Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG, articula criação de associação que substitua o Clube dos 13

Quinta-feira, 25/09/2014 - 16:53
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"Eu acho o Andrés Sanches muito esperto. Haja visto que ele arrancou na mão grande o estádio do Corinthians. Ele tem de ser adorado por essa torcida. Quem ganhou com essa Copa do Mundo foi Internacional, Atlético do Paraná e o Corinthians."

Assim, de maneira direta, o presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil, resumiu o que seu amigo Andrés Sanchez fez em relação à Copa do Mundo. Na linguagem do dirigente, 'arrancou na mão grande' o Itaquerão para seu clube.

A denúncia feita ontem na Fox Sports não foi por acaso. Aliás, Kalil não faz nada por acaso. O motivo é um só. Ele está tentando articular uma nova liga que una os clubes. E não tem o apoio de corintianos e flamenguistas. O presidente atleticano está revoltado com a distribuição de cotas de televisão. E vê que o momento é esse, com a audiência cada vez mais baixa do futebol na Globo. A situação já estava ruim, piorou depois do fracasso da Seleção na Copa do Mundo.

"Ele só querem passar jogos de Flamengo, Corinthians, Corinthians e Flamengo. Só que a maior audiência da Globo no ano passado foi o Atlético-MG na Libertadores, e nós precisamos entender que acabou essa história de que Corinthians e Flamengo dão audiência.

Dão porra nenhuma! Quem dá Ibope é quem está na frente e quem disputa títulos. Você acha que alguém vai ver jogos do Flamengo com o time caindo? Você acha que o Flamengo no meio da tabela dá mais resultado para a TV do que o Internacional tentando ser campeão, por exemplo?

A Globo deve ter visto isso. Ela se fodeu quando deu 52% da renda para cinco times. Acabou com a praça da Bahia, vai acabar com a praça de Belo Horizonte e vai detonar todas as outras. A Globo está fragilizada porque a audiência está indo para o caralho, e é só isso."

Não economizou os palavrões quando explicou a situação. Alexandre Kalil é tão esperto quanto Andrés. Mostrou que acredita ter chegado o momento de agir. E ao falar com o UOL no mês passado mostrou estar arregimentando parceiros para o nascimento de uma nova liga.

"O Bahia não pode disputar mais (não tem força para jogar a Primeira Divisão), o América Mineiro não consegue subir para a Série A. A praça da Bahia é importante, e Minas Gerais é a segunda economia do país, mas é tratada como lixo e hoje tem o campeão brasileiro e o campeão da Libertadores."

Kalil ficou frustrado porque acreditava que a Globo iria ceder. Aceitar nova divisão de cotas. Ele pediu, insistiu. Não conseguiu. Desde então tem conversado muito com o presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar. Os dois trabalham juntos pela uma nova associação que substitua o Clube dos 13.

Acontece que os maiores favorecidos pela atual cota, Corinthians e Flamengo, não têm o menor interesse em se voltar contra a Globo. Continuam ganhando mais do que todos os demais clubes. Com maior exposição dos seus jogos, o que garante os melhores patrocínios. Os clubes de maior torcida do Brasil estão sabotando o esforço de Kalil. Daí a raiva de Andrés, o ataque ao Itaquerão.

Kalil se viu obrigado a tomar a frente do movimento. Carlos Miguel Aidar fez várias trapalhadas e já tem inimizade profunda com as direções do Palmeiras, Santos e Cruzeiro. Tem a antipatia de muitos dirigentes por estar profundamente ligado com José Maria Marin. A ponto de defender a CBF na luta da Portuguesa para ficar na Série A em 2013.

Insistente, Kalil não descansa ao telefone. Conversa muito com os presidentes dos clubes da Série A. Compara o que acontece por aqui, com a Espanha, onde Real Madrid e Barcelona recebem muito mais do que os demais clubes. Exatamente o mesmo privilégio de Flamengo e Corinthians no Brasil. O dirigente jurou que lutará até o final do seu mandato, em dezembro deste ano, pela formação da nova liga. Clubes gaúchos, paranaenses, baianos e alguns paulistas e cariocas como Palmeiras, Botafogo e Fluminense também se mostram propensos a se engajar nessa luta.

Os clubes, evidentemente, não têm o apoio da CBF. Para José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, presidentes da entidade, tudo continua exatamente como está. Não há interesse em dividir o poder do futebol brasileiro com outra liga. Ricardo Teixeira sofreu com o Clube dos 13.

Kalil sabe que se tivesse ao seu lado o Corinthians e o Flamengo tudo seria mais fácil. Mas como não terá esse apoio, não custa dar uma alfinetada em Andrés Sanchez. E recordar do Itaquerão.

Aqui, a atual divisão de cotas de transmissão da Globo dos principais clubes do país.

Corinthians e Flamengo recebem R$ 110 milhões por ano. São Paulo, R$ 80 milhões. Vasco e Palmeiras, R$ 70 milhões. Santos, R$ 60 milhões. Atlético Mineiro, Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Fluminense e Botafogo, R$ 45 milhões. Os demais integrantes da Série A, R$ 27 milhões.

Em 2016, tudo ficará ainda mais desigual. Corinthians e Flamengo passarão a receber R$ 170 milhões. O São Paulo, R$ 110 milhões. Palmeiras e Vasco, R$ 100 milhões. Santos, R$ 80 milhões. Atlético Mineiro, Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Fluminense e Botafogo, R$ 60 milhões. Os demais integrantes da Série A, R$ 35 milhões.

É essa divisão que Alexandre Kalil lutou para convencer a Globo a alterar. Não conseguiu sozinho. Daí sua luta para forçar uma nova discussão sobre o assunto. Mas acompanhado com o máximo de clubes possível. Para enfrentar Globo e CBF. Sem, evidentemente, o Flamengo. Muito menos o Corinthians, de Andrés Sanchez. E o seu Itaquerão conquistado 'na mão grande'...

Fonte: Blog Cosme Rímoli - R7