Carlos Germano: 'Temos preparado a casa para o Vasco ter goleiro por dez anos'

Sábado, 12/07/2014 - 10:14
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A temporada passada trouxe de volta um velho problema que parecia sem solução no Vasco entre o fim de 2004 e 2009. Com o mau rendimento dos goleiros, o revezamento foi constante e as críticas colocaram abaixo o trabalho desenvolvido por Carlos Germano. Formado por apostas, o trio foi apontado como um dos responsáveis pelo rebaixamento - e apenas Diogo Silva, com nova chance, permanece integrado. A longo prazo, no entanto, o ídolo do clube e preparador da posição planeja pôr um fim no problema e já tem dois trunfos na manga: Jordi e Gabriel Félix.

Ambos treinam com os profissionais sob a esperança de repetirem ao menos parte do sucesso de nomes como Barbosa, Mazaropi, Acácio, Helton, Fábio e o próprio Germano, titular entre 1992 e 1999 e campeão sete vezes. Além deles e de uma linha de outras promessas mais jovens, o Vasco também investe em Rafael Copetti, que chegou em junho e busca dar a volta por cima após ser revelado pelo Inter e ter tido passagem sem brilho pelo Benfica, de Portugal.

- Quando parei, minha intenção era ser treinador de goleiros. E no Vasco. Precisava fazer algo para ajudar na minha posição. A intenção era sempre estar de olho na base para ter ideia da formação de cada um. No tempo que estive fora do clube, muita coisa deu errado e, desde a saída do Fábio, contrataram muito para a posição. Antes, era natural colocar goleiros feitos em casa. O Vasco sempre teve boa base e se perdeu no caminho - ressaltou Germano.

Everton, Tadic, Erivélton, Ellinton, Roberto, Fabiano, Tiago, Rafael... estes são alguns dos que vestiram a camisa 1 sem jamais convencer na reta final da gestão de Eurico Miranda. Acaso ou não, nenhuma taça foi conquistada no período. Até que Fernando Prass se firmou e possibilitou que a retomada da captação da garotada acontecesse a seu tempo. A crise financeira deflagrada em 2012 causou uma debandada de atletas, e o goleiro foi um dos que saiu. Para seu lugar, o então diretor René Simões trouxe Michel Alves, e Alessandro, reserva, também teve espaço. - Houve muitos revezamentos. Não tem situação pior para a posição. Quando voltei, em 2008, passamos a observar os outros times menores e os campeonatos desde o mirim. Com um garoto de 14 anos, você já pode fazer um trabalho legal e hoje temos dois goleiros no grupo principal que estão despontando. Temos preparado a casa para o Vasco ter goleiro por dez anos ou até mais dependendo do que vem. Com a qualidade deles, a vida vai ser longa no clube - prevê.

Ao deixar São Januário antes do Mundial de Clubes, por falta de acerto na renovação de contrato com Eurico, Germano lembra que se preocupou com a entrada de Hélton, de 21 anos. Embora confiasse no potencial, fez questão de passar o maior tempo possível no hotel onde a delegação estava concentrada para transmitir força ao sucessor. Ter ficado fora do torneio foi duro, mas o ex-goleiro revela que fez as pazes com o ex-presidente em 2006, quando pediu para manter a forma em sua antiga e foi recebido e braços abertos, preparando terreno para a nova função.

CARINHO, PACIÊNCIA E BRILHO NOS PÊNALTIS

A contratação do experiente Martín Silva, que disputou a Copa pelo Uruguai, serve de segurança no setor até 2016, quando termina seu vínculo. Carente, a torcida já o adotou como um xodó pelo que mostrou no Campeonato Carioca. A credencial de vice-campeão da Libertadores e como um dos destaques do Olímpia também facilitam. Portanto, a maior virtude de Copetti, Jordi e Gabriel Félix será a paciência, uma vez que Diogo Silva, que pode ser emprestado até o fim do ano, também está à frente e comprovou sua evolução antes da paralisação da Série B.

Natural de Volta Redonda, Jordi está com 21 anos e ficou conhecido pela torcida no título da Taça BH de 2013, quando fechou o gol, inclusive pegando quatro pênaltis. Acostumado a ter que esperar a vez e a superar dificuldades, ele garante que compreende o cenário e não se apressa.

- Já trabalhamos com a certeza de que o Martín vai estar aí. Por ser novo ainda, é claro que eu tenho que esperar. Mas sempre com o pensamento de jogar, então preciso estar pronto. Se acabar relaxando, não damos o máximo quando o dia chegar - ensinou.

- Tem que ter sorte também. Falo isso para eles sempre. Eu, Hélton e Fábio, por circunstâncias do futebol, entramos muito jovens. Uma proposta de fora, convocações, lesão... o futebol é cada vez mais dinâmico, e a oportunidade não avisa - emendou Carlos Germano.

O carinho antecipado da torcida é fácil de perceber. Em viagens, os garotos são assediados pela história que já construíram no Vasco e aprendem a valorizar ainda mais o que vivem. Jordi foi pedido pelo público para salvar a queda no fim de 2013, mas estava machucado. Com Jefferson, do Botafogo, como referência atual, evita comparações e diz que quer criar seu próprio estilo. Pelo corpo e qualidade nos pênaltis, no entanto, Dida é sempre lembrado.

Aliás, ser bom na marca da cal é uma característica dos três. Copetti fazia no Colorado o que Krul fez na Holanda, nas quartas de final contra a Costa Rica: entrava às vezes somente para defender as cobranças. E foi capaz de conter a pressão até no Mineirão. Desconhecido no Rio de Janeiro, o goleiro de 23 anos enaltece a escola gaúcha na qual surgiu Taffarel e, mesmo com a consciência de que seria reserva, não titubeou em aceitar o convite do Vasco.

- Todo mundo quer jogar. Mas foi feito um acordo entre os clubes e eu queria voltar para o Brasil. Quando as coisas não vão como a gente espera, tentamos arriscar. Senti dificuldades lá, era tudo bem diferente, do gramado aos treinos. E tive uma lesão grave. Tenho o intuito de um dia voltar para a Europa, mas a chance aqui apareceu e qualquer um na minha situação não pensaria duas vezes em vir para o Vasco - diz Copetti, que pouco jogou pelo Benfica B e corre por fora na disputa, ainda que tenha sido observado contra o Atibaia.

Com a trajetória parecida com Jordi, Gabriel se espelha no companheiro nos próximos dois anos, quando poderá comprovar seu valor ao "descer" para defender o clube nos torneios de juniores. Oriundo de Barra do Garça, ele passou por Goiás e Paraná até ser encontrado por Marcelo Pires, preparador da base, a quem sempre demonstra uma grande afeição pelos conselhos que deu.

- Tenho consciência de como é a vida de goleiro. Estou aqui para aprender e fazer a minha parte agora. Me considero um privilegiado. Quero me destacar e buscar o bicampeonato da Taça BH até para ganhar ritmo de jogo e estar cada vez mais pronto - disse.

As gerações futuras também já estão sendo preparadas no CT de Itaguaí. João, Yuri e Lucão são alguns dos meninos que vêm enchendo os olhos e sendo lembrados até as seleções da base.

Questionado sobre o assunto, Carlos Germano é contra emprestar seus pupilos para ganhar bagagem. Ele acredita que agir dessa forma pode prejudicar o trabalho.

- Quando falam, digo que sou contra, porque os vejo jogando aqui. É questão de tempo. Estão aí para brigar, vão buscar a vaga deles. A não ser que partisse deles, mas não é o caso agora. Sair para jogar num time sem tanta tradição e desestruturado e de repente não dar certo não seria bom. Fica difícil até para voltar na mesma condição e confiança de antes - argumentou.

Com seu trabalho em xeque por causa do desempenho dos goleiros em 2013, o preparador se apoiou no respaldo interno e acredita que foi mal interpretado em certas declarações. A idolatria do torcedor, nestas horas, também o tornou mais visado de uma maneira geral.

- Critiquei o revezamento. Mas nunca banquei que eles iriam resolver. Disse uma vez que se era para trazer quem não estava jogando, era melhor deixá-los. Houve mudanças constantes, que eu era contra. Foi como em 2008. Se repetíssemos isso, o caminho seria o pior possível. Na linha já é ruim fazer isso, imagina para o goleiro. A culpa do time foi colocada nas costas dos goleiros. Buscamos outros que eu indiquei em abril (como Marcelo Grohe, do Grêmio, e o próprio Martín), depois em agosto, mas a parte financeira não ajudava. Por ter sido vitorioso no clube, a cobrança é sempre maior para mim. Mas tiro de letra, tenho que trabalhar para o clube. Meu maior sonho sempre foi esse, e agora estamos podendo concretizar aos poucos: descobrir talentos na base para não precisar mais pensar em contratar goleiro fora nas próximas décadas - reforçou.

Fonte: GloboEsporte.com