Remo: Cristian Rosso leva 2 ouros no Sul-Americano e declara: 'Sou parte desta família vascaína'

Domingo, 28/04/2013 - 18:32

A Argentina conquistou neste domingo, no Estádio de Remo da Lagoa, no Rio, o título sul-americano de remo, ao finalizar os dois dias de competição com 15 vitórias, seis segundos lugares e três terceiros, superando por boa margem o Brasil, com cinco primeiros lugares, 12 segundos e seis terceiros, e o Chile, com cinco primeiros lugares, quatro segundos e sete terceiros. A competição faz parte da preparação de boa parte dos atletas dos oito países participantes, visando a etapas da Copa do Mundo, em junho, na Inglaterra, e em julho, na Suíça, além do Mundial Senior, em agosto, na Coreia do Sul.

Um dos destaques da Argentina foi o remador Cristian Alberto Rosso, vencedor das provas do double skiff com o irmão Brian Rosso e do four skiff. Juntamente com Ariel Suárez, que não pôde vir ao Rio devido a um problema de infecção, Cristian ficou em quarto no double skiff, nas Olimpíadas de Londres-2012. No Brasil, Cristian e Ariel remam pelo Vasco, e pelo fato de competirem sempre na Lagoa, Cristian espera que ele e o companheiro possam ter um algo mais em relação a possíveis rivais em 2016.

— Eu gosto muito desta raia. Não creio que haja muito a melhorar, e a infraestrutura é boa. Claro que o fato de nós conhecermos a Lagoa pode ser uma vantagem para os Jogos de 2016. É como se fôssemos daqui, e na Lagoa nos sentimos em casa, para finalmente tentar uma medalha em 2016 — afirmou Cristian, que compete pelo Vasco há três anos. — No começo, no meu primeiro ano no Brasil, tive de me acostumar, mas agora, sou parte desta família vascaína. Ariel e eu nos sentimos muito bem no clube. A situação está difícil, mas há pessoas trabalhando para que o clube siga adiante.

Sobre a força demonstrada pela Argentina, Cristian ressalta que tudo tem a ver com o local de treinamento da seleção, em Tigre.

— Lá, temos um galpão, onde toda a seleção treina junto. Ficamos juntos lá por três meses. Mas o Brasil também pode crescer, porque tem muito mais competições que lá. Aqui, há campeonatos estaduais e o Nacional, e lá, só temos o Nacional — comentou. — O que penso é que as guarnições têm de treinar juntas. As guarnições têm de treinar juntas porque assim uma vai puxando pela outra, e todos crescem.

Perguntado se há um segredo para a renovação constante do remo argentino, Cristian disse que em sua terra natal o processo de buscar talentos começa na escola:

— Os clubes captam as crianças de talento nas escolas. Mas aqui no Brasil também se tem uma boa base. É importante que toda a América do Sul esteja mais forte, porque um país vai crescendo para poder enfrentar o outro.

O remo argentino vem buscando retomar sua forte tradição, que o levou a ter medalhistas olímpicos, conquista que o Brasil ainda não alcançou na modalidade. Em Helsinque-1952, no double skiff, o melhor barco de Cristian, o país foi campeão olímpico com Tranquilo Capozzo e Eduardo Guerrero. Já Alberto Demiddi obteve o bronze olímpico em Tóquio-1968 e a prata em Munique-1972.

No feminino, brilhou pela Argentina a estrela de Maria Gabriela Best, com três vitórias e um segundo lugar neste fim de semana carioca. Neste domingo, ela ganhou o double skiff em parceria com Maria Laura Abalo e ajudou também na vitória do four skiff. Ano passado, em Londres-2012, ela ficou em nono no single skiff. Perguntada se é, como dizem alguns, a melhor remadora sul-americana, dividiu tal condição com a brasileira Fabiana Beltrame, do Flamengo, campeã mundial de skiff em 2011, e com a chilena Soraya Jadue.

— Há três anos estamos trabalhando muito duro e em equipe na Argentina. Assim, começamos a melhorar. O double skiff de Ariel e Cristian é nossa referência, e treinar com eles é a chave para que todos estejamos evoluindo — afirma Gabriela, que nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, foi medalhista de prata e de bronze. — Para o Pan, o estádio estava muito bem preparado. Agora, acho que só faltam detalhes no estádio.

Somente neste domingo, os argentinos conseguiram oito vitórias, o Chile obteve três, e o Brasil uma, com o double skiff juvenil masculino, com os jovens Uncas Tales Batista, de 16 anos, e Guilherme Ricardo Gomes, de 18.

— Não tem como explicar como é ganhar a primeira medalha internacional. Faltando 250m para a chegada, já tínhamos deixado os outros para trás e estávamos sentindo o gosto do ouro — disse o mineiro Ucas, que começou no remo do Botafogo há um ano e meio.

Ao lado, o também atleta alvinegro Guilherme começava a se acostumar a dar entrevistas.

— É a melhor sensação que existe. Ontem (neste sábado), os argentinos tinham ganhado da gente, e hoje (neste domingo), nós demos o troco. Até as Olimpíadas ainda temos de melhorar muito — afirmou.

Campeã mundial e estrela do remo brasileiro, Fabiana Beltrame não pôde competir devido a uma contratura nas costas, que ainda será avaliada nos próximos dias, mediante ressonância magnética. Ela começou a sentir a lesão na última quarta-feira.

— Estou triste por não poder competir. Já chorei muito... Mas vim aqui torcer. Eu precisei me poupar para as etapas da Copa do Mundo, e espero muito estar no Mundial, para tentar o bi. Estou muito triste e frustrada, porque estava me sentindo bem, com bons tempos — lamentou, antes de comentar a superioridade argentina. — Por incrível que pareça, o remo de lá tem uma estrutura igual à nossa. Mas vêm demonstrando uma maior renovação. Percebo isso nos Mundiais, porque eles sempre têm mais remadores juvenis que nós. O Brasil precisa pegar não apenas os remadores que estão ganhando, mas renovar mesmo, dando chances para os meninos treinarem conosco, os mais experientes.

Apesar de toda beleza natural da Lagoa e do público que circulava pelo complexo cultural existente no estádio de remo, o local ainda necessita de claras reformas, como por exemplo no partidor (setor de largada), destruído há alguns anos por um temporal, mas ainda não recuperado. Segundo atletas, não era possível ver bem as boias brancas, devido ao reflexo do sol. Para o presidente da Confederação Sul-Americana, Raúl Rogelio Poletti, também membro da Fisa (Federação Internacional de Remo), a raia carioca é uma das melhores da América do Sul.

— A Lagoa é excelente para o remo. Mas é necessário fazer algumas atualizações na largada e na chegada, além da área de atletas para dar a eles maior comodidade — comentou o dirigente.

Fonte: Globo Online