Alessandro comenta fim das decisões por pênaltis nos mata-matas dos turnos do Estadual

Quinta-feira, 28/02/2013 - 14:25

O regulamento do Carioca mudou, e aqueles que gostam de emoção além do último minuto precisarão se acostumar à nova realidade. Não haverá mais disputa por pênaltis nos jogos decisivos das Taças Guanabara e Rio. Podem esquecer aquela corrente de jogadores no meio de campo, o silêncio nas arquibancadas que antecede às cobranças e o frio na barriga no momento de cada chute. E sabe quem mais vai sentir falta disso tudo? Os goleiros, que encaram as disputas como uma grande oportunidade de se tornar heróis de seus times.

Nas semifinais da Taça Guanabara, marcadas para o próximo fim de semana, Flamengo e Vasco, que terminaram em primeiro lugar de seus grupos, jogam pelo empate contra Botafogo e Fluminense, respectivamente. Ainda assim, Felipe e Alessandro, que, se não levarem gols já estarão garantidos na decisão, admitem que vão sentir saudade das disputas. O camisa 1 do Flamengo, inclusive, foi mais incisivo na resposta, principalmente quando lembrou do brilho particular que viveu no Carioca de 2011. Na semifinal e final do primeiro turno daquele ano contra Botafogo e Fluminense, ele defendeu duas cobranças em cada jogo, após empate por 1 a 1 em ambas as partidas. Na decisão da Taça Rio, o Rubro-Negro derrotou o Vasco também nos pênaltis para garantir o título estadual invicto.

- É um charme que você perde. A torcida gritando e os jogadores dando força. É a chance de o goleiro aparecer. Uma oportunidade de ganhar moral com jogadores, torcida e diretoria. Por outro lado, nada mais justo do que beneficiar quem tem a melhor campanha. O primeiro classificado pode ganhar todos os jogos, empatar e perder nos pênaltis. É uma balança difícil. Até o Brasileiro mudou por isso. Mas não dá para negar que gosto muito desse momento - opinou Felipe.

Ele recordou quando se destacou pelo Rubro-Negro:

- Lembro muito bem daquelas disputas (em 2011) pela forma como foram (assista no vídeo ao lado). Cheguei desacreditado por grande parte e ainda tinha o histórico do Bruno, que era ídolo. Quem me bancou foi o Vanderlei (Luxemburgo). Se fosse mal, o torcedor já ia pensar diferente. Pude pegar dois pênaltis logo na primeira decisão. Aquilo alí já criou uma confiança.

Desde 2004, quando foi implementado o formato atual de disputa do Carioca, o Rubro-Negro jogou quatro disputas por pênaltis em um dos turnos e ganhou todas. Só em 2011, ano em que o Flamengo ganhou o título, foram três vitórias dessa forma. Se forem somadas as duas vezes em que venceu a decisão do Carioca nos pênaltis, em 2007 e 2009, ambas contra o Botafogo, o número aumenta para seis triunfos e nenhuma derrota. Este ano, a final do Carioca pode ter pênaltis, mas só em uma condição. Se os dois clubes fizerem o mesmo número de pontos na fase classificatória, somando os dois turnos. Caso contrário, quem tiver a melhor campanha joga por dois resultados iguais.

O rival de Felipe na semifinal de domingo, às 16h, também já se deu bem nos pênaltis e se sente um pouco órfão com o fim das penalidades. Apesar de não ter brilhado em uma disputa no Carioca, foi em uma cobrança de pênalti durante um jogo, contra o próprio Flamengo, que Jefferson ganhou destaque pouco tempo depois que retornou ao Botafogo. Na final da Taça Rio de 2010, ele defendeu uma cobrança de Adriano e ajudou a equipe na vitória por 2 a 1, que deu o título estadual ao Alvinegro. O camisa 1 aproveita para fazer uma sugestão para os próximos regulamentos:

- Nas semifinais eu acho até justo, mas nas finais as equipes deveriam entrar em igualdade de condições. Vejo como merecimento pelos clubes terem chegado até ali. Favorece o espetáculo, não pelos pênaltis em si, mas por evitar de um time jogar baseado no regulamento. O jogo fica mais franco. Não tem como negar que para nós era uma oportunidade a mais de brilhar. Não é algo que a gente quer que aconteça, é sempre bom resolver o jogo antes - explicou Jefferson.

Disputa que mais se repetiu foi entre Flu e Vasco

A disputa por pênaltis que mais se repetiu no Carioca desde 2004 foi entre Fluminense e Vasco, clássico que no próximo sábado, às 18h30m, decidirá uma das vagas na final do primeiro turno deste ano. Das 15 vezes em que houve a disputa, três confrontaram tricolores e cruz-maltinos. O Fluminense leva vantagem por ter vencido duas vezes, nas semifinais da Taça Rio de 2005 e 2008 (ver vídeo abaixo), enquanto o Vasco levou a melhor na semifinal da Taça Guanabara de 2010 (ver vídeo acima). O goleiro vascaíno Alessandro faz coro com Felipe e Jefferson e afirma que os pênaltis tornam os clássicos mais saborosos. Ele ganhou a vaga de titular no time quando Fernando Prass deixou o clube no início do ano e fará o primeiro jogo decisivo pelo Cruz-Maltino.

- Todo goleiro gosta de uma disputa por pênaltis, até porque a responsabilidade é do batedor. A chance de um goleiro se consagrar é maior. Por outro lado, é mais justo com quem tem a melhor campanha levar vantagem. Olhando pelo lado do goleiro, faz uma falta tremenda. A maioria dos goleiros consagrados defendeu pênaltis em uma disputa ou em uma decisão. A gente nunca quer que vá para os pênaltis, mas, se for, é muito melhor para nós do que para o batedor. Ninguém lembra de quem fez, mas de quem perdeu e de quem defendeu - disse.

Mas há também quem não faça a menor questão dos pênaltis, mesmo já virando herói por defender cobrança de um ídolo rival. Diego Cavalieri, que pegou o chute de Loco Abreu na semifinal da Taça Guanabara de 2012 e garantiu o Fluminense na decisão do primeiro turno, não vê dano algum aos arqueiros pela mudança do regulamento.

- Este ano optaram por outro regulamento, que dá ao primeiro colocado vantagem. Não vejo como uma coisa ruim, principalmente para o goleiro. Não é uma decisão por pênaltis que vai fazer de um goleiro herói ou não. O importante é a regularidade e ter o equilíbrio. Claro que nos pênaltis, quando o goleiro vai bem, ganha destaque. Mas todos têm responsabilidade. Não adianta só o goleiro defender, os cobradores têm de fazer também - disse o tricolor.

Vitória do Boavista sobre o Flu foi a maior zebra dos pênaltis

A única vez em que um clube pequeno eliminou um grande nas penalidades aconteceu em 2011. Na semifinal da Taça Guanabara, o Boavista venceu o Fluminense, que havia conquistado o título brasileiro poucos meses antes. Após empate por 2 a 2 no tempo normal, Conca, principal ídolo tricolor à época, desperdiçou uma das cobranças e virou o vilão da disputa. O clube de Saquarema venceu por 4 a 2, e o goleiro Thiago saiu como herói.

- Foi uma das melhores sensações que tive no futebol até hoje. Infelizmente, aqui no Brasil o segundo lugar dificilmente é valorizado. Lógico que durante a semana da final estávamos todos supervalorizados. Como perdemos, ainda mais com um gol do Ronaldinho, o foco ficou todo no Flamengo. Mas é sempre gostoso lembrar daquela semifinal e do sentimento de sair do Engenhão, encontrar minha esposa e meu filho orgulhosos por eu ter sido decisivo. Acho justo que o time de melhor campanha leve vantagem. Porém, para o bem do campeonato, seria interessante que não houvesse essa vantagem. Certamente ninguém gosta de decidir uma vaga nos pênaltis, além dos goleiros, claro. É a chance que temos de brilhar - lembrou Thiago.

Houve apenas mais uma disputa de um clube grande contra um pequeno. Na semifinal da Taça Guanabara de 2004, o Vasco levou a melhor sobre o Friburguense depois do empate por 1 a 1 no tempo normal.

Goleiro do Duque de Caxias apoia novo regulamento

Se quase todos os goleiros dos grandes clubes garantem que vão sentir saudades dos pênaltis, Getúlio Vargas, arqueiro do Duque de Caxias, pensa diferente. Mesmo sabendo que, se conseguir chegar a uma semifinal dificilmente ficará em primeiro lugar, ele afirma que o regulamento valoriza a competição inteira:

- Eu tenho uma visão de futebol diferente. Acho que é um momento em que o goleiro pode passar a ser protagonista. Em contrapartida, eu acho que isso também faz com que as equipes se preparem melhor para os turnos. Requer um trabalho. Olhando como um todo, é mais justo e mais produtivo. Agora vai obrigar as equipes de maior porte a entrar desde o início querendo ganhar. Sinceramente eu prefiro que seja assim, é mais justo.

Vilões dos pênaltis nas semifinais e finais de turno

- Loco Abreu: na semifinal da Taça Guanabara de 2012, o atacante uruguaio perdeu o pênalti decisivo. Após a defesa de Cavalieri, o Tricolor eliminou o rival e passou à final.

- Conca: na semifinal da Taça Guanabara de 2011, o meia argentino perdeu uma cobrança. A defesa do goleiro Thiago, do Boavista, tirou o Fluminense da decisão do primeiro turno.

- Pablo: recém-promovido ao elenco principal, o garoto perdeu o pênalti que eliminou o Vasco na semifinal da Taça Rio de 2008, contra o Fluminense.

- Dudar: o zagueiro do Vasco foi vilão duas vezes em 2007. Na semifinal da Taça Guanabara, contra o Flamengo, e na semifinal da Taça Rio, contra o Botafogo.

Decisões por pênaltis desde 2004 (Taça Guanabara e Taça Rio)

- Botafogo 1 (3) x (4) 1 Fluminense - Semifinal da Taça Guanabara 2012
- Vasco 0 (1) x (3) 0 Flamengo - Final da Taça Rio 2011
- Fluminense 1 (4) x 1 (5) Flamengo - Semifinal da Taça Rio 2011
- Flamengo 1 (3) x (1) 1 Botafogo - Semifinal da Taça Guanabara 2011
- Fluminense 2 (2) x (4) 2 Boavista - Semifinal da Taça Guanabara 2011
- Vasco 0 (6) x (5) 0 Fluminense - Semifinal da Taça Guanabara 2010
- Fluminense 1 (5) x (4) 1 Vasco - Semifinal da Taça Rio 2008
- Botafogo 4 (4) x (1) 4 Vasco - Semifinal da Taça Rio 2007
- Volta Redonda 1 (4) x (5) 1 Cabofriense - Semifinal da Taça Rio 2007
- Vasco 1 (1) x (3) 1 Flamengo - Semifinal da Taça Guanabara 2007
- Cabofriense 1 (3) x (4) 1 Madureira - Semifinal da Taça Rio 2006
- América 1 (5) x (4) 1 Cabofriense - Semifinal da Taça Guanabara 2006
- Fluminense 1 (8) x (7) 1 Vasco - Semifinal da Taça Rio 2005
- Americano 0 (2) x (3) 0 Volta Redonda - Final da Taça Guanabara 2005
- Vasco 1 (5) x (4) 1 Friburguense - Semifinal da Taça Guanabara 2004

Fonte: GloboEsporte.com