Há 20 anos, Juninho iniciava seu reinado no Vasco marcando gol na Vila Belmiro

Quarta-feira, 26/08/2015 - 12:05
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Não é exagero dizer que Juninho Pernambucano começou com o pé direito sua trajetória pelo Vasco. Há exatos 20 anos, após corte na tentativa de drible de Yan na frente da zaga santista, o Reizinho pegava de primeira e apresentava aos vascaínos o chute que passou a ser sua marca registrada. Foi do garoto contratado ao Sport o quarto gol da equipe na vitória por 5 a 3 sobre o Santos, em sua estreia pelo Cruz-Maltino em partidas oficiais. Começava naquele dia 26 de agosto, na Vila Belmiro, a trajetória de quem viria a ser um dos maiores ídolos do clube, marcando, no total, 76 gols em 393 jogos com a cruz de malta no peito.

No dia em que Vasco e Flamengo se enfrentam para definir vaga nas quartas de final da Copa do Brasil, às 22h, no Maracanã, os vascaínos se veem saudosos com os primeiros passos de um dos maiores da história do clube com a camisa cruz-maltina. E num mesmo dia 26 de agosto, de 1998, também com Juninho no time, o Vasco venceu a Libertadores contra o Barcelona de Guaiaquil. A conquista completa 17 anos nesta quarta-feira.

Juninho chegou após ser um dos destaques da seleção brasileira sub-20 na conquista do Torneio de Toulon, na França. Ao seu lado estava o atacante Leonardo, outra revelação do Sport e que era, na verdade, o nome mais destacado quando foi contratado pelo Vasco para o Brasileiro de 1995.

Antes do primeiro jogo oficial, Juninho atuou pelo Vasco em 19 de julho de 1995, entrando no segundo tempo da derrota por 1 a 0 para o Corinthians-RN, em amistoso realizado na cidade potiguar de Caicó. Mas foi contra o Santos que aquele que viria a ser apelidado Reizinho da Colina deu início à sua história no clube.

- Sempre estreia tem uma expectativa maior. Mas era a estreia oficial e naquela época não tinha nenhum marketing voltado para isso. Eu até já tinha jogado sem contrato e tudo. Mas o jogo contra o Santos ficou na lembrança pela virada e pelo gol de fora da área. Talvez um aviso para mostrar que meu pé direito e o jeito chapado de bater na bola me levaria longe. Graças a Deus me levou. No início tudo marca, mas tinha plena consciência de que era realmente um início e de que precisaria trabalhar muito - disse.

A obsessão pelo trabalho foi o que chamou a atenção de seus companheiros desde que Juninho chegou ao Vasco. Carlos Germano lembra que os companheiros precisavam constantemente controlar a ansiedade do apoiador, sempre preocupado em melhorar seu desempenho.

- O Juninho sempre foi bem tranquilo, trabalhador pra caramba. Desde aquela época era muito preocupado com sua performance e com seu rendimento físico. Se cobrava o tempo todo. Isso mostrava que seria um rapaz diferente, porque sabia que para jogar no Vasco precisava sempre estar no limite. A gente percebia uma ansiedade por ter vindo para um clube como o Vasco, sabia que era uma grande oportunidade e por isso ele queria logo mostrar a que veio. A gente conversava e dizia: “Calma que sua hora vai chegar” - recordou o ex-goleiro, também titular na vitória sobre o Santos.

Técnico da equipe que derrotou na Vila Belmiro a equipe que seria a vice-campeã daquele Brasileirão, Jair Pereira destacou que o início da trajetória de Juninho no Vasco serviu também para moldar o jogador que conquistaria pelo clube uma Libertadores, dois Brasileiros, uma Mercosul, um Torneio Rio São-Paulo e um Carioca.

- Quando estava no Sport ele não tinha obrigação de marcar, mas eu insisti que ele tinha que marcar. Então, até hoje quando me encontra ele diz: “Professor, obrigado, porque com o senhor que comecei a marcar”. Ele tem uma gratidão por mim por conta disso.

Ficha técnica da partida

Local : Estádio Da Vila Belmiro (Santos - SP)

Gols : Pintado (Santos 1/1ºT), Macedo (Santos 12/1ºT), Leonardo Pereira (Vasco 42/1ºT), Leonardo (Vasco 4/2ºT), Valdir (Vasco 27/2ºT), Juninho (Vasco 29/2ºT), Jamelli (Santos 32/2ºT) e Valdir (Vasco 44/2ºT)

Santos - Edinho, Marquinhos, Jean, Cerezo, Piá (Robert), Gallo, Pintado, Marcelo Passos (Carlinhos), Geovani, Macedo e Jamelli (Wellington). Técnico : Joãozinho.

Vasco - Carlos Germano, Pimentel, Ricardo Rocha, Tinho, Jefferson, Nélson, Charles Guerreiro, Juninho (Geovani), Yan (Sídney), Valdir e Leonardo. Técnico : Jair Pereira

CURIOSIDADES DOS 20 ANOS DA ESTREIA DE JUNINHO

Pré-estreia sem contrato

Antes da estreia oficial, Juninho e Leonardo seguiram com a delegação vascaína em duas excursões. A primeira pelo Nordeste, quando o Reizinho fez a primeira partida com a camisa do Vasco contra o Corinthians do Rio Grande do Norte, no dia 19 de julho de 1995 - o genérico paulista venceu por 1 a 0. O Vasco ainda jogaria contra Icasa, Baraúnas, América-RN. Juninho ainda não tinha contrato assinado com o clube carioca nesses primeiros jogos.

O filho do Rei, o Reizinho e o Pequeno Príncipe

Juninho se consagrou no Vasco vestindo a camisa 8, mas a estreia foi com o número 11. Naquela partida contra o Santos, que tinha Edinho, filho de Pelé e Giovani, que seria um dos craques do campeonato e conduziria o time da Vila para o vice-campeonato, ele sairia sentindo dores para a entrada de Giovani, o Pequeno Príncipe, ídolo vascaíno e outro eterno camisa 8.

Título em torneio com o Barça

Na excursão europeia que o Vasco fez antes de entrar no Brasileiro - com passagens pela Rússia, Grécia e Espanha -, Juninho teve logo jogo marcante contra o Barcelona, futuro adversário nos tempos de futebol europeu. A partida, pelo torneio Palma de Mallorca, terminou empatada. Na disputa de pênaltis, vitória vascaína, com gols de Geovani, Valdir Juninho e Leonardo. Pelo time espanhol, que tinha Guardiola no meio de campo, Figo e Amor desperdiçaram suas chances. O time vascaíno seria campeão do torneio, vencendo o torneio de verão com gols de Richardson e Valdir: 2 a 0 sobre o Mallorca.

Contrapeso: verdade ou lenda?

Quer ver Juninho contrariado? Diga que ele era contra peso da contratação de Leonardo, atacante que veio junto com o meia em 1995. A versão se difundiu durante anos - e é contada até hoje pelo desafeto de Juninho, o atual presidente Eurico Miranda, que era vice de futebol e responsável pelas aquisições vascaínas à época. Os dois apareciam muito bem no Sport - campeões estaduais em 1994 - e seriam, em junho de 1995, campeões do torneio de Toulon como titulares absolutos. O Vasco já havia sondado o jovem meia em janeiro, mas só o contrataria, ao lado de Leonardo, no meio do ano. Valor da transação: US$ 3 milhões pelos dois jogadores.

Apesar da estreia arrebatadora dos dois, Juninho se firmou e Leonardo foi devolvido no fim daquele ano ao Sport. Mas na chegada dos dois as atenções e os elogios estavam mais voltados para o atacante do Vasco.

- Lembro que quando o Juninho chegou, o Leonardo era o cara - conta Jair Pereira.

- Eu já conhecia o Juninho de jogar contra o Sport. Ele vinha bem lá, mas quem se destacava era o Leonardo. Era a contratação de mais impacto, todo mundo estava mais voltado para ele, mas quem conseguiu se identificar com o clube foi o Juninho - lembra Carlos Germano.

Coincidência ou não, Leonardo seria convocado por Zagallo menos de um mês depois da estreia com dois gols na vitória por 5 a 3 contra o Santos. Mas o jogador nunca entrou em campo. Juninho só foi convocado pela primeira vez em 1999, com o técnico Vanderlei Luxemburgo, fazendo a estreia na seleção numa derrota para a Coreia do Sul, em 28 de março daquele ano.

A pressão e o Rio

Juninho e Leonardo foram “apadrinhados” pelo conterrâneo Ricardo Rocha, que jogaria pelo Vasco até metade de 1995 e até emprestava o carro para a dupla passear no shopping com as esposas. À época, o xerife pediu aos atletas mais experientes que dessem atenção aos dois: “O Juninho era como se fosse um irmão mais novo”, lembra Carlos Germano. Após a estreia, a dupla atraiu holofotes e teve que resistir à pressão da má campanha - o time terminou em 20º, empatado em pontos com o Flamengo. Aos jornais da época, Juninho, aos 20 anos, defendia-se:

- É claro que a distância da família atrapalha na adaptação. Mas isso não tem piorado meu rendimento em campo. Não estou jogando tão mal - dizia ao “O Globo”.

O pai de Juninho, que era marinheiro e se associou ao Vasco em 1958, veio morar com o jogador - que chegou ao Rio apenas com a esposa Renata, então grávida da primeira das três filhas do casal - durante seis meses em 1996.

- Meu pai frequentava o clube quando podia. Ia na Barreira (do Vasco) cortar cabelo e tudo. O time da época, que ele acompanhava, era comandado por Danilo e Ipojucã, os dois nomes que mais lembro de ele ter me falado - relembra Juninho.

Persistência, a marca desde o início

A cobrança de falta foi a principal arma de Juninho ao longo da carreira. E segundo seus primeiros companheiros de Vasco, esta virtude esteve logo evidente: “Ele era tarado por ficar treinando. Já batia muito bem na bola e foi aperfeiçoando”, disse o ex-técnico Jair Pereira.

- Não sou de marcar muitos gols. Nem vai precisar, pois o Vasco tem Leonardo e Valdir. Mas gosto de chegar na área de vez em quando - dizia Juninho, pouco depois da estreia.

Pelo Vasco, Juninho, em três passagens, fez 393 jogos e fez 76 gols - foram dois Brasileiros (1997 e 2000), um Carioca (1998), uma Libertadores (1998), um Rio-São Paulo (1999) e uma Mercosul (2000).

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Fonte: GloboEsporte.com