Eleição de novo vice da CBF mostrou estratégias diferentes dos clubes cariocas

Quinta-feira, 17/12/2015 - 17:07
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A crise institucional da CBF gera reações e posições políticas distintas no futebol do Rio. Reflexo da ruptura no futebol local, em que o conflito com a Federação opõe a dupla Fla-Flu a Vasco e Botafogo, os grandes do Rio mostraram que está longe de haver unidade até na forma de enxergar o cenário nacional.

Como numa extensão da discórdia, Flamengo e Fluminense defendem ideias similares para o futuro da CBF. Mas, ontem, divergiram na forma de lidar com a eleição que conduziu Antônio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, ao posto de um dos cinco vice-presidentes da entidade.

O Flamengo preferiu não comparecer à Assembleia Geral que elegeu Nunes. Já o Fluminense votou a favor do candidato único, que preside a Federação Paraense. Vasco e Botafogo também votaram no Coronel Nunes, mas para se manterem alinhados com a Federação do Rio.

Horas antes da assembleia, o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, foi à sede da CBF entregar um documento chamado “Proposta de uma agenda mínima para a CBF”. Nele, lista medidas para melhorar governança e transparência, além de reformas que vão do estatuto à relação com clubes e federações.

— Acho que contribuímos mais desta forma. Um dos pontos que defendemos é o fim do critério de idade para definir o vice que assume no impedimento do presidente — explicou Bandeira. — Respeito a decisão do Fluminense e estou certo de que eles concordam com nossa proposta.

ESTRATÉGIAS DIFERENTES

Nunes, de 77 anos, foi escolhido pela CBF e um grupo de federações aliadas justamente por ser mais velho do que Delfim Peixoto o vice que, pelo critério de idade — ele tem 74 anos —, seria o primeiro na linha sucessória caso Marco Polo Del Nero, que está licenciado, fosse impedido de voltar à presidência. Del Nero está sob investigações do FBI e pelo Comitê de Ética da Fifa. Delfim Peixoto, vice da CBF e presidente da Federação Catarinense, é opositor de Del Nero.

Ao sair da Assembleia Geral, Peter Siemsen defendeu mudanças estruturais da CBF, em modelo similar ao do documento entregue pelo Flamengo. Embora tenham ideias similares, diferiram na estratégia.

— O Fluminense votou (em Nunes) pela estabilidade. Há uma comissão de clubes que tem feito grandes avanços na proposta de um novo modelo. Neste momento, mais conflito seria ruim — disse o presidente tricolor.

A comissão inclui clubes da primeira à quarta divisão do Brasileiro. O Flamengo é suplente, mas Bandeira tem participado de reuniões. O grupo estuda desde reformas no estatuto da CBF a mudanças de calendário e de relações comerciais nas competições. Paralelamente, federações do Nordeste também estudam propostas de mudança no estatuto.

Já o Botafogo, representado por seu vice, Nelson Mufarrej, votou a favor de Coronel Nunes justamente pelo alinhamento do clube com a Federação do Rio.

— Votamos com a Federação e pela valorização do Campeonato Carioca. Se Delfim (Peixoto) chegasse à presidência iria privilegiar a Liga — justificou o presidente Carlos Eduardo Pereira.

Durante a reunião, Eurico Miranda, que também votou em Nunes, discutiu asperamente com Delfim Peixoto, que qualificara a eleição como “um golpe”.

MARIN: NOVO PRAZO PARA FIANÇA

Realizada ontem após a cassação de uma liminar conseguida por Delfim Peixoto na Justiça, a eleição teve a presença de 55 dos 67 membros do colégio eleitoral — formado por federações e clubes das Séries A e B. Foram 44 votos a favor de Nunes e três contrários, além de cinco abstenções e três votos em branco. Peixoto segue enxergando ilegalidades na convocação da eleição que, segundo ele, desrespeitou artigos do estatuto da CBF.

— Aliás, o estatuto novo, não recebemos. É preciso ir a um cartório pedir — disse Delfim. O estatuto não está publicado no site da CBF e, segundo dirigentes, não é disponibilizado pela entidade.

Nunes, após a confirmação de sua eleição, saiu em defesa de Marco Polo Del Nero ao ser perguntado sobre as denúncias envolvendo o presidente licenciado.

— Não acredito em nada disso. Nunca vi corrupção no futebol — afirmou, antes de se esquivar. — Só falo de investigações quando tenho acesso ao processo.

Enquanto o futebol brasileiro enfrenta crise política, o ex-presidente da CBF, José Maria Marin, conseguiu ontem ampliar para 15 de janeiro o prazo para pagamento da fiança de US$ 2 milhões (cerca de R$ 7,9 milhões) fixada pela Justiça americana. O pagamento é condição para seguir em prisão domiciliar.

Fonte: O Globo Online