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Ídolos de Vasco e Botafogo, Juninho e Renato falam sobre o clássico


Domingo, 13/11/2011 - 02:22

Há cinco rodadas do fim, o Brasileirão mexe com os nervos dos torcedores. A briga por uma vaga na Taça Libertadores acabou ganhando papel secundário. Os cinco times que compõem o G-5 adotam um único discurso: a meta é conquistar o título. Neste domingo, Vasco e Botafogo fazem um desses confrontos em que uma derrota pode complicar a vida nesta briga. Nervosismo nas arquibancadas, experiência dentro de campo para lidar com a pressão. Em General Severiano, Renato rapidamente conquistou espaço e ganhou das mãos de Gerson, o Canhotinha de Ouro, a camisa com o número oito dourado, que deixava claro a importância de ser uma das maiores contratações do futebol brasileiro nesta temporada. Na Colina, o trunfo já foi usado com êxito em tempos longínquos. O "Reizinho" Juninho, que bateu no coração para mostrar raça e amor ao Vasco na virada mais espetacular da história do clube, contra o Palmeiras, na final da Mercosul de 2000, foi recebido com coroas e corações em seu retorno.

Em comum, os dois jogadores têm trajetórias muito similares. Bicampeões brasileiros (Juninho foi campeão em 97 e 2000 pelo Vasco, e Renato, em 2002 e 2004 pelo Santos), com currículo vitorioso em que se incluem vários anos em um mesmo clube da Europa (Juninho jogou oito anos pelo Lyon, e Renato, sete pelo Sevilla) e passagens pela Seleção Brasileira, ambos são os pontos de suporte de suas equipes na edição deste ano do campeonato nacional.

Jogando como segundo volante ou como terceiro homem de meio-campo, Renato e Juninho são referências pela qualidade do futebol e pelo jeito simples de ser. O "rei" de São Januário se comporta como súdito dentro do vestiário. O "Oito de Ouro" em poucos meses em General Severiano conquistou colegas, funcionários e comissão técnica pelo profissionalismo e o comportamento humilde. No jogo deste domingo, os dois sabem que o sonho de título de seus times passa por uma vitória e por seus pés. E não fogem da responsabilidade.

Em entrevistas exclusivas ao GLOBOESPORTE.COM, Juninho e Renato falaram das diferenças do futebol brasileiro e o europeu, as saudades que têm de quitutes dos países em que jogaram, do seus respectivos times e, claro, do clássico deste domingo. Confira a íntegra abaixo:

Qual o grau de dificuldade atual do Campeonato Brasileiro em relação ao francês e ao espanhol?

Juninho: Futebol é igual em qualquer canto. Não tem grandes diferenças. O que prevalece hoje é o condicionamento físico. A principal diferença é no posicionamento tático. Aqui no Brasil a defesa joga mais atrás e o campo parece ser maior. Na Europa, a linha de defesa fica mais adiantada. E aí volta a questão da preparação física. O zagueiro aqui tem de saber jogar, é bem mais técnico do que os europeus. O Dedé é um exemplo disso.
Renato: O poder econômico, principalmente de Barcelona e Real. Os dois têm uma diferença econômica muito grande para os outros. Eles tiram proveito porque conseguem contratar excelentes jogadores. E têm uma base boa também. Os outros clubes até procuram fazer frente, mas os dois acabam vencendo sempre. Até em tempos de crise, eles contrataram. Essa diferença acaba pesando. Aqui, não tem um clube que tenha esse poder econômico. O Santos agora fez um grande negócio também. O clube fez um esforço para manter o Neymar, e isso é importante para o futebol brasileiro. Não deixar os jogadores jovens sair. Espero que outros clubes também possam fazer isso, até para ser mais concorrido. Mas o Brasileiro vai ter três, quatro times brigando até o fim. Não tem dois clubes que abrem tantos pontos para os outros. Na Espanha, parecem dois campeonatos. Um entre Barcelona e Real, e outro entre os demais. Aqui é muito mais difícil. É o primeiro perdendo do último. O Brasileiro é mais concorrido.

E a arbitragem do Brasileirão, em que nível está em relação aos principais centros europeus?

Juninho: Erros de arbitragem acontecem em todos os lugares. Mas aqui os árbitros sofrem muito mais pressão durante a semana. Aqui todos falam livremente sobre os árbitros. Lá se tem um cuidado maior com as palavras, e por isso eles entram menos pressionados. Mas erros acontecem em qualquer lugar.
Renato: De arbitragem não gosto muito de falar. Os árbitros tentam errar o menos possível. Não tem aquela coisa de ser mais caseiro ou menos. Infelizmente, tem os erros que a TV acaba mostrando depois. Acho que é similar em todos os países.

Do que sente falta da Europa?

Juninho: Gostava muito da vida lá. A cidade é maravilhosa, assim como o estádio e o clima da torcida. Mas foi uma passagem, como tudo na vida. Lembro com carinho, mas não sinto saudades, até porque um dia posso voltar, seja visitando ou trabalhando como treinador, olheiro ou outra função. Mas minha família sempre fo imuito bem tratada, e minhas filhas foram educadas lá.
Renato: Sinto falta do Jamón (presunto). Adoro o presuntinho de lá. A comida é maravilhosa. Mas sinto falta dos amigos também. Deixei muitos lá. O ambiente de amizade é ótimo. Vou procurar ir nas férias.

Do que vocês sentiam falta do Brasil quando estavam morando no exterior?

Juninho: Do calor humano. O astral é muito bom, muito positivo. Tenho minha família e meus amigos também. Fora que sentia muita falta do sol também
Renato: Os amigos, a família. A feijoada que não tinha, e eu não encontrava picanha. As carnes são boas, mas não tinha picanha. Tinha que comprar em Portugal

Trouxe algum hábito ou mania de fora?

Juninho: Sempre fui disciplicado, mas isso ficou ainda mais na minha cabeça quando morei na França. Os franceses buscam muito isso, eles querem o máximo de disciplina dentro e fora de campo. Sempre se preocupam em fazer tudo dar certo da maneira correta.
Renato: Lá as refeições sempre têm pão. De vez em quando, pego esse pãozinho. Lá existe o hábito de comer pão até com azeite.

Havia algo na Europa que vocês nunca se acostumaram?

Juninho: Seria injusto para alguém que teve saúde e a família do lado dizer que não se acostumou com algo em um lugar tão bom, em um lugar onde sempre fui tão bem recepcionado. Não acho justo e não me dou ao direito de criticar nada.
Renato: Não. Normal.

Que jogo serve de referência como a atuação ideal do Vasco e Botafogo neste Brasileiro?

Juninho: Não gosto de apontar um ou outro jogo como referência de padrão. O jogo em que a gente ganha sempre vai ser a referência. O que pesa é o resultado. Não adianta jogar bem, encantar e perder. Ainda mais em uma reta final como essa.
Renato: Contra o Vasco, a gente jogou bem. Contra o Corinthians (fora) também, até porque ficamos com um a menos. Tinha muita gente falando que iria perder, mas a equipe se superou e jogou bem.

E que jogo foi o pior dos clubes neste Brasileirão?

Juninho: Os dois piores jogos desde que eu cheguei aqui foram as derrotas para Botafogo e América-MG. Ali fomos muito abaixo do que podemos.
Renato: Que eu tenho atuado, acho que foi contra o Atlético-GO (fora). Tomamos dois gols no começo e não tivemos força para buscar a reação.

Que jogador é a grande revelação do campeonato (não vale Neymar, que já é realidade)?

Juninho: São muitas as revelações, o futebol brasileiro produz muitos jovens de qualidade. Posso citar Elkesson, Cortês, Lucas, o Marquinho, do Fluminense, e o Rafinha, do Coritiba, entre muitos outros.
Renato: Lucas, do São Paulo. Um moleque que veio do sub-20. Mostrou valor até pela Seleção sub-20.

E como vocês definem um ao outro?

Juninho: O Renato é um jogador de alta capacidade técnica. Na verdade, somos muito parecidos em termos de jogo. Não somos rápidos, mas damos velocidade ao jogo. A gente faz com que o jogo flua com um toque de primeira, o posicionamento correto... O Renato é inteligente como jogador, e é por isso que não teve qualquer problema na readaptação ao futebol brasileiro. Ele caiu como uma luva no Botafogo. O admiro desde os tempos em que ele jogou na Espanha e na Seleção Brasileira. É um cara do bem, risonho e que sempre tem um bom papo.
Renato: O Juninho é um grande jogador. Tem uma qualidade muito acima da média. Tem uma grande história no Vasco, e não é por acaso. Sempre conquistou muitos títulos. É um jogador leal e que vai nos dar muito trabalho. Temos que ficar de olho nele.

O que significa ser campeão pelo Vasco ou Botafogo?

Juninho: Ser campeão é tudo em qualquer lugar. É o objetivo geral, a coroação de um trabalho, marcar o seu nome em definitivo na história do clube. Isso é a razão de eu continuar jogando. É algo maravilhoso você ser eternizado em uma fotografia na parede do clube.
Renato: Acho que vai ser maravilhoso. Vai coroar a minha volta, junto com a equipe. A estreia não foi boa, mas fomos nos entrosando, e se fechar com o título vai ser maravilhoso.

Fonte: GloboEsporte.com