Eurico: 'Eu não sou candidato, mas a probabilidade é grande pelo que estou vendo'

Domingo, 24/03/2013 - 00:39

Aos 68 anos, Eurico Miranda se mantém fiel ao velho estilo que o faz ser odiado e amado por milhões de vascaínos. Sem papas na língua, diz o que pensa, principalmente quando o assunto é sua paixão maior, o Vasco. Indignado com os rumos da gestão Dinamite, o polêmico dirigente ameaça voltar. Diz não suportar mais ver o Gigante da Colina ser humilhado devido a uma sucessão de erros de uma administração que considera caótica. Eurico reclama ainda de ser a eterna desculpa de todos os problemas de uma gestão que bate cabeça, apesar de estar no poder há quase cinco anos. Questiona o fato de a mídia supostamente fechar os olhos aos erros de Dinamite em represália a sua suposta volta. Retorno que ainda não foi sacramentado. Para se candidatar, ele terá que driblar a resistência da família e o apelo irresistível de sete netos, que o fazem "babar".

O DIA: O senhor será candidato a presidente na próxima eleição?

Eurico Miranda: Eu não sou candidato, mas a probabilidade é grande pelo que estou vendo. As coisas estão de mal a pior e a gente não vê uma luz, um caminho, uma tentativa de mudança. Há um problema terrível de gestão. O Vasco passou uma vergonha, mas não vai passar duas. Se tiver perspectiva de o Vasco cair de novo para a Segunda Divisão (do Brasileiro), eu não vou esperar coisa nenhuma. Vou tomar de assalto e expulsar esses vendilhões a pontapé, assim como Jesus expulsou os fariseus do templo. E garanto que levo uma legião atrás de mim. Não é possível aceitar passivamente essas coisas acontecerem e chorar depois. Isso é uma advertência. Não tem a menor chance de eu passar por isso pela segunda vez. Eles têm que tomar tenência.

Na sexta-feira, a torcida organizada do Vasco invadiu São Januário para protestar pelos maus resultados. Apesar da grave crise o Vasco tem saída?

No meu tempo não tinha essa coisa de invasão e se tivesse eu estava lá. Mas o Roberto não estava, não é? Hoje, o Vasco é uma vergonha. Não é vergonha pelos resultados no futebol, mas porque é um clube absolutamente sem administração, sem comando. O Vasco é uma instituição imortal. Tem saída, mas vai penar e sofrer com essa gestão.

Qual foi o maior erro da gestão Dinamite nestes dois mandatos?

Foram vários, mas o principal é que o Roberto não conhece administração. Ele está lá há dois triênios, mas não aprendeu nada. E não se aprende de uma hora para outra. Só porque ele jogou bola não quer dizer que possa administrar uma instituição como o Vasco. Ele não tem e nunca teve um plano de gestão e ainda seus aliados brigam por poder entre si.

Na sua análise, o presidente não é o único vilão da crise?

O Roberto é incompetente, omisso, mas não é o único vilão. Os maiores vilões se escondem. São aqueles que não tiveram coragem de aparecer e sempre comentavam nos bastidores que o Roberto seria o presidente da porta para fora. Que seria o queridinho da mídia enquanto eles poderiam fazer o que quisessem. Mas com a licença da palavra, só fizeram merd...! Quando o Roberto descobriu que era totalmente usado quis dar um grito de independência. Foi quando eles começaram a renunciar e a correr para todos os lados.

Por que muita gente o considera o vilão?

Muita gente pode achar que sou... Eu enfrentei a Rede Globo e quem contesta a Globo nesse país vira vilão. Eu sou vilão porque a mídia quis, mas quem me conhece sabe que eu não sou. E muitos me conhecem.

O senhor acha que este estigma aumentou após o senhor usar camisas com a logo do SBT na final da Taça João Havelange, em 2001?

O pessoal da Globo nunca vai me perdoar por isso. Nem que eu dure a vida toda. Mas eles sabem que têm que me respeitar. Sabem que se eu voltar é problema para eles. Recentemente, um editor do jornal deles chegou ao ponto de dizer em um programa de televisão que o Vasco era blindado, que não podia ser elogiado quando eu era presidente. Isso é um absurdo. Mas se me perguntassem se eu faria aquilo de novo, faria ainda muito mais.

Por quê?

Hoje eles estão mandando no futebol brasileiro sem nenhuma contestação. Aí eu sou vilão porque sou um contestador. Não ia admitir. Hoje os clubes estão deixando de ser a célula mater do futebol. O enfraquecimento dos clubes interessa. Hoje o horário, as competições do futebol são dirigidas pela TV. Quem comanda hoje o futebol brasileiro não é a CBF, nem as federações e os clubes. Quem comanda é a Globo.

O senhor acha que a mídia poupou a atual gestão com medo da sua volta?

Não tenho dúvida. É como se pensassem assim: eu não posso concordar que o Eurico estava certo. Concordar com uma coisa que eu ouço a toda hora do torcedor anônimo. “Eu era feliz e não sabia”.

Como senhor encara o fato de muita gente colocar na sua conta a queda do Vasco?

Entreguei o Vasco com todas as certidões em dia, o que permitiu que eles tivessem o patrocínio de uma estatal. Deixei todas as dívidas devidamente parceladas, acordos feitos e com R$ 10 milhões em caixa com a venda do Phillippe Coutinho. Era só manter, mas eles romperam todos os acordos como o do Habib’s para pagar indenização. Isso sem contar os R$ 300 mil de honorários do escritório de advocacia que a filha do vice-jurídico trabalhava. Escritório que era do presidente do Conselho Deliberativo do Flamengo. Um absurdo. Dentro de campo, deixei o Vasco em 8º lugar no Brasileiro, mas eles desmontaram a base, fizeram caça às bruxas. Hoje não tenho dúvida de que levaram o Vasco deliberadamente à Segunda Divisão para depois levantar e dizer que havia um ressurgimento. Inventaram uma coisa de o “sentimento não pode parar”. Mas o sentimento nunca parou. Não para. Quem é Vasco, morre Vasco.

Apesar dos problemas, tem saudade do Vasco?

Não diria saudade..... eu me revolto quando vejo o Vasco passar por situações que não passaria comigo. E não é porque eu tenha feito cursos, tenha diplomas, mas porque tenho 40 anos de Vasco. Passei por todas as divisões do clube. Por isso posso falar com autoridade que comigo não aconteceria, porque eu conheço o Vasco.

Sua família é contra a sua volta?

Claro que é contra. Assim como é contra eu pitar os meus charutinhos. Deixei de fumar, mas quando quero, fumo. Não tem vício que domine o homem. Só fui vencido pelo Vasco, não fui vencido por vício nenhum.





Fonte: O Dia