Eurico 'dribla' problemas de saúde e passa mais de 12h por dia em São Januário

Sábado, 26/11/2016 - 08:29
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Do outro lado da linha, Eurico Miranda atende em seu celular o segundo telefonema seguido da reportagem e grita:

- Eu não falo, quantas vezes eu vou ter que te dizer, umas 30?

A voz inconfundível permanece agressiva quando ele deseja e ilustra o momento delicado do time e dele próprio. Às voltas com um tratamento de câncer, o presidente do Vasco tem sido nos bastidores de São Januário como a equipe que luta para voltar a Série A no derradeiro jogo deste sábado, contra o Ceará, às 17h30m, no Maracanã. Eles podem estar baleados, mas lutam para permanecer de pé.

Aos 72 anos, Eurico economiza a energia dos antológicos embates com jornalistas e rivais para empregá-la na ajuda ao time. Sua rotina em São Januário ultrapassa a carga de 12 horas por dia. Por volta das 10h, ele já está em sua sala com vista para o campo. Quando as luzes se apagam e tudo ao redor do gramado vira um imenso breu, ainda é possível avistar a luz que sai do gabinete do presidente. E que só se apaga depois da meia-noite.

A doença chegou a afastar um pouco o presidente no último ano, quando o Vasco caiu, devido aos exames e internações rotineiras. Desta vez, mais forte, Eurico tem ido ao vestiário dos jogadores, tanto nos treinos quanto nos jogos, e é presença constante nas partidas fora do Rio, para onde o time tem se dirigido, na maioria das vezes, em voos fretados.

Eurico mantém como rotina a ida na CBF e na Federação do Rio semanalmente. Quando não está nestes lugares, está em São Januário ou dedicando-se aos cuidados necessários para o tratamento da doença na região da bexiga.

Costuma receber o treinador Jorginho e o auxiliar Zinho em sua sala ou, às vezes, faz uma visita no departamento de futebol. Ao contrário do que possa parecer, manteve o tom das cobranças duras, ásperas, tanto em relação à comissão técnica quanto ao time. Mas os jogadores, garante uma fonte do clube, amam o presidente. Principalmente pelo seu jeito afetuoso, em 90% do tempo, e pelo fato de, até pouco tempo, o dirigente pagar o bicho em dinheiro.

A proximidade com o time é, também, decorrente do exemplo do último ano, quando seu filho, Eurico Brandão, o Euriquinho, assessor especial da presidência, ganhou poder e, também, rivais, no momento em que Eurico precisou se afastar por poucos dias. Além da ascensão no apagar das luzes da segunda divisão nacional, a partida com o Ceará vale a credibilidade da dinastia dos Miranda. A energia do presidente reflete na figura de seu filho, que divide opiniões dentro do clube por ser um pouco impetuoso.

Euriquinho atua no departamento de futebol, tem voz. Muitos gostam dele, outros não. Ele seria contra a permanência de Jorginho, bancada por Eurico. Na eleição do próximo ano, Eurico poderá se reeleger. Sem a ascensão à Série A, ficaria mais difícil. A oposição já se movimenta e, neste sábado, os nomes de Júlio Brant e Roberto Monteiro, derrotados por Eurico em 2014, sempre são lembrados como possíveis candidatos. Decisão discutida e aprovada em umas das últimas reuniões do Conselho Deliberativo, que tratou da reforma do Estatuto, a candidatura de Euriquinho não seria possível por ele ser filho do presidente.

No xadrez político que começa a ser jogado em São Januário, é necessário que Eurico e o time estejam fortes para que a saúde financeira e institucional do Vasco seja preservada, além de significar um atalho para uma futura reeleição. Já a permanência na Série B representaria menores cotas de TV e arrecadação com bilheteria.

- O que eu posso dizer é que ele está 100%. Não falta ao trabalho um único dia e viaja com o time - disse Silvio Godói, 2º vice-geral do clube, para quem Eurico está firme como a equipe, que perdeu batalhas, mas vencerá a "guerra" deste sábado.

Nesta sexta-feira, o Vasco voltou ao Rio após quatro dias em Pinheiral e a delegação ficará concentrada em um hotel na Barra da Tijuca. Ederson, ao contrário dos companheiros, foi para casa. Ele fez tratamento para ficar como opção no banco. Jorge Henrique será titular em um Maracanã lotado. A torcida esgotou todos os 52.261 ingressos à venda.

Para encerrar este capítulo doloroso em sua história sem depender de outros resultados, basta o Vasco derrotar o Ceará. Se tropeçar, o time terá que secar o Náutico, que recebe o Oeste no mesmo horário. O certo é que, subindo ou permanecendo, o telefone do presidente não vai parar de tocar.




Fonte: O Globo Online