Disputando a Série D pelo Brasiliense, Romarinho, perto dos 21 anos, sonha repetir os passos do pai

Domingo, 20/07/2014 - 18:52
comentário(s)

Todos os dias, Romário de Souza Faria Júnior, a caminho dos vestiários do estádio Serejão, se depara com a frase "A vitória pertence a quem tem dedicação total, busca superar limites e dá o melhor de si". Pintados em uma parede ao lado do distintivo do Brasiliense, os dizeres servem como mantra para um atacante que pouco tem chances na quarta divisão do Campeonato Brasileiro, mas ainda sonha repetir seu pai, craque do Brasil tetracampeão mundial e eleito o melhor do mundo há duas décadas.

Romarinho apareceu mancando para conversar com a Gazeta Esportiva. A dificuldade para caminhar é decorrente de um estiramento muscular, mas, na própria carreira, o jogador precisa acelerar sua caminhada. A 23 km do estádio Serejão, onde ele dava entrevista, astros da Seleção Brasileira com idade próxima à sua já representavam o país na Copa do Mundo, no estádio Mané Garrincha.

Romarinho completará 21 anos em setembro, e só teve chances como profissional no ano passado, quando seu pai o tirou do Vasco, clube que o formou nas categorias de base, e o levou ao Brasiliense. O atacante já recebeu até aumento, embora só tenha marcado dois gols e realizado 21 jogos em um ano e meio. Pouco, mas insuficiente para ele diminuir seu projeto de carreira."Espero fazer história e sucesso aqui, jogando em algum time no Brasil, como no Brasiliense, conseguir, um dia, ir para a Série A e também para a Europa, Seleção Brasileira para, se Deus quiser, ser um ídolo do Brasil inteiro", definiu o jogador que, por enquanto, tem como garantia apenas a disputa da Série D nacional até o fim do ano, quando acabará o seu contrato com o Brasiliense.

As semelhanças com o pai, hoje também conhecido como deputado federal que mais contestou a organização da Copa do Mundo, aparecem somente em traços da fisionomia. No futebol, na idade que o filho tem agora, Romário já tinha sido artilheiro do Campeonato Carioca, cotado para a Copa do Mundo de 1986 e titular do Vasco ao lado de Roberto Dinamite, atualmente presidente do clube e alvo de críticas do Baixinho pela falta de apoio à base e, especificamente, Romarinho.

Dando entrevista, Romarinho nada tem a ver com o pai. Fala em tom de voz baixo, olhando para o chão enquanto recorre a frases prontas para escapar das polêmicas em que o tetracampeão se envolve, como sobre a organização do Mundial. "Ele tem a visão política dele, foi visitar, viu os roubos que tiveram e tudo. Não entro nesse mérito. Só acompanho mesmo os jogos da Copa. No que ele falar, estou do lado dele, mas, pela Copa do Mundo, só vi grandes jogos."

O atacante não se mostra contrariado ao falar do pai, mas tenta se desprender. Diferentemente de quando chegou ao Brasiliense, já mora sozinho na capital federal e conta ter esquecido o Rio de Janeiro. "Foi muito fácil me adaptar. Brasília é muito bom, gostei muito. Eu me sinto mais à vontade aqui do que no Rio, me acostumei com a vida aqui. Vou para o Rio só para passar uma folguinha, dois ou três dias, e já quero voltar para Brasília porque aqui é o meu lugar de trabalho e é onde me adaptei a morar", explicou.Nascido em Barcelona quando seu pai vivia o auge no time que o levou à Copa de 1994 e ao título de melhor do mundo, Romarinho já ouviu mais conselhos.

"O meu pai me acompanhava mais. Agora, nesse período de eleições do final de ano, está mais devagar. Mas está sempre me dando dicas", relatou, dando um dos poucos sorrisos durante a entrevista ao negar que faz campanha eleitoral para o pai, candidato ao Senado. "É cada um na sua."

O alcance do reserva do Brasiliense, porém, é grande. Romarinho já publicou nas redes sociais fotos em barco ao lado de Lucas, do Paris Saint-Germain, e tem Jô, suplente do Brasil que fracassou no último Mundial, como grande amigo. Mas, em meio ao sonho de ser astro, é apenas mais um fã de Neymar. "É diferenciado, não existe ninguém igual a ele no Brasil. É um moleque humilde para caramba, merece tudo que ele viveu e os sonhos que tem realizado."

A exemplo do milionário jogador do Barcelona, ao menos, também está cheio de tatuagens, com a inscrição "Família" no pescoço e o braço esquerdo todo coberto por figuras. Como semelhança, também marcou gol no Mané Garrincha, antes mesmo do camisa 10 da Seleção, fechando a vitória do Brasiliense sobre o Brasília na conquista do Campeonato Candango do ano passado e levando o pai, que estava nas tribunas, às lágrimas. "Graças a Deus, na reinauguração do Mané, consegui fazer o gol e fomos campeões. Foi uma emoção muito grande. Ver que a Seleção jogou lá dá um orgulho enorme", lembrou.

O feito, contudo, ainda é pequeno. Tanto que, internacionalmente, o Romarinho do Corinthians tem mais espaço, a ponto de já ter sido citado em jornais portugueses como filho de Romário. Confusão que também desperta risos no "verdadeiro" Romarinho. "Agora que estão aparecendo mais Romarinhos, mas os mais famosos, hoje, somos eu e ele. Quando me confundiram com ele, é porque sou o mais famoso", disse, definindo o corintiano como grande jogador.

Se o Romarinho do Corinthians já é um grande jogador, o do Brasiliense continua Baixinho. Só chama atenção no exterior como consequência da fama do pai, que já cogitou levá-lo ao Barcelona e, recentemente, foi procurado por outros clubes espanhóis. "Mas minha vontade é fazer carreira no Brasil. Hoje em dia, só tenho minha cabeça no Brasiliense para ajudar o time a subir", disse o atacante que tem o Campeonato Brasiliense de 2013 como único título na carreira e participou do rebaixamento para a quarta divisão nacional. Mas, mais do que seu clube, ainda sonha subir.

Fonte: Gazeta Esportiva