Veja reportagem do 'Jornal Nacional' sobre a briga entre torcedores de Atlético-PR e Vasco em Joinville

Terça-feira, 10/12/2013 - 02:23
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(Veja o vídeo clicando aqui)

A Polícia Militar de Santa Catarina culpou, nesta segunda-feira (9), o Ministério Público Estadual, pelo fato de não haver PMs dentro do estádio de Joinville no jogo deste domingo (8), entre Atlético Paranense e Vasco.

As imagens da selvageria na briga de torcedores foram reproduzidas pelos principais meios de comunicação do planeta.

As redes de televisão americanas CNN e ABC destacaram as cenas de violência na arquibancada. A página da rede de TV inglesa BBC, na internet, afirmou que a temporada do futebol brasileiro terminou em briga.

Na Espanha, o jornal “El País” foi mais incisivo e chamou o confronto de batalha campal - lembrando que o episódio aconteceu a seis meses da Copa do Mundo, e o jornal “Le Monde”, da França, reproduziu a manifestação da presidente Dilma na qual ela afirma que não se pode mais tolerar a violência dentro dos estádios brasileiros.

Eram 15 minutos do primeiro tempo quando foi possível ver torcedores do Atlético Paranaense pulando o cordão de isolamento para correr em direção à torcida do Vasco. Não é possível ver se torcedores cariocas também saltaram o cordão.

Nas imagens, é vemos que três homens de laranja e um de preto vigiam o cordão do lado da torcida paranaense. E outros quatro, o lado da torcida do Vasco.

Cerca de 30 segundos depois, as câmeras já mostram o confronto.

Mesmo já no chão, um homem é pisoteado na cabeça. Um outro rapaz aparece segurando um pedaço de madeira nas mãos. Ao todo quatro torcedores ficaram feridos e tiveram que ser encaminhados para o hospital.

“Ferimentos, principalmente na região do crânio e da face, causados pelas agressões. E todos com um quadro bem similar de traumatismo na região da cabeça”, explica Arnoldo Boege Junior, coordenador de pronto-socorro.

As imagens registram a primeira intervenção policial em 1 minuto e 45 segundos depois.

Isso porque não havia policiais dentro do estádio. Ao todo, 90 homens de uma empresa privada eram responsáveis pela segurança. A PM estava do lado de fora, com 133 policiais.

O Comando da Polícia Militar disse que estava cumprindo uma recomendação do Ministério Público de Santa Catarina. O Jornal Nacional teve acesso a um ofício encaminhado pelo promotor Francisco de Paula Fernandes Neto ao comandante do batalhão de Joinville. O promotor alega que "a atividade de futebol profissional é de natureza lucrativa, privada" e "a manutenção das regras do espetáculo e do patrimônio são de responsabilidade do promotor do evento e não da segurança pública".

“Ali é um espetáculo de cunho privado e tem que ser atendido por segurança privada. Se tivesse acontecido o fato com a polícia militar lá dentro, o que poderia ter ocorrido? Nós hoje estaríamos discutindo ‘o Ministério Publico disse que o senhor não poderia entrar – por que o senhor entrou?’”, disse o coronel Adilson Moreira, comandante da PM.

O promotor nega que tenha impedido a PM de atuar dentro do estádio, mas reconhece que houve um questionamento sobre o uso da polícia para fins privados.

“Segurança pública é voltada para o público e o público está nos locais de acesso ao público. O campo de futebol onde os artistas se apresentam juntamente com os árbitros não é acessível ao público, ali não precisa segurança pública. Deve ser segurança privada”, destaca Francisco de Paula Fernandes Neto, promotor de Justiça.

Um levantamento feito pelo Jornal Nacional em 11 estados, concluiu que o trabalho de segurança dentro dos estádios mais importantes do país é tarefa das policias militares. Em alguns casos a PM recebe apoio adicional de agentes privados.

Três torcedores foram presos em flagrante e permanecem detidos no presídio de Joinville. Eles vão responder por tentativa de homicídio associação para o crime, furto e por incitar a violência em um evento esportivo. A polícia diz também que já identificou outros envolvidos e vai apurar a responsabilidade de cada um deles.

“Vamos buscá-los e a Polícia Civil vai então alcançar todos aqueles indivíduos que tiveram qualquer participação e responsabilizá-los na medida em que eles participaram”, afirma Dirceu Silveira Junior, delegado regional de Joinville.

Cidinei estava em casa, assistindo ao jogo pela TV, quando se deu conta que o filho estava no meio de uma cena de guerra. “Eu vi ele sendo carregado numa maca e na hora eu não reconheci. Eu nunca podia imaginar que ele estivesse naquela situação, sendo levado para o helicóptero inclusive”, conta.

O filho dele, Willian Batista da Silva, de 19 anos, é o único que continua internado. Foi o torcedor que sofreu os ferimentos mais graves durante a confusão.

Em São Paulo, durante vistoria na Arena Corinthians o ministro do Esportes defendeu a aplicação do Estatuto do Torcedor para casos de violência e a prisão em flagrante de pessoas envolvidas em brigas como a deste domingo.

“Só três prisões foram efetuadas. Evidente que havia diante daquele conflito generalizado razões para prender um número muito maior de pessoas, daí a necessidade de uma delegacia especializada que recolha estes torcedores violentos. Então é preciso que haja prisão em flagrante, que haja o indiciamento dessas pessoas, que haja o processo judicial e a condenação”, diz Aldo Rebelo, ministro dos Esportes.

Segundo a legislação esportiva brasileira, o Atlético Paranaense, como clube mandante, era o responsável por garantir a segurança da partida. Em nota, o Atlético afirmou que lamenta os acontecimentos bárbaros. E que a diretoria administrativa e o conselho deliberativo tomarão providências para identificar os envolvidos e puni-los, se tiverem ligação com o clube.

Também em nota, o presidente da CBF, José Maria Marin, afirmou que vai concentrar todos os esforços, com a ajuda dos segmentos competentes, na discussão de propostas e projetos que consigam abolir definitivamente esses episódios de selvageria dos nossos estádios.

Segundo a polícia, os três presos ontem em Joinville são: Leone Mendes da Silva, Arthur Barcellos de Lima Ferreira e Jonathan Santos - todos torcedores do Vasco. E um ex-vereador de Curitiba foi identificado no meio da batalha. Juliano Borghetti, do PP, Partido Progressista, atualmente ocupa o cargo de superintendente na Ecoparaná - uma empresa subordinada à Secretaria Estadual de Turismo do Paraná. Flagrado nas imagens, ele disse estar arrependido. E negou ter agredido ou ter sofrido agressões durante a briga.

A procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva recomendou, no meio da noite desta segunda-feira (9), que o Atlético Paranaense seja punido com a perda do mando de campo em 20 partidas. E o Vasco, em 10 jogos.

Fonte: Site do Jornal Nacional - G1