Como o Vasco, 12 times mantiveram técnico desde o início do Brasileiro

Terça-feira, 04/09/2012 - 19:34

O verbo cair nunca foi tão pouco utilizado no Campeonato Brasileiro: os números mostram que a dança das cadeiras envolvendo treinadores diminuiu - e muito - o ritmo em 2012. Apenas sete dos 20 times trocaram de comando técnico, uma marca inédita a essa altura da competição na era dos pontos corridos. Em 2011, por exemplo, 11 equipes já haviam passado por pelo menos uma mudança até a 21ª rodada. A Série B também vive um momento de mais paciência dos dirigentes com os comandantes das equipes, já que somente metade delas alterou o seu staff até aqui.

O número caiu pelo segundo ano consecutivo, já que em 2010, em parte por causa da longa pausa para a Copa do Mundo, 15 dos 20 times mudaram de técnico. A quantidade de trocas também sofreu uma queda representativa: foram 21 em 2010, 16 em 2011 e dez em 2012 - sempre até a 21ª rodada.

O palmeirense Luiz Felipe Scolari é quem está há mais tempo no cargo, desde julho de 2010. Outros sete treinadores levam mais de um ano: Cuca (Atlético-MG), Marcelo Oliveira (Coritiba), Tite (Corinthians), Muricy Ramalho (Santos), Abel Braga (Fluminense), Gilson Kleina (Ponte Preta) e Cristóvão Borges (Vasco). Completam a lista dos que iniciaram o Brasileiro: Oswaldo de Oliveira (Botafogo), Celso Roth (Cruzeiro), Vanderlei Luxemburgo (Grêmio), Alexandre Gallo (Náutico) e Geninho (Portuguesa).

- Os clubes estão se organizando para serem mais profissionais e não tomarem decisões intempestivas. Outra coisa são os projetos dos clubes, montados em longo prazo. Tem também os resultados. Aqui tivemos o tricampeonato (estadual), uma sequência de invencibilidade e duas finais seguidas de Copa do Brasil. Eu sempre tive respaldo por parte da diretoria - opinou Marcelo Oliveira, que já é o terceiro treinador que mais comandou o Coritiba (129 jogos), atrás apenas de Dirceu Kruger (185) e do uruguaio Félix Magno (201).

O Coritiba é um exemplo de que nem sempre a sequência de resultados negativos ocasiona na demissão do treinador. Em 2009, segurou Ney Franco mesmo após o rebaixamento. No ano seguinte, voltou à elite com Ney no comando. Com uma proposta para divisões inferiores da Seleção, ele foi substituído por Marcelo Oliveira, mantido mesmo após dois vices consecutivos na Copa do Brasil (2011 e 2012).

- O Coxa tem um projeto de médio a longo prazo. Quando o treinador é escolhido, observamos a competência, o trabalho e a passagem dele por outros clubes. É uma fórmula estabilizada na gestão do futebol. Entendo que o técnico tem que fazer parte da estruturação do clube por no mínimo duas temporadas. É claro que, às vezes, precisa trocar o treinador ou ele tem outra proposta que não dá para competir. O mercado mundial está sofrendo uma crise, então o assédio diminui. Isso também facilita - ressaltou o presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade.

A paciência também rendeu frutos ao Corinthians. Tite chegou do futebol árabe em outubro de 2010 e não conquistou título no início de sua trajetória. Foi terceiro colocado do Brasileiro daquele ano e vice do Paulistão de 2011. No mesmo ano, teve sua principal decepção, a queda logo na primeira fase da Libertadores, e a primeira conquista, o Brasileirão. A continuação do trabalho rendeu ainda ao clube o inédito título continental, nesta temporada. Com 177 partidas, Tite é o sétimo técnico em número de jogos pelo Corinthians.

Presidente do clube na época, Andrés Sanchez foi quem bancou a permanência do treinador, apesar dos insucessos. O atual diretor de seleções da CBF conta por que tomou essa decisão e diz que o trabalho a longo prazo é o melhor para a produtividade da equipe.

- Além de existir um momento certo para mandar um técnico embora, você tem que ter a certeza de que a culpa é do treinador para demiti-lo. No caso do Corinthians, a culpa não foi do Tite. O grupo não estava rendendo naquele momento, por isso o mantive no cargo. Acho que tem que ter no mínimo um ano de trabalho para começar a cobrar alguma coisa do treinador.

O exemplo de Tite no Corinthians não é uma exceção. Outros cinco times que mantêm seus técnicos há mais de um ano no cargo também já foram campeões em 2012. Coritiba, Atlético-MG, Fluminense e Santos conquistaram seus estaduais, e o Palmeiras ganhou a Copa do Brasil. As exceções nesse grupo da estabilidade são a Ponte Preta de Gilson Kleina, que caiu na semifinal do Paulistão para o rival Guarani, e o Vasco de Cristóvão Borges, que perdeu as finais da Taça Guanabara e da Taça Rio.

Os treinadores dos representantes do G-4 estão no cargo desde o início do Brasileirão, e apenas um (Vanderlei Luxemburgo) iniciou seu trabalho nesta temporada. Cuca, Abel Braga e Cristóvão começaram em 2011.

- A continuidade é sempre benéfica. Acho cinco anos muita coisa em um mesmo clube, mas em dois ou três anos você tem tempo de fazer muita coisa. O Tite, por exemplo, está colhendo os frutos agora. Ele teve aquela decepção na Libertadores (eliminação no mata-mata de 2011), muitas críticas e agora terminou com o título - afirmou Cristóvão Borges, que foi auxiliar no Vasco de fevereiro de 2011 até agosto do ano passado, quando assumiu o cargo de técnico após o acidente vascular cerebral de Ricardo Gomes.


Dança dos técnicos intensa na Série B

O ritmo lento da dança dos técnicos não se repete na Série B do Campeonato Brasileiro. Em 21 rodadas, foram 21 trocas de técnico - número inferior a apenas duas edições (2008 e 2011). Quando o assunto é o total de times que trocaram de treinadores, a situação já muda um pouco. A atual edição registra dez equipes com mudanças no comando, a segunda melhor marca na era dos pontos corridos, atrás apenas de 2010 com nove times.

Entre os 20 clubes que disputam a Segundona, o treinador que está há mais tempo no cargo é Enderson Moreira, do Goiás. Contratado em outubro do ano passado, ele chegou durante uma das piores crises da história do clube, mas conseguiu conduzir a equipe de forma eficiente e, com o título do Campeonato Goiano deste ano, o primeiro na sua carreira, caiu nas graças do torcedor esmeraldino.

- Acho que a mentalidade dos dirigentes está mudando a partir de uma grande contribuição dada pelo Coritiba. Quando este clube caiu, o Ney Franco havia feito um grande trabalho, mas não pôde evitar o rebaixamento. Mas a diretoria deu um grande exemplo de confiança no trabalho e no planejamento. Viu que a comissão técnica poderia ajudar no projeto de voltar à primeira divisão e obteve sucesso, com título estadual e também da Série B - concluiu Enderson.



Fonte: GloboEsporte.com