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Juninho quer contrato melhor com o Vasco e não descarta volta ao Catar


Sábado, 29/10/2011 - 17:22

Sobre a prancha de surfe, Juninho Pernambucano ainda busca a firmeza que não lhe falta quando está vestido com a camisa do Vasco, o time da onda. É no mar, deslizando, caindo e levantando, que o surfista aprendiz vem tentando aliviar o estresse do tão disputado futebol. Se a estabilidade na água é um desafio, a financeira já chegou. Tanto que o ídolo do time aceita resignado um salário de R$ 545 mensais, que não será suficiente nem mesmo para a compra de sua primeira prancha. Mas o ano de 2012 virá como um tubo perfeito: Juninho tanto pode voltar para o Qatar como renovar com o Vasco para a Libertadores, desde que o salário desta vez esteja no nível do seu futebol, tão em alta quanto a maré dos surfistas, sua nova tribo.

Você já admitiu que bebe... Já tomou porre?

Quem nunca tomou (risos)? Gosto mais de vinho do que de cerveja. Lá na França, 90% dos jogadores gostavam. Tenho uma adega com 80 garrafas em Recife. E uma menor, com umas 20, aqui no Rio. Se eu pudesse, bebia todos os dias, mas sei que me atrapalha (risos).

Dizem que é saudável beber uma taça por dia...

Uma taça por dia não tem graça, né? Quem bebe uma por dia bebe sete no fim de semana (risos).

Vai renovar o contrato que termina em dezembro?

Não posso dar essa garantia. Gostei muito de morar no Qatar, onde fiz um contrato muito bom e recebi a proposta de renovação por mais dois anos. Deixei a porta aberta. Tenho o sonho de voltar a ser campeão pelo Vasco e carregar o troféu como capitão do time na Sul-Americana ou no Brasileiro. Ou, quem sabe, nas duas competições. A coisa que me dá mais prazer é me ver nessas fotos de campeão. Mas nada é garantia de que vou ficar aqui. A volta foi difícil para minha família. Minhas filhas estão repetindo de ano por causa da mudança. Vou fazer o balanço no fim do ano para ver o que é melhor.

Há, então, a possibilidade de voltar para o Al-Gharafa?

Existe, sim, uma possibilidade de eu voltar para lá. Mas é lógico que eu gostaria também de jogar a Libertadores.

Se resolver ficar, vai melhorar o valor do contrato?

Ah, sim. Não farei mais um contrato como o atual. Meu salário é de R$ 545 por mês, mais premiação por metas.

Alguém apoiou você quando assinou esse contrato?

Não. Nem meus quatro irmãos. Todos acharam que eu seria cobrado da mesma forma que os demais jogadores. E eu comecei a ganhar dinheiro tarde, já com 26 anos, depois que saí do Vasco.

Arrepende-se de ter acertado um salário tão baixo?

(Pausa). Às vezes, sim. Não vou dizer que nunca pensei que, puxa, podia ter vindo com um salário maior, igual ao melhor do time, ou ainda mais alto... E, talvez, todo mundo hoje estaria dizendo que é merecido. Mas, sabe de uma coisa? Foi uma opção. Pode ser que amanhã eu te diga que me arrependi. Mas, calma, ainda posso ganhar meus prêmios por metas. Não estou longe disso.

Está descartada a possibilidade de jogar pelo Sport?

Minha família é fanática pelo Sport. Fui formado lá e vi o Sport ser campeão brasileiro em 87, com um gol de cabeça de Marco Antônio... Faço parte da história do Vasco, do Lyon e do Al-Gharafa, mas, no Sport, fui apenas campeão estadual, em 94.

O Flamengo merece ser considerado também campeão brasileiro de 87?

Não. Não quero faltar com o respeito, nem criar polêmica, mas o regulamento exigia o cruzamento dos módulos e foi assinado por todos. O Sport tanto foi o campeão brasileiro que jogou a Libertadores no ano seguinte.

A família apoiou seu sonho de jogar futebol?

Meu pai serviu à Marinha por 35 anos, minha educação foi rígida e, para ele, a gente tinha que estudar. Mas eu era protegido pelos meus irmãos, que compravam chuteira para mim. Jogo vôlei, basquete e meu sonho é surfar. Tentei pegar onda em Recife, mas não consegui.

E os tubarões?

Pois é... Lá tem tubarão. Agora, no Rio, já consigo ficar em pé na prancha. Estou aprendendo surfe stand up, um novo esporte praticado com uma prancha grande e remo. É desestressante. Sou mesmo um desportista. Se eu pudesse escolher entre uma Copa e uma Olimpíada, teria escolhido a Olimpíada, mas em 96, nos Jogos de Atlanta, a concorrência era forte.

Tem ídolos?

Você, então, vai ter que escrever todos: Senna, Guga, Hortência, Paula, Janeth, Oscar, Marcel, Joaquim Cruz, Ricardo Prado e Aurélio Miguel. No surfe, gosto do Carlos Burle, um fenômeno que pega onda do tamanho de um prédio. Eu me inspirei em todos esses caras. Estou falando sobre dedicação, entende?

A Copa de 2006 foi uma decepção?

Foi uma decepção porque o time era muito forte, mas faz tanto tempo... Acho que não seria justo falar sobre isso.

Faltou comprometimento?

Não vou falar da Copa de 2006. Só digo que a seleção brasileira foi minha única passagem que não consegui marcar. Mas pode ter certeza de que ainda vou fazer alguma coisa na seleção. Sempre sonhei ser campeão do mundo e não consegui. Não me sinto frustrado, mas não tenho vergonha de dizer isso.

Pensa em um dia ser técnico de futebol e, talvez, da seleção brasileira?

Isso passa pela minha cabeça, o que não quer dizer que vai acontecer. Eu me imagino trabalhando como técnico.

Felipe disse outro dia que o time campeão brasileiro de 1997 tinha mais qualidade do que o atual, mas não era unido. Concorda?

É... O Edmundo reclamava muito, pedia a bola. O time de hoje é mais unido. Eu e o Felipe somos os mais velhos, e a gente não tem estrelismo.

Edmundo e Evair eram estrelas?

Sim, mas merecidamente. Eles já tinham sido campeões pelo Palmeiras. E o Edmundo era o melhor do mundo. Nos anos 90, ele era ainda melhor do que o Neymar de hoje.

E o time de 2000?

Era um grupo talentoso, com Romário e Euller. O ambiente era mais leve.

Edmundo tornava o ambiente pesado? Chegou a discutir com ele?

O Edmundo cobrava muito da gente. Queria cada vez mais bolas, queria fazer gols e mais gols. O que era natural. Tivemos algumas discussões no campo, sim. Fora, nunca.

Por que, contra o Aurora, você não deixou o Alecsandro bater o pênalti?

Ele é um dos caras com quem mais me dou bem e tem sido cobrado de forma injusta. Mas a torcida gritou meu nome e eu também queria fazer um gol. Não podia me omitir.

Ele acabou te abraçando...

Deixei-o na cara do gol, né? (risos)

A torcida pode acreditar que o Vasco será campeão brasileiro?

A gente vai lutar até o fim, mas reconheço que o caminho é difícil. Serão três clássicos pela frente. A tabela é mais fácil para o Corinthians.

Fonte: Extra