados em ajudar o projeto, enquanto que as garrafinhas e os livros foram doados pelo Vasco da Gama. A loja oficial do clube e a fornecedora de material esportivo personalizam as camisas com os nomes dos estudantes aprovados.

De acordo com Ângela, o principal objetivo do projeto é usar a influência do Vasco para melhorar o desempenho escolar das crianças, além de atrair novos torcedores.

- Todos sabemos que o futebol tem muita influência nas crianças. Elas sempre querem copiar o que os jogadores fazem. Então por que não usar isso de uma maneira positiva? Este é o nosso principal objetivo. E com isso nós acabamos conquistando mais torcedores – disse.

Para o vice-presidente do Departamento Infanto-Juvenil e Responsabilidade Social do Vasco da Gama, Tadeu Correia, o projeto é de extrema importância. Segundo ele, além do fato de incentivar as crianças a estudarem, acaba afastando-as da violência urbana e cria um futuro de oportunidades para elas.

- O projeto foi todo idealizado por ela, Ângela. E nós abraçamos a causa, claro. A ideia agora é ampliá-lo. Ainda está muito pequeno. Nossa vontade é de espalhá-lo para outros cantos do país. E com isso termos um retorno ainda maior. Ainda não podemos mensurar o que este projeto trás para nós, porque ainda não foi feito um estudo sobre isso, mas é claro que quanto maior ele ficar, maior será o retorno para o clube – disse Tadeu.

E se o Vasco pensa em ampliar o projeto, Ângela aponta uma outra cidade paraibana como possível nova beneficiada.

- Vamos nos reunir ainda este ano para traçar mais algumas estratégias para o projeto. Inclusive sobre a possibilidade de levá-los para outros locais. Patos (interior da Paraíba) pode ser um destes locais. No evento que houve em Taperoá, alguns representantes de Patos foram lá para conversar. Mas ainda não tivemos tempo de sentar e resolver isto. Nesta reunião vamos tentar definir tudo – revelou.

No evento deste ano, inclusive, o Vasco enviou à cidade a psicopedagoga Kátia Magalhães, para uma atividade educacional em que as crianças e adolescentes, juntos, produziram a “Cartilha da Paz”.

A ideia era simples, mas com um objetivo claro: mostrar que a torcida do Vasco não é aquela que protagonizou cenas de barbárie no jogo entre o clube e o Atlético-PR, na Arena Joinville, válido pela última rodada do Brasileirão 2013, e sim uma nação muito mais pacífica e apaixonada. Com isto, eles já começaram a trabalhar as novas gerações para que não sigam este tipo de exemplo.

- Quisemos mostrar para todos qual é a verdadeira torcida vascaína. Aquilo que se viu em Joinville não é a torcida do Vasco. Aquilo não nos representa – finalizou Ângela.



Fonte: GloboEsporte.com