Candidatos falam sobre como pretendem lidar com a crise financeira do Vasco

Sábado, 02/08/2014 - 09:06
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O cenário exposto pelos números é dramático: um dos clubes mais endividados do Brasil, o Vasco tem um passivo total (acima dos R$ 500 milhões) cujo valor é mais do que o triplo daquilo que o clube arrecada em um ano (R$ 160 milhões, em 2013). Este é o desafio que se impõe aos candidatos à presidência, que disputarão o voto dos sócios provavelmente na próxima quarta-feira (a Justiça ainda vai apreciar recursos que pedem novo adiamento do pleito). Com um agravante: conseguindo o acesso à Série A de 2015, dificilmente o próximo presidente poderá diminuir radicalmente os gastos com o futebol — e todos os candidatos garantem que não vão tirar dinheiro do carro-chefe do clube.

Assim, para contratar jogadores de qualidade e manter em dia os salários de um grupo competitivo (coisa que a administração de Roberto Dinamite não conseguiu fazer na maior parte do tempo), é imperioso aumentar a receita do clube. Entre propostas e promessas genéricas e concretas, muitas vezes aparentemente pouco factíveis, os candidatos a presidente apresentam um leque variado na hora de explicar como conseguirão fazer o Vasco ter mais dinheiro: busca de novos patrocinadores, venda para investidores de parcelas dos direitos econômicos de jogadores da base, “melhor gestão”, incremento do programa de sócio-torcedor e até mesmo um empréstimo milionário dos Emirados Árabes.

Fontes de renda “engessadas”

Um olhar mais aprofundado para as receitas do clube mostra que promover um salto na arrecadação será uma tarefa bastante difícil. A principal fonte de arrecadação são os direitos de TV, e pouco poderá ser feito pelo próximo presidente quanto a isso: o contrato com a TV Globo está em vigor até 2017, e os valores não mudarão além da correção habitual e da pequena variação relativa ao pay-per-view.

A segunda maior fonte tem sido a venda de jogadores, e do atual elenco o zagueiro Luan e o atacante Thalles aparecem como os mais valorizados, mas, num time em crise técnica, os candidatos evitam prometer que venderão os melhores do grupo.

O marketing tem sido uma fonte tão rentável quanto a venda de jogadores, e há promessas de fazer a arrecadação crescer na área. O principal componente desta rubrica são os patrocínios do uniforme, mas o clube atualmente já arrecada mais de R$ 20 milhões anuais com isso, um bom valor olhando-se a médida do mercado.

Ex-presidente e ex-vide de futebol, tendo sido figura importante da diretoria por mais de 20 anos, Eurico Miranda foi um dos que contribuíram, quando administrava o clube, para o endividamento do Vasco. Tido como um dos favoritos no pleito atual, ele evita explicitar como pretende encarar a situação financeira. E ataca Dinamite ao dizer que o principal problema é de gestão.

— Não importa se está arrecadando 10, 20 ou 30. O importante é como você gere, este é o problema. A atual diretoria gere muito mal o dinheiro que tem. Não vou inventar nem prometer milhões a mais. Mas sei gerir melhor. O Vasco não é time de Série B, esta é a prioridade máxima — diz Eurico.

Empréstimo e patrocínios

Se Eurico é figura antiga da política vascaína, Julio Brant, de 37 anos, foi lançado candidato apenas nas últimas semanas. Vice-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, ele é apoiado por um grupo de empresários que pretende implantar uma gestão profissionalizada no clube, e tem apoio de Edmundo. Ao falar sobre a situação financeira do Vasco, Brant garante que pode levar a arrecadação do Vasco dos atuais R$ 160 milhões para R$ 270 milhões em três anos. E faz uma promessa milionária: diz que já tem acertado um empréstimo de US$ 50 milhões (equivalentes hoje a R$ 113 milhões) para o clube, dinheiro que entraria em até seis meses no caixa vascaíno.

— Tenho uma carta de compromisso de um fundo de Dubai de dar uma linha de crédito de US$ 50 milhões ao Vasco. Que consegui por relações pessoais minhas, o único ponto a resolver será o clube apresentar as garantias. Um dinheiro que daria para pagar dívidas caras, de curto prazo e juros altos, construir um CT e investir no time. Fora isso, é viável aumentar a arrecadação. O clube não tem credibilidade para conseguir bons patrocínios. A área de licenciamentos é fraquíssima, inexistente.

O advogado Roberto Monteiro, vice-presidente do Conselho Deliberativo e candidato da chapa Identidade Vasco, fala em atrair investidores ao clube como principal forma de gerar receita. Ele promete ainda dar mais transparência ao diagnóstico da dívida vascaína e às ações financeiras:

— Administrado de forma séria, o Vasco tem enorme potencial. Vou trazer investidores para o clube, fazer parcerias. Por exemplo, parceria em direitos econômicos de jogadores, do profissional e da base também. E é possível sim conseguir melhores contratos de patrocínio que os atuais.

Nelson Rocha, ex-vice-presidente de Finanças no primeiro mandato de Dinamite, defende que, a curto prazo, a melhor forma de aumentar a arrecadação é turbinar o programa de sócio-torcedor:

— A longo prazo, o caminho é foratelcer a marca e explorar o marketing. A curto prazo, fortalecer o programa de sócio-torcedor e usar melhor São Januário: podemos negociar espaços da área vip para empresas, por exemplo.

Tadeu Correia, ex-vice do Departamento Infanto Juvenil na gestão de Dinamite é o outro candidato. Ele pretende trazer profissionais para cada área do clube:

— O Vasco não tem em áreas estratégicas pessoas preparadas. É preciso profissionalizar a gestão do clube.

Fonte: O Globo online