Eurico Miranda: 'Cada vez elitiza mais, até nos estádios. O estádio deixou de ser o povão'

Segunda-feira, 02/12/2013 - 13:32
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Em evento na manhã desta segunda-feira, no Pacaembu, em São Paulo, o ex-presidente do Vasco Eurico Miranda fez duras criticas ao futebol brasileiro. Exaltado, o dirigente, que foi duas vezes deputado federal, condenou a elitização que a modalidade vem sofrendo, dentro e fora de campo.

Os maiores problemas citados pelo cartola foram os altos salários pagos para os jogadores e o abismo existente entre os grandes clubes do eixo Sul-Sudeste e os pequenos espalhados pelo Norte e Nordeste do Brasil.

"Eu criei uma competição chamada Copa do Brasil. Foi criada por mim. Ela tinha 32 clubes; hoje tem 84, por causa da TV. O dirigente vai lá para um cara desse - o jogador de futebol -e combina um salário de R$ 800 mil por mês, nas férias, no descanso, na pré-temproada, quando o cara está machucado. Porque esse cara vai receber. Agora, o cara que ganha um salário mínimo, não vai receber nunca", falou o dirigente durante simpósio da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf), que também conta o zagueiro do Corinthians Paulo André - líder do Bom Senso FC, e o presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro.

De acordo com Eurico Miranda, quem fala que os campeonatos regionais devem acabar não está pensando nos atletas que estão fora dos principais times do país.

"A mídia fala que o regional tem de acabar. Tem de acabar para esses privilegiados, porque a maioria dos jogadores fica sem jogar. Eles vão jogar o quê? A Série B, C e D? Ou vão jogar os regionais? Infelizmente a gente trata o futebol por cima. Cada vez elitiza mais, até nos estádios. O estádio deixou de ser o povão, essa é a grande verdade. Cada vez mais se elitiza, e isso afunda cada vez mais o futebol brasileiro. A gente não pode querer decidir futebol apenas no eixo Rio-São Paulo. E no Maranhão? E no Acre? E no Amapá? E os times de futebol? Na Paraíba, dois times que subiram desistiram, não têm condições financeiras para participar. Agora vem gente e fala que a culpa é dos dirigentes, que fizeram dívidas. Tem nada que ver uma coisa com a outra. A chamada profissionalizacao do futebol brasileiro está levando a isso: o profissional quer ganhar R$ 200 mil por mês, mas esquecem que o jogador lá de longe ganha um salário mínimo", disse.

O ex-dirigente vascaíno falou ainda sobre a dependência que o futebol tem das emissoras detentoras dos direitos de transmissão.

"Vocês conhecem tudo isso. Nossa realidade é uma realidade muito dura, temos de servir a uma série de interesses. Quem faz o calendário é a televsião. Somos dependentes da televisão. Ela não quer saber se o torcedor vai trabalhar no dia seguinte às 6 da manhã. A televisão diz que tem que ter jogo todos os dias, para atender a grade", disparou.

Sobre o movimento Bom Senso, liderado pelos jogadores das principais divisões do país, Eurico Miranda não falou diretamente o que pensa, mas disse que é contra qualquer medida radical e qualquer tentativa de responsabilizar apenas os dirigentes esportivos.

"Eu sou a favor de qualquer movimento que esteja a favor de aprimorar o futebol. Só não sou a favor da radicalização, no sentido de escolher um culpado disso. Querem colocar a culpa disso no dirigente esportivo. Ele é o menos culpado. Ninguém se preocupa com o calendário de 90% dos jogadores, que não conseguem jogar 20 partidas, porque ficam desempregados. Eles só se importam com os que jogam 76, porque é isso que dá mídia", afirmou.

"Eu, sinceramente, não queria estar aqui, eu avisei antes. Não porque eu seja a favor da CBF, muito pelo contrário. Acho que eles fazem muita coisa errada. Mas já que eu vim, estou falando tudo que eu penso", completou o exaltado dirigente vascaíno.

Fonte: ESPN.com.br