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Cristóvão Borges, sobre Ricardo Gomes: 'Aposto que ele volta'


Sábado, 17/09/2011 - 11:04

Aos 52 anos, Cristóvão Borges experimenta uma sensação que não estava em seus planos. Auxiliar de Ricardo Gomes, o ex-volante de Fluminense e Grêmio não tinha pretensão de virar treinador. Não virou, mas está. Há quatro rodadas, ele dirige o Vasco depois que o treinador sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico durante o clássico contra o Flamengo, no último dia 28. A missão de honrar o trabalho do amigo está sendo feita. São duas derrotas, um empate, uma derrota e a vice-liderança do Campeonato Brasileiro, com 42 pontos. Mas, se depender dele, sua experiência à beira do gramado será curta. Em entrevista ao iG, ele acredita na volta de Ricardo.

Cristóvão revela que conversa apenas amenidades com o técnico nas visitas ao hospital. Segundo médicos e parentes, não é hora de se falar em trabalho. O bate-papo com o paciente, que, mesmo interagindo, limita-se a poucas palavras, é sobre as “fofocas” da comissão técnica, piadas internas que faziam parte do dia a dia em São Januário. O auxiliar fala também da dificuldade em lidar com os jogadores nos primeiros dias após o incidente, do medo de acontecer o pior com o amigo e do futuro.

Sobre o seu, não faz planos para trocar de cargo. Sobre o de Ricardo Gomes, aposta que o treinador voltar a treinar: “: Acho que ele volta, aposto que ele volta, acredito que vá voltar, aconselharia ele a voltar”.

A seguir, trechos da entrevista:

iG: Qual foi o pior momento para você no episódio do Ricardo Gomes?

Cristóvão Borges: Foi no dia do jogo. Foram horas de suspense, porque nós estávamos no Engenhão terminando o jogo contra o Flamengo e ele tinha ido para o hospital. Quando soubemos exatamente o que aconteceu, soubemos o risco que ele corria, foi muito difícil. Ficamos preocupados, com muito medo. Queríamos que aquele pesadelo passasse logo.

iG: O jogo seguinte, três dias depois, foi contra o Ceará. Como foi trabalhar a cabeça dos jogadores com o comandante correndo risco de vida?

Cristóvão Borges: O trabalho foi difícil para todo mundo. Fizemos uma reunião com todo o futebol. Disse para os jogadores que precisávamos continuar fazendo aquilo que vinha sendo elaborado por ele (Ricardo Gomes). O grupo, com dificuldade, conseguiu se concentrar no jogo, mas com certa pressão. Todos estavam estressados. O que nos ajudou naquele momento delicado é que durante a campanha da Copa do Brasil, houve uma mescla entre os jovens e os mais experientes. Havia o medo de os mais novos reagirem mal, mas os jogadores maduros souberam lidar com a situação e no fim o time esqueceu um pouco o que aconteceu.

iG: Você visitou o Ricardo várias vezes. Como é este contato?

Cristóvão Borges: Agora que ele está melhor, a gente vai em grupo. Vai aquele bando da comissão técnica que coloca em dia aquelas histórias engraçadas do dia a dia que ele sempre gostava de ouvir, a chamada resenha. Ele se diverte. A gente atualiza ele sobre as brincadeiras, o que acontece de engraçado nos bastidores. É bom, faz bem a ele. A gente pode vê-lo sorrindo. É bom para todo mundo.

iG: Ele interage. Mas de que forma?

Cristóvão Borges: (Ele) fala, mas pouco. (Tem) um bom raciocínio, mas não fala tudo. É uma coisa lenta. Só que ele entende tudo, se movimenta...

iG: Vocês conversam sobre futebol nas visitas?

Cristóvão Borges: Não. De trabalho, não. Só as histórias engraçadas que falei anteriormente. Não é momento de se falar em trabalho, em voltar, em dirigir o time novamente. A gente conversa com a família, com os médicos. O importante nesta hora é a saúde dele. E os médicos e a família dizem que faz muito bem a ele as visitas dos amigos com histórias boas, coisas que façam ele rir.

iG: Então até hoje vocês nunca falaram sobre ele voltar a treinar o Vasco?

Cristóvão Borges: Não. Não neste momento. Queremos o Ricardo recuperado. Isto é o mais importante. A vida dele é mais importante.

iG: Pelo que você tem visto dele e tem conversado com os médicos, qual a sua opinião? Ele deveria voltar à rotina de treinador?

Cristóvão Borges: Acho que ele volta, aposto que ele volta, acredito que vá voltar, aconselharia ele a voltar. Isso aqui é a vida dele, é o que ele sabe fazer, é o que faz ele feliz, é a grande motivação diária dele.

iG: Você estava preparado para ser técnico?

Cristóvão Borges: Eu fico feliz quando vejo os resultados (duas vitórias, um empate e uma derrota). Quando o Vasco ganha, a gente vê a felicidade no rosto de todo mundo, e vê que o trabalho está dando resultado e está sendo bem feito. Mas não me preocupo hoje em ser treinador. Sou feliz com o que faço. Meu trabalho é o dia a dia.

iG: Você e o Ricardo estão juntos há seis anos. Você conhece bem a filosofia dele. Mas se for para mudar e implementar seu método. Vai mudar a característica do time?

Cristóvão Borges: Não se mexe no que está ganhando. Não há motivo para mexer. Nós pensamos a mesma coisa. Estou dando sequência ao trabalho dele. Sei exatamente o que ele pensa. Às vezes, quando tenho que dar certo tipo de treino específico com um grupo de atletas, ele confia tanto em mim que diz: “Vai lá faz aquilo que você sabe fazer”. Neste ponto, pensamos iguais. Se eu tiver que mudar, será pontualmente. Não vou mudar tudo o que foi feito nestes meses todos aqui no Vasco.

Fonte: IG