Basquete: Clássicos do NBB serão com torcida única e Liga tenta Arena Olímpica
Terça-feira, 05/09/2017 - 18:35
O NBB 10 terá, pela primeira vez, três times da capital do Rio de Janeiro entre seus participantes. O estreante Botafogo fará companhia a Flamengo e Vasco na próxima edição do campeonato, porém o trio viverá uma realidade diferente das décadas de 1990 e 2000. O Basquete360.com apurou que os clássicos entre as equipes cariocas serão realizados com torcida única, por orientação do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) acordada com os três clubes. A Liga Nacional de Basquete (LNB) tentará levar todos para a Arena Carioca 1, onde foram realizadas as partidas da modalidade nos Jogos Olímpicos Rio 2016.

O Gepe, em janeiro deste ano, já havia informado que nenhum ginásio do Rio de Janeiro tem condições de receber jogos de duas torcidas por não haver uma separação física fixa no chão. Também o caminho para o ginásio e a entrada das duas torcidas precisariam ser totalmente separados, algo inviável na Arena Carioca 1, localizada na Avenida Abelardo Bueno, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio. A avenida em questão é uma reta e não há como impedir que as duas torcidas se encontrem, até porque precisam ingressar no parque olímpico.

Dessa forma, a única solução para que os clássicos do NBB não sejam levados para outras cidades ou estados, ou até realizados em portões fechados, é seguir a orientação do grupamento da Polícia Militar. Gerente técnico da Liga Nacional de Basquete (LNB), Paulo Bassul concedeu entrevista exclusiva em vídeo ao Basquete360.com e explicou todo o procedimento adotado.

Procurado pelo Basquete360.com, o Major Silvio Luiz, comandante do Gepe, informou que "ainda não houve qualquer conversa com a Liga ou os clubes para tratar sobre o assunto" e que "não há informações relevantes sobre o assunto". O Major confirma que a última reunião foi no ano passado e que "nas condições atuais das arenas não há como mudar (a posição do Gepe com relação à realização de partidas com torcida única".



Posição dos cariocas no NBB: Flamengo pode ter conflito de datas com Sul-Americana

Apesar dos esforços, a LNB pode esbarrar no calendário para jogar na Arena Carioca 1. O Basquete360.com apurou que Flamengo e Botafogo estreariam no NBB dia 7 de novembro, mas a partida pode ocorrer em outro dia. Essa data está reservada para disputa da semifinal da Liga Sul-Americana, informação confirmada pelo presidente da Confederação Sul-Americana de Basquete (ConsulBasquet), Gerasime Bosikis, o Grego. É preciso, claro, que o rubro-negro carioca se classifique para a etapa decisiva. Estuda-se a possibilidade de que o clássico carioca faça parte da abertura do NBB 10 dia 4 de novembro, juntamente a Paulistano x Bauru, reedição da última final, que terá transmissão da Band.

Uma fonte ligada ao Flamengo confirmou que os dois clássicos contra o Vasco serão realizados na Arena 1. O duelo do turno, inclusive, seria já a segunda rodada dos arquirrivais, mas pode ser adiada por conta da Liga Sul-Americana. Haverá também o esforço da diretoria rubro-negra de realizar no palco olímpico eventuais jogos contra times de grande apelo, como Franca e Mogi. No entanto, segundo este representante do clube, o duelo do turno contra o Botafogo será mandado no Tijuca Tênis Clube, com torcida única. Caberá à LNB a decisão de realizá-lo dia 4 de novembro sem esperar a definição das semifinais da Sul-Americana, ou adiá-lo. "Mas não tem martelo batido ainda, é preciso aguardar a definição oficial e todas as partes estão trabalhando juntas", afirma.

Posição dos cariocas no NBB: Vasco acata decisão do Gepe, mas sonha com torcida mista

O vice-presidente de esportes de quadra e salão do Vasco da Gama, Fernando Lima, confirmou ao Basquete360.com que a AGLO (Autoridade de Governança do Legado Olímpico) convidou o clube a visitar a Arena 1. Lima confirma que as partidas serão no palco do Rio-2016 e revela que os clubes vão arcar com a colocação de tabela, piso e mobiliário de vestiário. "Será uma retribuição nossa", afirma o dirigente, que ainda torce por uma improvável reversão da decisão do Gepe quanto à torcida única. "Vai ter uma vistoria, o Gepe vai fazer as exigências e vamos ver se tem como cumpri-las. Se não tiver outro jeito, vai ser torcida única", conclui.



Posição dos cariocas no NBB: Botafogo espera clássicos na Arena

Botafogo x Joinville, pela Liga Ouro no Ginasio Oscar Zelaya. 19 de Junho de 2017, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Foto: Satiro Sodré/SSPress/Botafogo.

Estreante no NBB, o Botafogo afirma não ter sido comunicado de que o Flamengo pretende mandar seu mando de quadra do clássico em questão no Tijuca TC. Diretor geral de esportes e ex-jogador do Alvinegro, Gláucio Cruz confirmou ao Basquete360.com que há um acordo para que todos os clássicos sejam mandados na Arena Carioca 1.

"Na reunião do Conselho de Administração da LNB ficou acordado que haverá a tentativa de fazer todos os clássicos na Arena Carioca 1. Ninguém nos procurou para comunicar nada diferente disso (sobre Flamengo e Botafogo ser jogado no Tijuca). Acho ótimo que a Liga esteja tentando viabilizar tudo para que seja lá (na Arena 1), vamos torcer para que dê certo. Vamos aguardar o posicionamento da Liga, a divulgação da tabela, e nos esforçar ao máximo para fazer o melhor pelo basquete", diz.

Cruz é da opinião que o ginásio de General Severiano, dentro do clube social do Botafogo, tem capacidade de receber clássicos em torcida única. "Apesar de ser menor (que o Tijuca), considero nosso ginásio mais seguro. Há um fosso que separar consideravelmente as arquibancadas do banco de reservas, da passagem para os vestiários. No Tijuca a torcida pode até encostar em um jogador porque não há essa separação", analisa.

Novela levou a saída de clubes do NBB do Campeonato Estadual

No ano passado, Flamengo e Vasco tiveram de jogar uma partida do NBB com portões fechados, no Rio, e outra em Manaus, com a presença de torcedores dos dois times. À época, a Polícia Militar informou que não havia efetivo para dar segurança ao evento, mesmo depois do adiamento da data original, de dezembro para janeiro. Neste ano, além dos dois, Botafogo e Macaé boicotaram o Campeonato Estadual por não aceitarem jogar com portões fechados. Foi a primeira vez que a FBERJ não realizou a competição desde 1924.

Opinião Editorial: não podemos aceitar criminosos ditando o que fazer

Realizar os clássicos cariocas em torcida única ou com portões fechados é a solução mais fácil e cômoda para todas as partes. Mas não podemos abaixar a cabeça e aceitar que criminosos ditem o que podemos fazer ou aonde podemos ir. As festas de torcida são lindas, um marco do Rio de Janeiro (e do Brasil), as provocações entre os dois lados dão um tempero especial e essencial às partidas. Quando é permitido que apenas um time tenha seus aficionados nas arquibancadas, todos perdem, inclusive a qualidade e a temperatura do espetáculo. Podem dizer que não, mas jogadores dão um gás extra, sim, quando são empurrados pelos fãs.

A violência nos estádios e ginásios é uma questão de segurança pública, que nunca foi controlada. Mas no basquete é muito mais fácil empurrar goela abaixo de todos que Flamengo, Vasco e Botafogo só poderão jogar com torcida única. Conversei recentemente com um dirigente que mora no exterior há muitos anos e ele sequer sabia o que era "torcida única". Os ginásios não são construídos pensando em separação entre os dois lados, porque isso não condiz com o espírito olímpico. Não se pode cravar uma estrutura no chão de uma arena somente porque um grupo de pessoas é incapaz de conviver no mesmo local sem querer se matar porque Fulano torce para o Botafogo e Cicrano para o Flamengo ou Vasco.

Um estado quebrado como o Rio de Janeiro, onde há cada vez menos segurança para se andar nas ruas, é o ambiente perfeito para proliferação de criminosos. Mas os ginásios não podem ser arenas de batalha nas arquibancadas. Liga Nacional, clubes e cidadãos precisam se unir para realizar uma mudança nessa situação, se não para uma solução imediata, ao menos para os próximos anos. Mais do que um legado olímpico no esporte, é preciso lutar pelo legado olímpico para a vida, para a segurança das pessoas.

Fonte: Basquete 360