René Simões fala sobre as categorias de base e elogia Mauro Galvão

Quinta-feira, 28/02/2013 - 14:39

O diretor-executivo do Vasco da Gama, René Simões, compartilhou na última quarta-feira (28/02) seu amplo conhecimento em categorias de base com os apresentadores, comentaristas e ouvintes do programa Só dá Base, do grupo Só dá Vasco. No Gigante da Colina desde dezembro de 2012, o profissional discorreu sobre alguns assuntos que fizeram parte do noticiário da base vascaína nos últimos meses.

René Simões falou primeiramente sobre os casos do atacante Thiago Mosquito e do lateral-direito Foguete, que deixaram o cruzmaltino após receberem propostas de outros clubes brasileiros. Na sequência, o profissional deu detalhes sobre o pacto firmado entre os grandes do Brasil. Tal acordo visa acabar com o 'roubo' de jovens atletas no país. O diretor também revelou que o cruzmaltino deve iniciar em breve um projeto grande de captação de atletas e explicou as contratações de Eron e Fábio Lima, que reforçarão o time de juniores.

A renovação do meio-campo Guilherme Costa, a atual situação dos jovens promovidos para o time profissional na atual temporada e a viagem de Matheus Índio, jovem promessa do juniores, para a Inglaterra também foram temas abordados por René, que ainda fez questão de elogiar bastante o trabalho que vem sendo realizado por Mauro Galvão.

Participaram do bate-papo com René Simões os apresentadores Carlos Gregório Júnior e Carol Rezende e os comentaristas Daniel Freitas, Lucas Bolzan, Temi Buarque e Thiago Alves.

Confira a transcrição da entrevista de René Simões ao Só dá Base:

Casos Mosquito e Foguete

"Terça-feira nós tivemos uma reunião com os presidentes e executivos dos quatro grandes clubes do Rio de Janeiro. Sei que o torcedor não gosta de ouvir isso, pois na cabeça dele o único grande é o Vasco. Mas é um momento de juntar forças, num momento da gente estudar forças. Todos os clubes estão com grandes dificuldades. O Fluminense está com dificuldades financeiras, o Flamengo com dificuldades financeiras, Botafogo com dificuldades financeiras e o Vasco com dificuldades financeiras. Está na hora de juntar todo mundo, pois os quatro juntos são mais fortes. Um só é fraco. Qualquer um dos times sozinhos são fracos. Digo isso porque nós perdemos o Mosquito por atrasos. Legalmente o Vasco perdeu o Mosquito. Os empresários entraram na justiça. O mesmo aconteceu agora com o Foguete, que também perdemos legalmente. Estamos fazendo um esforço nessa semana, até conversei com o Mauro Galvão nessa semana e chegamos a conclusão que precisamos colocar algumas coisas em dia. Temos que arrumar esse dinheiro de qualquer jeito para que os nossos jogadores estejam protegidos. O Mosquito legalmente saiu, não é uma coisa ilegal, mas é imoral. É imoral. Não é certo um outro clube pegar um jogador num momento em que o mesmo está passando por dificuldade. Foi isso que coloquei quando estava no São Paulo. Eu não aceitei em hipótese alguma que o Mosquito ficasse no São Paulo. Disse que ou ficava ele, ou ficava eu. Se ele ficasse, eu iria embora. Eu disse ao dirigente do São Paulo que ele não fez nada ilegal, mas eu acho imoral o São Paulo aceitar o Foguete. Nós vamos trabalhar para que aconteça nesse caso o mesmo que aconteceu no caso Mosquito. Por dois anos ele não pôde jogar porque os clubes se juntaram e ameaçaram não participar de nenhuma competição em que o Mosquito estivesse representando o Atlético Paranaense. Ele não foi convocado uma vez sequer para a Seleção Brasileira e isso forçou aos empresários a virem negociar com o Vasco da Gama. O valor é muito baixo? Claro que é, até porque legalmente o Vasco perdeu o jogador naquela época e se fosse ao tribunal ia perder tudo, mas pela pressão dos clubes esse jogador ficou incomodado, ficou sem evoluir e os empresários vieram nos oferecer esse dinheiro. É um dinheiro que vai nos ajudar até mesmo essas dívidas que nós temos com as divisões de base. O Foguete nós vamos fazer o mesmo movimento de todos os clubes para que ninguém participe de nenhum competição em que a base do São Paulo estiver presente. Se o torneio aparecer e a base do São Paulo estiver convidada para o torneio, os clubes não vão comparecer, vão inviabilizar o torneio. Moralmente a gente vai fazer uma pressão. Eu vou conversar com o pessoal da CBF para que esse jogador não seja convocado para a Seleção até que a gente sente, isso eu falei para o diretor do São Paulo, e faça um acordo. O Vasco tem que ressarcido de alguma coisa. Depois você leva o jogador e fica moralmente. Por enquanto não houve nada ilegal, mas para mim é imoral".

Ainda sobre o Caso Foguete

"O jogador foi aliciado. Quando eu falo em termos moral, é porque o Vasco tem centenas de jogadores. Se fosse uma coisa comum, cem por cento dos jogadores teriam saído do Vasco. Se ele saiu, é porque foi aliciado. Chegaram para ele e disseram: 'Sai daí meu filho, que eu vou te dar um dinheiro'. Aliás, nem foi o empresário dele que negociou. Roubaram o jogador do próprio empresário. Ele descobriu o caso e se reuniu conosco para encontrar uma solução, pois ele tem um documento assinado e o jogador fugiu dele também. É imoral essa coisa e estamos fazendo um esforço muito grande. Já fizemos uma reunião com o Mauro Galvão e combinamos de colocar tudo em dia nessa semana. Temos uma excursão no meio de abril, mais para o final de abril, para a Itália e eu mandei aceitar o convite. Disse que vamos nos virar para arrumar o dinheiro, até porque na minha concepção o Vasco precisa voltar a participar de torneios de fora do país. O Vasco precisa disso. Fizemos duas contratações. O Eron, que era do Ceará. Nós ligamos para o Ceará e consultamos o Ceará. Contratamos o Fábio Lima, que era do Atlético-GO, de uma forma legal. Conversamos com a diretoria e fizemos tudo certinho. Vamos reforçar a equipe do Vasco da Gama embaixo porque a gente entende que o Vasco só vai voltar a ser aquele Vasco perfeito na hora que a base estiver bastante forte. Por isso a gente quer dar todo apoio ao trabalho do Mauro Galvão".

Maior prejudicado na troca de clube

"Ele perdeu dois anos e poderia ter evoluído muito. Foi o que eu falei para o Adalberto Baptista, dirigente do São Paulo. Se isso ficar acontecendo direto, os empresários vão ganhar dinheiro com facilidade. Quem ganha é o aliciador, é ele que vai ganhar o dinheiro e não o jogador. O prejudicado é sempre o jogador nessa história".

Pacto entre os clubes

"Foi feita uma reunião por pedido do Ney Franco, quando ele ainda era diretor das categorias de base da CBF, com os vinte clubes da primeira divisão e os vinte clubes da segunda divisão na Granja Comary. Nos éramos quarenta. Lá nós discutimos sobre isso e eu levantei essa questão da ética. Disse que se nós se juntássemos ia acabar bastante essa questão de um clube está tirando jogador do outro. E como funciona? O jogador Foguete foi tirado e imediatamente o Vasco da Gama colocou na rede, nós temos uma rede de correspondência que agora já tem mais de sessenta clubes. Agora mesmo o Grêmio Prudente teve um jogador que foi tirado também pelo São Paulo de forma imoral. As informações da rede são divulgadas para todos os clubes presentes e todo mundo fica se posicionando. Espero que esse compromisso ético que todos assumiram não seja quebrado. Ninguém é obrigado a fazer isso, mas isso é uma defesa. Ou nós fazemos isso, ou nós vamos ter dois ou três clubes absolutamente muito fortes e outros muito fracos. Todos que estão com problema de dinheiro agora vão ver os clubes com dinheiro retirando os seus jogadores".

Evitando a saída de jogadores da base

"O que o Vasco precisa fazer é cumprir com seus compromissos. É não assumir compromissos que não possam. Eu sei que nesse momento a torcida adoraria ter contratações de altíssimo nível. Eu digo para você, não vou citar o nome, que nesses dias estava negociando com um jogador que está num clube. O salário dele no clube é 120 mil e começamos a negociar com ele. É de um grande clube de São Paulo. Aí ele jogou dois jogos no clube dele e a proposta dele de 120 mil passou para 250 mil reais. Não dá para você pagar 250 mil reais a esse jogador. Com esse valor você paga cinco meses de toda a base do Vasco. É inadmissível você não estar pagando a base e ter um jogador que ganha 250 mil no elenco. Se o jogador merece ou não, se ele tem muita qualidade ou não, isso não vou discutir. Eu quero os melhores jogadores, mas quando eu vou lá e contrato um jogador como esse corro o risco de não pagar a base. Era isso que estava acontecendo. Isso nos fez perder grandes e futuros jogadores porque nós montamos um time momentâneo e dando muito dinheiro para alguns. É preciso paciência agora, pois estamos fazendo algo para voltar a ser Ferrari que o Vasco deve ser".

Projeto de captação de atletas para a base

"Esse projeto vai ser liderado pelo Clovis Alberto de Oliveira, que é um treinador de muita experiência. Ele trabalho na Arábia Saudita, no Catar, nos Emirados Árabes, na Jamaica e trabalhou comigo por muitos anos. Ele vai ser gerente dessa área e nós vamos ter outras pessoas ligadas a ele que vão viajar, vão observar jogadores e vão fazer relatórios sobre esses jogadores. Nós vamos cruzar as informações de um, dois ou três caras que observaram sem avisar um ao outro. Depois nós vamos estabelecer o contato com vários pontos do Brasil e do exterior. Essas pessoas vão ficar credenciadas pelo Vasco da Gama e se descobrir algum talento ele vai ganhar um pequeno percentual no passe no momento em que o primeiro contrato profissional for assinado. Já temos as escolinhas credenciadas do Vasco, que é um trabalho muito bem feito pelo Brasil todo. Já temos muitas escolas pelo Brasil todo, mas queremos ter muito mais escolas. Já existem oito jogadores no Vasco que foram descobertos por essas escolas. Na hora que esse menino assinar esse primeiro contrato profissional, a escola franqueada ela recebe um pequeno percentual do passe do jogador. Isso estimula aos donos das escolas a procurar jogadores para o Vasco da Gama. Vai ser um projeto absolutamente amplo. O que acontece é que antigamente era muito fácil você observar os jogadores, até porque existiam campos em todos os lugares. Só que os campos foram sendo eliminados e agora você tem um processo de captação muito grande. Já não é todo garoto que joga bola. Alguns ficam atrás do computador. As opções por luta estão aí, o voleibol é uma opção também. Tem várias opções e você tem que criar ferramentas para que você possa ir até o jogador e trazê-lo para cá".

Contratações de Fábio Lima e Eron

"O Fábio Lima foi para o São Paulo por indicação de um treinador que tinha trabalhado no São Paulo e que estava trabalhando no Atlético-GO. Ele indicou esse jogador, nós contratamos e ele foi muito bem no São Paulo. Na Copinha desse ano ele foi o artilheiro do São Paulo nos três primeiros jogos. Houve alguma coisa lá, não sei se pelo fato da indicação ter sido minha, e o São Paulo acabou não exercendo a opção que tinha de comprar o jogador do Atlético-GO. Quando eu soube que ele estava de retorno ao Atlético-GO rapidamente fui atrás. O Eron foi indicação de um observador, que também fez trabalhos para o São Paulo lá no Nordeste. Ele me ligou e disse que tinha esse jogador. Eu liguei para o Ceará e falei que haviam me indicado um jogador deles. O dirigente do Ceará me disse que não havia renovado o contrato dele pelo fato de ter perdido o prazo. Eu perguntei se o Vasco estava livre para contratar o jogador e ele disse que estava. Contratamos o jogador".

Sobre Fábio Lima e Eron terem escolhido o Vasco por conta do projeto

"Eu fico satisfeito. Isso já aconteceu no profissional também. O Pedro Ken tinha uma proposta muito boa. O Vitória da Bahia queria comprar o passe dele junto ao Cruzeiro, o que seria financeiramente excelente para ele. O Pedro Ken optou em vir para o Vasco. Ele entendeu que o projeto do Vasco é bom e que embora ele vá sofrer um pouco no início, a perspectiva é muito maior. Ainda ontem eu estava com um empresário e tem um jogador que ele estava oferecendo para a equipe profissional. Esse jogador está ou estava quase negociado com dois clubes do sul, mas eles entendem que o Vasco da Gama é muito mais poderoso. Nós estamos pensando e vendo uma forma de trazer esse menino. Se a gente arrumar o patrocinador devemos trazer esse jogador, mas tudo por conta do empresário deles. Eles já estavam contactados com clubes do sul e optaram em colocá-lo no Vasco caso a gente consiga arrumar um patrocinador. Ele prefere o Vasco da Gama. A gente fica feliz, pois o Vasco continua sendo uma Ferrari. Agora é consertar o motor, desempenar algumas coisas e colocar pneus novos. O Vasco é muito grande, muito poderoso e tem que ser respeitado sempre".

Renovação de Guilherme Costa

"Nós tivemos já a primeira conversa com o pai do Guilherme e ele ficou de retornar. No dia que conversamos ele ficou muito satisfeito e disse que estava tudo certo. Daí eu mandei ele ir para casa e pensar em tudo que conversamos, no projeto que nós queremos e no projeto que queremos fazer para o Guilherme. Se realmente for o que ele esperava, vamos assinar contrato. Foi assim que combinamos. Está marcada uma reunião. O Renato estava esperando alguma coisa, Renato é o agente dele, para que a gente assinasse a renovação do Guilherme. Acho que vai ficar tudo bem".

Utilização dos garotos no time profissional

"Um empresário me procurou e disse que o Vasco tinha que colocar os garotos para jogar, que esse era o momento. Eu discordo. Acho que o momento para colocar garoto para jogar é quando a equipe está muito bem, muito confiante e está tudo bem. Quando você chuta a bola na direção da bandeirinha de escanteio e ela bate num jogador e entra no gol do adversário. Quando o adversário faz gol contra ou você ganha com um pênalti aos quarenta e oito minutos. Quando tudo está ocorrendo dessa forma tem que aproveitar e colocar os garotos, pois eles vão embora. O time leva. Num momento como esse, num momento em que você está trocando todas as peças, num momento em que o clube passa por muitas dificuldades, você colocar os garotos e mandar eles resolverem, posso dizer com toda certeza que você vai queimá-los. Acho que o Ricardo Gomes com toda sabedoria, com toda experiência, está utilizando isso com muito cuidado, com muito critério. Provavelmente alguns deles terão que dar uma saidinha para voltar, como foi o Wellington Nem. O Nem deu uma saída e voltou absolutamente maduro. Isso provavelmente deve acontecer com alguns desses jogadores. Vão lá, jogam, enfrentam algumas dificuldades e depois volta mais maduros. Essa fase de transição é uma fase em que se precisa muita inteligência. O Ricardo sabe fazer isso com muita maestria".

Empréstimo de alguns jogadores da base que foram promovidos

"Tem vários clubes interessados por esses jogadores. O tempo todo eles pedem o empréstimo. São times que estão disputando campeonatos estaduais e vão disputar a Série B. Acho que estamos no caminho certo e o torcedor vascaíno pode ter certeza que o Ricardo e o Gaúcho vão saber fazer essa transição com muita calma, com muita tranquilidade, para que nenhum dos garotos sejam queimados".

Rodízio de jogadores da base no time profissional

"A ideia é você trabalhar com poucos jogadores. O Barcelona, por exemplo, trabalha com 22 jogadores na equipe profissional e com mais 22 jogadores na equipe 'B'. Você não precisa mais do que isso. O Vasco ano passado num determinado momento teve 40 jogadores na equipe profissional. Você vai para um jogo com 18 jogadores e deixa 22 jogadores fora da lista. São 22 jogadores insatisfeitos. O treinador tem que estar trabalhando com esses 22 jogadores para que esses 22 jogadores se sintam dentro do contexto, dentro do grupo. Difícil trabalhar isso. Depois quando quer individualizar o treinamento como é que você faz com 40 atletas. Você tem quase quatro jogadores por posição. Como você vai treinar uma defesa se você tem oito jogadores na defesa. Se for fazer trabalho individualizado, vai ficar gente chutando e tendo um contato com a bola muito pequeno. A ideia é que a gente tenha 22 jogadores no profissional e os outros onze jogadores sejam da base enquanto a gente não cria um time 'B'. Quando a gente criar o time 'B' vamos ter tranquilidade para ter 22 em cada uma das equipes".

Sobre vender ou manter jogadores da base

"A linha de conduta que a gente quer nessa gestão profissional é que a categoria de base não apenas venda jogadores, mas que forneça jogadores para a equipe de cima. Essa é a linha de trabalho nossa. Não posso falar das gestões anteriores pelo fato de não estar trabalhando nelas. Pode ser que eles tenham precisado vender determinado jogador para pagar salário ou arcar com algo. Posso garantir que a gente vai evitar ao máximo fazer isso. A gente vai tentar nesse momento e vai ser difícil, mas quando a gente já estiver com o novo patrocinador master na camisa, com um patrocinador de manga e fazendo a venda de produtos, vamos ter uma entrada de receita para o clube. A partir do momento que você estiver com tudo dia, não precisará vender o jogador novo. Vai fazer com que ele seja um jogador de potencial e ajude ao time profissional. Essa é a linha filosófica que a gente está pensando em seguir".

Matheus Índio fica?

"O jogador não vai deixar o Vasco. Ele foi ao Arsenal agora, mas isso é uma estratégia do clube inglês de pagar jogadores, levar o pai e mãe para conhecer. Ele não vai sair do clube não".

Mauro Galvão

"O Mauro Galvão está fazendo um trabalho ótimo. Estamos sempre em contato. A cada quinze dias nós temos uma reunião. Acho que a base do Vasco vai revelar bons jogadores com o trabalho dele".

Com informações do Programa Só dá Base/Só Dá Vasco.

Fonte: Só Dá Vasco/Supervasco