Em 1958, Vasco conquistava seu primeiro Rio-São Paulo

Sexta-feira, 06/04/2012 - 15:36

No dia 06/04/1958, o Vasco saia de uma fila incômoda, após quatro vice-campeonatos (1950, 52, 53 e 57), sagrava-se pela primeira vez campeão do Torneio Rio-São Paulo. O adversário já era um velho conhecido, a Portuguesa de Desportos que derrotara o Vasco em 1952, mas a revanche havia chegado e o Vasco impiedosamente goleou a Portuguesa em pleno Pacaembu pelo placar de 5 x 1.

O Torneio Rio-São Paulo naquela época era uma competição de suma importância para o futebol nacional, já que pelo fato do Brasil não ter um campeonato nacional, esse era um torneio que envolvia os principais clubes brasileiros; contudo, todos os times entravam nessa competição com força máxima, mas nem mesmo o Expresso da Vitória conseguiu conquistar esse Torneio, até que o Vasco colocou Gradim, velho conhecido jogador do Vasco da Gama, como treinador do Club.

Mas como nada é fácil para o Vasco, logo na estréia foi derrotado, após estar vencendo a partida por 2 x 0, pelo Palmeiras de Waldemar Fiúme, o “Pai da bola”, por 4 x 2. Na sequência da competição, o Vasco soube lidar com a derrota traumática na estréia e emplacou 6 vitórias seguidas contra Corinthians, São Paulo, Fluminense, América, Santos e Botafogo, com destaque a goleada de 6 x 1 sobre o Fluminense onde Vavá marcou 4 vezes. Essa sequência foi parada pelo Flamengo, cujo resultado ficou no 1 x 1, mas no último e mais importante jogo, o Vasco precisava apenas empatar com a Portuguesa do ex-jogador do Vasco Ipojucan e do ex-treinador Flávio Costa, mas o que se viu no Pacaembu foi um verdadeiro passeio do Vasco ao golear a Lusa por 5 x 1, com direito a show de Almir Pernambuquinho, autor de 3 gols, e sagrar-se campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1958.

O Jornal dos Sports de 7 de abril de 1958 relatou o jogo da seguinte maneira:

“Os primeiros movimentos da partida deram logo a impressão de uma superioridade nítida do Vasco da Gama. E mal a Portuguesa havia firmado o pé no terreno num fechar de olhos, já havia levado dois gols. Foi uma verdadeira ‘blitz’. E, mais uma vez, viu-se em grande destaque este garoto corajoso que é Almir.

Os dois primeiros gols tiveram participação efetiva do pernambucano. No gol inaugural, Almir achou Vavá que fuzilou o goleiro Carlos Alberto. No segundo tento, ele entrou como um raio à frente de Sabará após bom lançamento de Pinga. Em cinco minutos, o Vasco vencia por 2 x 0.

O terceiro gol marcado por Almir foi o mais bonito da peleja. O jovem de 18 anos driblou três defensores e o goleiro. E quando o último zagueiro da Lusa ficou sobre a linha do gol para tentar salvar, Almir apenas rolou a bola no canto esquerdo.

A Portuguesa marcou seu gol de honra por intermédio de Ocimar que encobriu o goleiro Barbosa. Neste momento, a peleja já estava liqüidada e o Vasco vencia por 4 x 0. Antes do apito final do juiz para a comemoração dos cruzlmatinos, o Vasco ainda marcou mais um gol através do melhor jogador da partida, o permabuncano Almir, que marcou três dos cinco gols do Vasco e ainda deu um passe com afeto para seu conterrâneo Vavá abrir o marcador.”

No dia seguinte, 8 de abril de 1958, o mesmo veículo continuou a falar sobre o título vascaíno:

“Desde domingo, o Torneio Rio-São Paulo, tem novo campeão – e que campeão! Coube, este ano, ao Vasco da Gama levantar o título na brilhante campanha, só mesmo obscurecida por um único resultado negativo, justamente aquele que deu ao Palmeiras, um dos lanternas da tabela, a satisfação de alcançar, talvez, um de seus raros e honrosos triunfos no campeonato.

Campeão de nove batalhas arduamente cumpridas – sete vitórias, um empate e uma derrota acidental- eis como o Vasco se retrata com fidelidade na galeria dos campeões deste torneio que ascendem a oito, de 1950 a 1958.

Pela segunda vez consecutiva, um clube carioca interrompe a série quase dezena de vitórias paulistas, no afã de recuperar para o Rio de Janeiro a hegemonia do football nacional.

Ainda no ‘onze’ campeão, iremos encontrar os dois extremos do torneio: o mais velho e o mais novo dos cracks que a ele concorreram. Assim, o título de broto pertence ao ‘pernambuquinho’ Almir, e o de vovô continua em poder de Barbosa”.

PORTUGUESA DE DESPORTOS (SP) 1 x 5 VASCO DA GAMA (SP)
Data: 06/04/1958
Torneio Rio-São Paulo
Local: Estádio do Pacaembu / São Paulo
Renda: Cr$ 445.100,00
Público: 15.000 (estimado)
Árbitro: Amilcar Ferreira
Gols: Vavá 04, Almir 05 e 26’, Vavá 49, Ocimar 85 e Almir 86
PORTUGUESA DE DESPORTOS: Carlos Alberto, Djalma Santos e Jutz; Mário Ferreira, Hermínio e Odorico; Hélio (Amaral), Ipojucan, Liminha (Alfeu), Ocimar e De Carlo (Servilio) / Técnico: Flávio Costa
VASCO DA GAMA: Barbosa, Dario (Ortunho) e Bellini (Viana); Écio, Orlando (Barbosinha) e Coronel; Sabará, Almir, Vavá, Rubens e Pinga / Técnico: Gradim
Nota: Vasco da Gama campeão do Torneio Rio-Paulo.

Artilheiros do Vasco na competição:

1 – Vavá – 11 gols (artilheiro da competição)
2 – Almir – 8 gols
3 – Rubens – 4 gols
4 – Pinga – 2 gols
5 – Écio – 1 gol

Campanha do Vasco:

01/03/1958 – Parque Antártica – Palmeiras 4 x 2 Vasco
05/03/1958 – Pacaembu – Corinthians 1 x 3 Vasco
08/03/1958 – Maracanã – Vasco 3 x 2 São Paulo
13/03/1958 – Maracanã – Fluminense 1 x 6 Vasco
19/03/1958 – Maracanã – Vasco 1 x 0 América
22/03/1958 – Maracanã – Vasco 1 x 0 Santos
26/03/1958 – Maracanã – Botafogo 2 x 4 Vasco
29/03/1958 – Maracanã – Vasco 1 x 1 Flamengo
06/04/1958 – Canindé – Portuguesa 1 x 5 Vasco

TOTAL: 7 V, 1 E, 1 D; 26 GP, 12 GC

Conheça Almir Pernambuquinho:

Nome: Almir Morais de Albuquerque
Data de Nascimento: 28/10/1937, em Recife – PE
Data de Falecimento: 06/02/1973
Posição: Atacante

Antes de jogar pelo Vasco, Almir Pernambuquinho atuou por uma temporada no Clube que o revelou, o Sport Recife. Almir foi um dos primeiros “bad boys” a figurar no cenário futebolístico, personalidade forte, valente, catimbeiro e brigão, desleal e mau caráter, esses eram seus piores adjetivos dados pela imprensa, dentro de campo Almir também se destacava, uma disposição rara, não existia lance perdido, em quatro anos no Vasco da Gama, se tornou ídolo, até hoje lembrado por muitos como um dos maiores jogadores que já pisaram por esses gramados.

Almir atuou por diversos times, em cada time carregava um apelido diferente. Ora era chamado de “O menino durão do Vasco”, ora de “Herói do Bombonera”, “Divino Delinqüente” e até de “Pelé Branco”.

Um fato curioso de Almir Pernambuquinho, foi que nas vésperas para a Copa de 1958, ele abriu mão de viajar com a delegação brasileira para a Suécia e foi excursionar com o Vasco. No mesmo ano foi campeão do Campeonato Carioca e do Torneio Rio-São Paulo, seus únicos títulos pelo Vasco.

Almir morreu de forma trágica, conforme conta o jornalista Mário Prata que vivenciara o episódio:

O Estado de São Paulo”, em 12 de janeiro de 1994

“Em uma mesa estavam o Almir, uma namorada e um casal de amigos. Na mesa de trás, três portugueses. Na frente da mesa de Almir, os atores gays do espetáculo “Dzi Croquetes”, ainda maquiados depois de mais um dia de trabalho. Os portugueses resolveram caçoar dos atores, chamando-os de veados, paneleiros e outras coisas. Almir não gostou do que ouviu e resolveu defender os atores, que não reagiram. Começou a discussão, até que um dos portugueses sacou um revólver, o amigo de Almir sacou outro e o tiroteio rolou solto no calçadão da Avenida Atlântica.

Os outros dois portugueses também sacaram as armas, os atores gritavam, foi uma correria, mesas foram viradas e pelo menos uns 30 tiros disparados. Quando o tiroteio parou, lá estava Almir no chão, já morto com um tiro na cabeça. Os portugueses saíram correndo. Debaixo de um coqueiro, o amigo de Almir agonizava com um tiro nas costas. Morreu ao dar entrada no hospital. As duas namoradas, apavoradas, gritavam. O resto foi silêncio. Esse crime nunca foi esclarecido pelas autoridades. Os portugueses sumiram e o grupo “Dzi Croquetes” há muito tempo não existe mais.

Fim trágico para quem nunca teve medo de nada. E por uma dessas armações que a vida prega, o violento e machão craque brasileiro morreu defendendo um grupo de homossexuais. No velório de Almir, sua mãe, dona Dedé, aos prantos gritava: “Meu Deus, para quê tanta glória? Preferia meu filho desconhecido, mas vivo”.

Fonte: Ao Vasco Tudo