Vasco teve 55 desfalques por lesão no 1º turno do Brasileiro

Segunda-feira, 27/08/2012 - 21:28

Ao todo foram 1.578 desfalques e 289 diferentes jogadores vetados. Os números indicam o tamanho do problema que os treinadores tiveram para escalar suas equipes ao longo do primeiro turno do Campeonato Brasileiro. Todos foram prejudicados de alguma forma com as ausências por lesão. Uns mais, outros menos, e o certo é que, por algumas rodadas, montar a equipe se tornou um verdadeiro quebra-cabeça. Que o diga Marcelo Oliveira, do Coritiba, que chegou a não poder contar com dez jogadores por este motivo em quatro rodadas diferentes. No fim das contas, o treinador teve 132 ausências (contabilizando quantas vezes cada atleta desfalcou a equipe) para suprir na equipe.

- O Atlético-MG jogou 38 partidas e nós já jogamos 57. Então, isso representa 18 partidas a mais, é um excesso muito grande. Dá impressão no futebol brasileiro que as equipes que chegam às finais de seus campeonatos são punidas nesse sentido. (A quantidade de lesões) atrapalha muito porque mesmo que tenhamos um número grande de jogadores, tem que mudar sempre. Quebra um pouco o entrosamento do time - ponderou o técnico.

A diferença ocorre pelo fato de o Coritiba ter chegado à decisão da Copa do Brasil, com 12 partidas disputadas, e 24 jogos pelo Campeonato Paranaense. Por sua vez, o Galo atuou 15 vezes no Mineiro - os dois foram finalistas nos regionais - e quatro na competição nacional, após ser eliminado nas oitavas de final. Ainda assim, o Galo não se viu longe das lesões. Foram 12 jogadores com passagem pelo departamento médico do clube. No entanto, a equipe foi uma das menos afetadas na quantidade total de desfalques, com 60, já que a maioria dos atletas tiverem problemas musculares leves, à exceção de Triguinho e Neto Berola, este último já recuperado.

Outro treinador que tem motivos para se lamentar é Oswaldo de Oliveira. O Botafogo já teve 19 atletas diferentes lesionados ao longo do primeiro turno e, no confronto deste domingo contra o Flamengo, Andrezinho e Brinner saíram contundidos.

- É uma coisa que vem causando desconforto. A cada jogo perdemos dois jogadores. Contra o Palmeiras foram o Antônio Carlos e o Rafael Marques. Contra o Flamengo, o Andrezinho e o Brinner. É o 15º jogo consecutivo que fazemos sem um espaço ideal para recuperação. Vamos ter que dar um jeito de superar estas dificuldades - reclamou Oswaldo de Oliveira.

O menor número de atletas lesionados vem do São Paulo, que contabiliza oito jogadores fora de alguma rodada da competição, sendo que quatro deles machucados antes da estreia. E, mesmo com o baixo número, o médico tricolor José Sanchez tem ressalvas quanto ao calendário brasileiro. Para ele, é um dos problemas que afetaram o elenco do Coritiba, além de incluir outros fatores.

- O pessoal fala muito do calendário e realmente temos muitos jogos, com uma média de 73 por ano, quando o ideal são 60. Existe uma má distribuição, com nove jogos em um mês e outro mês com cinco. Se adequassem o nosso calendário ao europeu, teríamos menos problemas. Quem tem atleta na Seleção também é prejudicado, já que os jogadores ficam fazendo um outro trabalho, diferente do clube. Alguns clubes ainda têm o fato da mudança de comissão técnica, que acaba propiciando e cria problemas, pois é difícil que o profissional siga o trabalho anterior e acaba mudando, fazendo com que o atleta tenha que se readaptar. Tem vários fatores que acabam propiciando. E acaba que, em agosto e setembro alguns jogadores ficam fadigados - afirmou.

Uma outra preocupação vem do estado dos gramados país afora. Questionado se o fato de o Morumbi estar conservado ajuda a manter o baixo número de atletas com lesão, o médico foi além:

- Sem dúvida acho que isso é um fator que ajuda positivamente, mas não é tão decisivo. Se tiver num terreno muito duro, fofo e irregular você está submetendo o atleta a um risco maior. Acho que o fator campo tem uma parcela razoavelmente grande em algumas lesões. Principalmente entorse e algumas mais graves. Isso há muito tempo estamos observando e influencia.


Convocações e suspensões só aumentam os problemas

Não bastassem as ausências por conta por lesões, o quebra-cabeça do treinador fica ainda mais complicado quando algumas das peças estão fora por outros motivos. As suspensões são recorrentes entre os desfalques, já que o acúmulo de três cartões amarelos fazem com que o jogador esteja fora da rodada seguinte.

Nas rodadas 15 e 18, o técnico Marcelo Oliveira não contou com 12 atletas em cada uma delas, somando-se os dez lesionados e mais dois suspensos. Ou seja, mais de um time completo de desfalques.

Além disso, o fortalecimento do futebol nacional tem feito com que mais atletas sejam convocados e desfalquem suas equipes. Durante as Olimpíadas, Santos, Internacional e São Paulo não puderam contar com seus principais jogadores: Neymar, Ganso, Rafael Cabral, Oscar (que foi negociado com o Chelsea durante os Jogos), Leandro Damião e Lucas estavam no grupo medalha de prata em Londres.

Desta forma, o Santos teve grandes problemas no início da competição: na terceira e quarta rodadas, a equipe empatou com o Fluminense e perdeu o clássico para o São Paulo quando tinha oito atletas no departamento médico, além dos três jogadores já servindo à seleção, no total de 11 desfalques para Muricy Ramalho armar a equipe. Ao todo, Neymar ficou fora das 16 primeiras rodadas do Brasileirão, enquanto defendia a amarelinha.

Calendário é a maior reclamação

"Acreditamos que com um calendário como este é impossível qualquer tipo de adaptação e continuaremos seguindo no caminho da improvisação e do amadorismo, num país que se prepara para sediar o maior evento de futebol do planeta”. A afirmação é do preparador físico Glydiston Ananias, do Coritiba, publicada em um de seus artigos ainda no início de abril deste ano. A questão levantada não é nova, tampouco foi aclamada pela primeira vez no meio do futebol, mas gera discussões e comparações quanto ao tempo de preparação e descanso em relação ao futebol europeu.

Em uma conta rápida, o preparador imaginou o Coxa classificado para as finais do Campeonato Paranaense, Copa do Brasil e Sul-Americana e somou às 38 rodadas do Brasileiro. Na divisão pelo número de semanas do ano, chegou a apenas 3,3 dias por mês para realização de treinos e 1,66 partidas a cada sete dias. Ou seja, em uma temporada bem sucedida, há mais de um jogo e menos de um treino por semana. Isso sem contar o tempo gasto com viagens e conexões em aeroportos.

Em uma comparação com os ingleses do Chelsea na temporada 2011-2012, os números impressionam. Finalistas da Liga dos Campeões e da Copa da Inglaterra, além de disputar o Campeonato Inglês e a Copa da Liga Inglesa, chegou ao final da temporada com 61 partidas disputadas. Até agosto, os paranaenses já disputaram 57, e farão mais 19 até o fim do ano, chegando a 76.

- Não tem como fugir das lesões. Há uma série de fatores que influenciam para que os atletas acabem sofrendo algum tipo de lesão. O tempo de preparação, por exemplo. Nós tivemos uma pré-temporada de apenas 15 dias antes do campeonato estadual. Isso é pouco para preparar o atleta para uma jornada que vai durar um ano inteiro. Na Europa, eles têm 30 dias para trabalhar. Com isso, tem que ter elenco, jogador de reposição - disse Glydiston Ananias.

De volta após sete anos jogando no futebol europeu, Luis Fabiano, do São Paulo, tem convivido com as lesões, que já o tiraram de sete das 19 rodadas do primeiro turno. Em entrevista ao programa Esporte Espetacular, da TV Globo, o atacante faz coro às reclamações com a sequência de jogos no Brasileirão.

- Eu vinha de um ritmo diferente, de jogar na Europa. No Brasil é um (jogo) atrás do outro, então são mais lesões de fadiga, de não recuperar, de não ter tempo de ter uma recuperação correta, de não conseguir recuperar o músculo. Isso vai acarretando esse tipo de lesão - ponderou.

Pré-temporada curta, gramados irregulares, alto número de jogos em sequência... Some ainda as viagens, muitas vezes longas em um país com dimensões continentais como o Brasil, atraso em aeroporto, variação de temperatura entre regiões. É um prato cheio para que o jogador, ainda que esteja sendo monitorado, sofra uma lesão muscular. Por isso, é preciso ir além e contar com a ajuda do próprio atleta.

- Existem algumas variáveis para determinar a carga de treinamentos para cada jogador. Uma delas é a idade. Também levamos em consideração o histórico de lesões do atleta. A gente analisa esses itens para dosar nos treinos. A exposição a horas de treinamento tem que ser menor para os atletas mais velhos. É inevitável, da condição humana. Por isso, o feedback de cada jogador é muito importante também, para que a gente saiba como ele está se sentindo e fazer o programa certo para cada um deles - analisa Glydston Ananias.

Fonte: GloboEsporte.com