Jorginho fala sobre seu projeto social, o Instituto Bola pra Frente, Yago Pikachu e Nenê

Sexta-feira, 25/12/2015 - 13:06
comentário(s)

Há duas coisas que Jorginho não gosta de ouvir: a primeira, que o Instituto Bola pra Frente é uma escolinha de futebol; a segunda, que sua ida para o Vasco foi uma decisão ruim. O ex-lateral-direito divide seu tempo entre a ONG, que visita pelo menos uma vez por semana, e o clube, e vislumbra em ambos a chance de fazer a diferença. Seja como treinador, seja como cidadão.

Há 15 anos ele decidiu voltar de vez à comunidade onde cresceu, em Deodoro. Na reta final da carreira, consagrado no Brasil, na Alemanha e no Japão, campeão do mundo pela seleção, trouxe com ele o desejo de mudar a vida de crianças através da educação e do esporte. No fundo, a vontade era seguir o legado de um amigo.

— Quando eu cheguei aqui, aos 8 anos, tinha um campo de várzea, uma quadra cheia d’água, tipo um pântano. Mas eu fiquei fascinado. Tive um grande amigo chamado Antônio Carlos. Eu o ajudava a cuidar do campo e ele morreu tentando melhorar esse lugar. Ele estava trazendo novas traves para o campo a pé, de Bangu, pela Avenida Brasil, quando foi atropelado e morreu — conta Jorginho: — Perdi meu pai aos 10 anos e fui amigo do Antônio até os 13. A morte dele me marcou muito. Esse amigo morreu, e o sonho dele ficou no meu coração.

Em agosto, Sapinho, como era conhecido na infância, assumiu o Vasco, clube que embalava seu coração nos tempos de menino. Assim como tenta dar um futuro melhor às crianças de Deodoro, chamou para si a missão de livrar o time de um rebaixamento praticamente certo. Não conseguiu, a exemplo de seu amigo Antônio Carlos, que não pôde levar as novas traves para o campo. Mas o treinador saiu fortalecido do fracasso. Renovou contrato por mais um ano e tem carta branca para trabalhar.

O maior investimento

A persistência que mostrou na luta para fugir da Série B, Jorginho teve também quando decidiu tirar o Bola pra Frente do papel. O investimento saiu todo de seu bolso: comprou o terreno onde brincava na infância e começou as obras. Perdeu vários sacos de cimento no caminho, roubados por moradores da própria comunidade que tentava ajudar. Mas não desanimou:

— Tenho muitos investimentos, mas esse é o maior de todos. Investir em criança não tem preço.

Aos 51 anos, o sonho é assumir a seleção, onde já esteve entre 2006 e 2010, como auxiliar de Dunga. No momento, deixa o desejo adormecido em respeito ao amigo. Primeiro espera evoluir. A meta também é ganhar títulos, o que pode acontecer já no ano que vem.

Muito além do esporte

O instituto atende 570 jovens por semana, de 6 a 17 anos, e mantém uma equipe de 67 funcionários. Nestes 15 anos, cerca de 10 mil alunos receberam aulas de matemática, português, história, geografia e inglês, além de fazerem cursos profissionalizantes e esporte.

A ONG passará em breve por uma reforma para receber 1.200 jovens. A luta é ainda maior diante de uma constatação: tanto na Alemanha quanto no Japão, viu que a falta de credibilidade que existe por aqui é um dos maiores entraves para que as pessoas ajudem o próximo.

A expansão que Jorginho fará no Bola pra Frente contrasta com o número reduzido de reforços que devem chegar ao Vasco. O treinador confirma que a base que terminou a Série A começará o Estadual, salvo algumas exceções, como Yago Pikachu.

— É um bom reforço, ele se destacou no Paysandu, conhece bem a Série B. Precisamos de quem conheça a competição, os adversários. Podemos escalá-lo na lateral ou então formar um lado direito muito forte com ele e Mádson juntos — analisa.

Jorginho conta com Nenê para ser a referência na Série B, assim como foi Carlos Alberto em 2009 e Douglas em 2014. Para ele, dificilmente uma proposta da Europa chegará pelo meia, uma vez que foi ele mesmo quem quis voltar:

— Para o Brasil, ele não sai. Nós sabemos que existem clubes interessados, o presidente mesmo me disse que há, mas a multa é muito alta. Não tem quem esteja em condição de pagá-la.




Fonte: Extra