Isaias Tinoco diz que não se arrepende de ter saído do Vasco, apesar do pouco tempo no Cruzeiro

Terça-feira, 24/11/2015 - 20:41
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Quem acompanhava o dia a dia do Cruzeiro há três meses nem sequer imaginava que o clube chegaria na reta final do Campeonato Brasileiro sonhando com vaga na Libertadores do próximo ano. O ambiente na Toca da Raposa II era o pior possível: desconfiança por parte da torcida, instabilidade na gestão e péssimos resultados dentro de campo. Então diretor de futebol, Isaías Tinoco não suportou a pressão e acabou desligado do clube ao lado do técnico Vanderlei Luxemburgo, que havia lhe indicado ao presidente Gilvan de Pinho Tavares.

Nesta quinta-feira, exatos três meses depois que uma declaração de Tinoco ajudou a traçar seu destino, o Superesportes conta Por onde anda o executivo. Em entrevista concedida por telefone, ele revela que está estudando para seguir trabalhando no futebol, relata sua passagem pelo Cruzeiro e as dificuldades que atravessou.

Isaías também comenta sobre o time de Mano Menezes, 8º colocado no Brasileirão, e revela um pacto com as torcidas organizadas do Cruzeiro, durante sua passagem por Belo Horizonte, por uma trégua de 15 a 20 dias nas cobranças ao time. Por fim, Tinoco conta o peso de ter sido indicado ao posto de diretor de futebol pelo então treinador da equipe. “Quando eu fui (para o Cruzeiro), eu já presumia que se ele (Luxemburgo) saísse, eu também sairia”, disse.

Confira a entrevista completa:

Por que você deixou o Cruzeiro?

O motivo foi um desgaste muito grande. O resultado que não aparecia, os resultados não estavam acontecendo apesar do belo elenco e do belo time que o Cruzeiro tem, da estrutura fantástica do clube. Mas se o resultado no futebol não aparece... Fui convidado, apresentado ao Cruzeiro pelo treinador, o treinador saindo, evidentemente eu fiquei sem espaço. O mercado abriu, mas o futebol é impaciente. Tem que fazer o resultado a cada dia. Uma estrutura como a do Cruzeiro se alimenta de vitórias. Se as vitórias não vêm, a situação fica difícil. Eu entendi perfeitamente a posição do presidente e das pessoas, enfim. Fui muito bem tratado no Cruzeiro pela direção maior e pelos chefes das torcidas organizadas, só tenho a agradecer.

Sua saída do Cruzeiro, então, tem relação direta com Vanderlei Luxemburgo?

Relação direta. E quando eu fui (para o Cruzeiro), eu já presumia que se ele saísse, eu também sairia.

Qual a pressão de ter sido indicado pelo seu subordinado?

Foi algo diferente, nunca tinha vivenciado. Mas, com muita personalidade, muito trabalho. A pressão maior, como eu te falei, foi em função dos resultados que não apareceram naquele período, e o presidente teve que fazer valer sua posição e requisitar os cargos para nova distribuição.

Você continuou recebendo salário do Cruzeiro?

É um assunto que prefiro não tocar. É um assunto de foro íntimo. Acho que isso aí, quem tem que se pronunciar sobre isso é a diretoria do Cruzeiro.

Aquela entrevista em que você comenta sobre a torcida do clube foi decisiva para sua saída?

Até hoje não entendi aquilo bem. Na realidade, falei uma outra coisa. Mas depois eu tive um encontro com chefes de torcida, fui muito bem recebido. De uma certa forma, eles fizeram aquilo que tínhamos combinado, de apoiar o time naquele instante e a torcida foi magnânima, deu apoio e o time conseguiu sair da situação de dificuldade que vinha apresentando, em função de ser abraçado pela torcida. Graças a Deus deu tudo certo.

Por que o trabalho não deu certo?

Não teve tempo nem de fazer o trabalho. Foi um mês de muita intensidade, de conhecimento de estrutura, mas não houve tempo de elaborar nada, de sugerir nada à direção a não ser a renovação de contrato do Fábio, que depois acabou acontecendo graças a Deus, mas foi aquilo que te falei: se os resultados estivessem acontecendo, as coisas estariam muito mais fáceis de serem realizados. Um clube como o Cruzeiro não pede licença para resultado, ele tem que acontecer. E, se não acontece, a gente sabe o fim. Mas foi um grande prazer ter trabalhado para uma estrutura como a do Cruzeiro.

Hoje, o Cruzeiro ocupa a 8º colocação do Brasileirão e disputa até vaga na Libertadores. Como você tem visto o sucesso do Mano Menezes e da nova diretoria do clube?

Estou vendo muito bem. Gosto muito de ver os times encaixados, o futebol de Minas está muito bem representado. Eu tenho visto e, talvez, se tivesse começado a reação antes, uma duas ou três rodadas antes, estaria disputando posição muito melhor, não tenho dúvida.

Isso tem algum mérito do seu trabalho?

Não. Acho que é mérito do elenco, faltava alguma coisa ali, a torcida começou a cobrar muito e aí eu conversei com chefes de torcidas duas vezes. Uma com todos os chefes de torcida, outra fui na sede da Máfia Azul, onde fui muito bem recebido. Fizemos um pacto de dar uns 15 a 20 dias de incentivo, e graças a Deus funcionou. Hoje eu tenho esse prazer, essa alegria de ver que, mesmo de longe, a gente deu uma mínima parcela de contribuição para que isso acontecesse.

Depois da sua saída, o Cruzeiro contratou um diretor com perfil oposto ao seu. Como avalia isso?

Não tenho como avaliar. Falar sobre antes eu não posso, porque não estava lá. Durante, seria pré-julgar. O que eu posso desejar é a maior felicidade do mundo a todos que lá ficaram. Ao (Thiago) Scuro, que é competentíssimo. Ao vice de futebol (Bruno Vicintin), que é uma pessoa da maior qualidade do mundo. É um jovem dirigente que tem tudo para dar certo.

Você se arrependeu de deixar as categorias de base do Vasco, depois do pouco tempo que teve no Cruzeiro?

Não me arrependi. Na época foi uma experiência boa, tive tempo de realizar algumas coisas, conversar com algumas pessoas. Agora estou aguardando o início do ano que vem, mas na vida a gente se arrepende nunca quando faz, porque você fazendo de coração aberto, e fazendo com honestidade, é porque você fez muito bem.

O que está fazendo atualmente? Pretende continuar no futebol?

Tenho estudado muito, tenho visto muitos jogos, clubes se reestruturando, tenho visto a redenção do Cruzeiro, enfim. Vamos continuar. A vida continua. Vou continuar no futebol, tenho algumas sondagens de clubes do Rio e de fora do estado.

Recentemente, o Luxemburgo acertou com um time da China e levou um companheiro de diretoria do Flamengo. Você também foi convidado?

Não fui convidado. Foi o Gabriel Skinner (ex-gerente do Flamengo), quem também é um jovem de excelente nível. Desde quando saí do Cruzeiro não tive a oportunidade de conversar com o Vanderlei. Mas ele é um grande amigo, é uma amizade de 30 anos e não abala assim, por qualquer coisa.



Fonte: Superesportes