Cristóvão completa 1 ano como técnico: 'Trocando o pneu com o carro andando'

Terça-feira, 28/08/2012 - 10:03

A sirene da ambulância na qual Ricardo Gomes deixou o Engenhão já está em silêncio. Um ano depois, quem faz barulho é a torcida do Vasco, há quatro jogos sem comemorar uma vitória. A pressão, porém, não abala a confiança do técnico Cristóvão, que, tanto no ano passado como no atual, sempre manteve o time, rodada por rodada, entre os quatro primeiros do Campeonato Brasileiro.


Há exatamente um ano, Ricardo sofriu um AVC e você começava sua história como técnico do Vasco. Que leitura tem do passado?

A grande marca foi o jeito como aconteceu. Uma coisa maluca que caiu no meu colo. Aquele mês foi terrível. Ricardo corria risco de vida, tive que superar uma série de coisas e abafar outras. Hoje, quando olho pra trás, sinto orgulho do trabalho.

O saldo é positivo?

Fazendo uma análise das equipes do porte do Vasco, vejo que nenhuma conseguiu ficar tanto tempo entre as quatro primeiras do Campeonato Brasileiro.

O time que você assumiu em 2011 era melhor que o atual?

Melhor, não. As características mudam. Aquele era um time forte. Defensivamente, tinha força e velocidade, características que a gente trocou nessa temporada por uma maior qualidade técnica. Esse ano, só fui achar o equilíbrio na Libertadores. Quando achei, o clube perdeu jogadores importantes.

Considera que, após as perdas, seu time ainda é forte?

Esse meu time é muito bom. A contusão que o Eder Luis teve atrapalhou. Ele não entrou em forma. Só temos o Alecsandro de atacante. Outro que vai ajudar é o Tenório, que ainda não jogou uma partida inteira.

A cobrança hoje é maior do que no ano passado?

Sim. Tenho sido bem cobrado agora, até porque durante todo esse tempo a gente teve regularidade. Sei por que a gente caiu. Não está fácil, mas a meta é o título.

O Vasco está na briga?

Vai brigar pelo título, sim. Temos força. Há elencos mais fortes, mas esse time joga no limite e tem uma entrega muito grande. Olha, você acabou de me perguntar se as cobranças aumentaram. Eu gostaria de dizer mais uma coisa: hoje, sou mais cobrado, mas me sinto mais capacitado para suportar a cobrança.

Mas o Vasco não vence há quatro jogos e vai enfrentar o Grêmio no Olímpico, nesta quarta-feira...

É difícil, até porque agora é tudo cobrança. A gente perdeu jogadores e está trabalhando pra caramba, trocando o pneu com o carro andando.

Qual foi o pior momento em um ano no comando?

Foi meu segundo jogo, quando perdemos de 4 a 1 para o América-MG, que estava na zona de rebaixamento. E também quando perdemos na estreia da Libertadores, em casa, para o Nacional (1 a 0). Foi terrível. Uma pancada.

Após a derrota pra o Fluminense, Juninho Pernambucano lamentou por você não ter o hábito de reclamar da arbitragem. Tal reação tem a ver com a pressão?

Quero falar bem sobre esse assunto. Não compactuo com isso. Culpar o juiz serve de desculpa para qualquer dificuldade. Não sou dessa linha. Não gosto. Acaba-se falando pouco do jogo. No Carioca, contra o Flamengo, reclamamos muito da arbitragem e perdemos vários jogadores, punidos. Não acho que o treinador ou o jogador têm que falar de arbitragem. Pra quê? Perdi para a próxima rodada o Juninho e, também, o Felipe Bastos, que levou cartão depois que o jogo acabou.

Ficou aborrecido com o Juninho? Já conversou com ele?

Conheço o Juninho e sei qual foi sua intenção. Não conversamos. Hoje (ontem), cheguei cedo ao clube e nem o encontrei. Fui para o campo treinar os que não haviam participado do jogo.

Fez mais amigos ou inimigos em um ano no comando?

Uma maioria esmagadora de amigos. Tenho sido muito elogiado na rua, até por quem torce para outros clubes. Na verdade, não tenho inimigos. Há pessoas que discordam de mim. Treinador não agrada a todos.

Felipe virou seu inimigo ou está conformado por não ser aproveitado?

(Risos). É lógico que jogador de futebol só fica tranquilo com o treinador quando está jogando. Fora isso, nem todo mundo fica bem. Ele não está conseguindo manter-se na posição e logicamente não fica satisfeito.

Por que ele não joga?

Procuro colocar quem vai fazer o Vasco render mais. A questão é tática. Quando deu para encaixá-lo, eu escalei. Com o Felipe, ganhamos qualidade no último passe, mas preciso fazer um casamento de forma que o time não fique vulnerável.

Tem falado com o Ricardo Gomes?

Acabei de falar com ele por telefone. Ele me ligou. Está muito legal e motivado.

Acha que ele volta?

Não pergunto isso, não. Uma hora, vou perguntar. Eu desejo. O futebol precisa que ele volte. E espero que ele possa voltar como treinador, sim.

Conversam sobre futebol?

Ele não dá palpite porque tem aquela mania de dizer que não está no dia-a-dia. Mas a gente sempre conversa sobre dificuldades, sobre futebol...

Já se imaginou enfrentando o Ricardo?

Não imaginei. Ao mesmo tempo em que fico em dúvida sobre isso, penso que seria um presente encontrar meu mestre. Sim, seria uma felicidade danada. Ou eu no Vasco e ele em outro clube, ou ele no Vasco e eu fora. O mais importante de tudo é a volta dele. Já falei pro Ricardo: o dia de amanhã (hoje), um ano após o AVC, tem que ser comemorado mesmo (risos).

Já falamos sobre o passado e o presente. Tem planos para o futuro?

Meu contrato termina em dezembro e eu desejo muito renovar com o Vasco. Quero permanecer porque sei do trabalho que está sendo feito. Dificuldades que vêm lá de trás limitaram o poder de investimento. Sei que o Vasco vai conseguir um grande parceiro e quero fazer parte disso. Aí, nossa chance de conquista vai aumentar. Quero estar no clube quando isso acontecer.

Fonte: Extra online