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Rodrigo Caetano diz que título da Libertadores ainda é sonho distante


Terça-feira, 13/12/2011 - 13:45

Na varanda do apartamento de Rodrigo Caetano, uma mensagem natalina prega paz, amor e sucesso. As três palavras podem ser vistas como reflexo da campanha do Vasco em 2011 e resultaram numa nova união entre clube, jogadores e torcida, que comemorou a inédita conquista da Copa do Brasil. Mas ao fim do ano, quando é momento de agradecer os objetivos alcançados e fazer pedidos, o diretor executivo cruz-maltino mostra que não é de viver de sonhos. Apesar da realização com os feitos conquistados, avisa: a missão do Vasco na Libertadores do ano que vem é extremamente difícil.

Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, Rodrigo Caetano deixou claro que o sentimento não pode parar. Não apenas o de esperança, mas principalmente o de que é preciso dar um passo de cada vez. O dirigente falou que o mais importante é fazer o Vasco passar a ser frequentador assíduo da Libertadores para depois, sim, pensar no bicampeonato.

- O Vasco não se encontra numa situação financeira que permita formar uma equipe de ponta para conquistar a Libertadores e o Mundial. Esse é o sonho do torcedor e seria o ideal que isso ocorresse agora, mas algumas etapas precisariam ser cumpridas. A disputa em sequência vai permitir que o Vasco conquiste este título - disse.



Olhando a campanha de 2011, é possível dizer que as metas foram atingidas?

As metas foram plenamente atingidas. O grande objetivo era, no mínimo, um título de expressão e uma vaga na Libertadores. Com a conquista da Copa do Brasil veio a vaga. Mas o mais legal foi que deixamos um grande legado para o futebol brasileiro. Mostramos que é possível um clube de tradição disputar todos os títulos. Com isso, resgatamos a autoestima dos vascaínos, que estava abalada. Hoje todos sentem orgulho do Vasco.

Enxerga os resultados da temporada como reflexo de um trabalho a longo prazo?

Quando falamos de 2011 geralmente ficamos restristos aos acontecimentos, mas tudo isso foi consequência do planejamento que começou em 2009. Este foi um ano que trouxe muito amadurecimento ao clube. Ficaram lições para que o Vasco não tenha de passar por novo momento de dificuldade. E esse modelo implementado deve permanecer independentemente de quem estiver no comando do clube.

E o reconhecimento por parte da torcida? Nas últimas semanas do campeonato você deu tantos autógrafos com as principais estrelas do elenco...

É algo totalmente inusitado. O fato que me chamou atenção quando se fala nisso aconteceu no fim de 2010. Houve uma manifestação de carinho muito forte por parte do torcedor para que eu continuasse. O torcedor entendeu que essa função é importante para o clube. Além disso ele lembra de quem atendeu a um convite em um momento difícil do clube. Hoje, olhando para trás, vejo que foi acertada a decisão de participar de tudo isso. Este carinho ainda vai além de São Januário. Acontece também nos lugares que eu frequento.

Se sente mais reconhecido agora do que na época em que jogava profissionalmente?

Com certeza. Fui um jogador mediano, tive problemas de lesão que me impediram de ter mais destaque no cenário nacional. Mas, em contrapartida, me preparei mais cedo para fazer esta função. Além disso, ter vindo para o Rio de Janeiro e para o Vasco no momento certo me deu uma visibilidade grande. Foi uma decisão pessoal, mas encontrei uma grande equipe de trabalho. Além disso, recebi a autonomia necessária. De nada adianta contratar alguém que não tenha como implementar as suas ideias. E todo este sucesso é bom para a função. Faz com que outros profissionais surjam e até por isso nós criamos a associação de executivos do futebol.

E como foi essa sua preparação?

Quando eu era atleta já vislumbrava a necessidade de um elo entre os jogadores e o alto comando. Antigamente existia um dirigente amador e um supervisor. Precisava de um planejamento maior, alguém para centralizar. Fiz faculdade de administração e depois um MBA em gestão de futebol. Peguei as ferramentas que aprendi e adaptei para criar um método próprio.

O grande sucesso do Vasco veio mais rápido do que o planejado?

A gente estabeleceu como prazo em 2009 três anos para uma grande conquista. Ela veio este ano porque trabalhamos para isso. Agora vamos ter um outro desafio pela frente, que é a Copa Libertadores.

E como você vê o Vasco na Libertadores de 2012?

Agora vejo com dificuldade uma campanha do Vasco em termos de título. Isto seria antecipar muitas etapas. O Vasco volta a disputar a Libertadores após 11 anos. É preciso conscientizar o torcedor de que pular etapas não é o ideal. O Vasco não se encontra numa situação financeira que permita formar uma equipe de ponta para conquistar a Libertadores e o Mundial. Esse é o sonho do torcedor e seria o ideal que isso ocorresse agora, mas algumas etapas precisariam ser cumpridas. A disputa em sequência vai permitir que o Vasco conquiste este título. O exemplo é o São Paulo, que participou da Libertadores por quase uma década e neste período levantou seus títulos. O Vasco retorna ao lugar onde esteve como protagonista, e espero ver no futuro o time disputando a Libertadores com chances reais de título. Por isso, a direção vai fazer tudo o que for possível para alcançar esse objetivo.

Você não acha que o torcedor não vai gostar de escutar isso?

Minha função só passa a ter êxito no momento que os papéis são bem definidos. O meu é montar o planejamento e ter a nítida noção das dificuldades financeiras que o clube enfrenta. Por exemplo, o Vasco ainda tem obrigações a cumprir relativas a 2011. Lógico que houve avanços, melhora na infraestrutura, mas ainda estamos no processo. Quem pode ter esse discurso são outras pessoas que têm esse papel. Acho também que é uma questão cultural. A maior parte dos torcedores prefere saber a verdade, mesmo que seja algo que não goste de ouvir. Acho que o reconhecimento dos vascaínos em relação a mim vem muito disso.

Como medir a importância desta sequência de participações?

Existe todo um ambiente em volta que o clube precisa estar por dentro. A Conmebol é o orgão máximo do futebol sul-americano e precisamos ter uma frequência de participações para que eles saibam quem somos. O Vasco fez isso na Sul-Americana com uma grande participação que terminou na eliminação possivelmente para o futuro campeão. Fora que a fórmula de disputa da Libertadores é outra. Hoje a fase de grupos conta com grandes clubes. Antigamente não era essim. Os critérios de arbitragem também são outros. Não estamos acostumados. A missão não é impossível, mas é muito difícil.

Como está a situação do técnico Ricardo Gomes? Vocês trabalham com algum tipo de prazo para o seu retorno?

Foi o que falei com o Roberto Dinamite e com o vice de futebol José Hamilton Mandarino. A continuidade do trabalho deve acontecer. O Cristóvão lidera o time e quando o Ricardo estiver recuperado, volta. O que acontece hoje é que nem o Cristóvão é o técnico principal e nem o Ricardo está fora do Vasco. Tudo isso deve continuar, não só pelos bons resultados, mas porque existe um entendimento por parte dos atletas. E isso faz com que não exista pressão pelo retorno do Ricardo. Ele volta quando estiver seguro.

E como irá acontecer durante a pré-temporada? O Ricardo poderá aparecer em alguns dias durante o período de treinos?

A nossa filosofia de trabalho está bem definida. Existe um conceito maior que independe da presença dele. O ideal seria que ele estivesse lá, mas não podemos exigir isso. Já tivemos exemplos de pré-temporada no qual tudo dá certo e um mês depois o projeto é desfeito em função dos resultados. Volto a dizer que a continuidade é uma questão de coerência. Hoje o Ricardo realiza fisioterapia fora de casa e leva uma vida quase normal. Estive com ele e já trocamos ideias de nomes e sugestões junto com o Cristóvão e com o preparador físico Rodrigo Poletto. Ele vai se sentir seguro para se aproximar, mas sem qualquer prazo.

O Vasco larga na frente dos concorrentes por ter uma base mantida?

Se formos fazer um exercício de projeção, percebemos que poderíamos iniciar o Carioca com praticamente a mesma equipe que disputou as últimas rodadas do Brasileiro. Quase toda a equipe tem vínculo com o clube. Se viabalizarmos reforços para as posições carentes vamos elevar e muito a qualidade do elenco. Esse time mostrou que sabe competir, que não tem medo de vencer.

E como andam as poucas pendências?

O Vasco se posicionou com o Bernardo. Falta apenas quitar a prioridade de compra. Nesta semana a gente define a renovação do Juninho. Com isso fica faltando a permanência ou não do Elton. A partir daí, os que permanecem continuam até no mínimo o fim da Libertadores. A janela de janeiro é a mais reduzida. O mercado europeu hoje não tem tanta supremacia assim. Não são todos os países que chegam com propostas tentadoras, até pelo contexto econômico atual. E internamente, o Vasco, com a vaga na Libertadores, se equivale aos outros clubes brasileiros. Para que sair do Vasco hoje? E alguns cumprem um ciclo. Fernando Prass, Fagner, Dedé, Romulo... Todos estes cumpriram uma trajetória que foi sair da Série B para a Libertadores.

Como vai o projeto para a renovação do Juninho?

Vamos ter essa noção na próxima quarta. O Juninho sabe da realidade do clube. Ele estava nervoso, mas passou por uma prova de fogo. Ele viu que o ambiente é favorável, teve uma resposta positiva por parte do torcedor e deu um retorno espetacular para o Vasco. Vamos passar por reuniões para avaliar, mas a ideia do Vasco é o Juninho continuar até se aposentar. E isso depende muito mais dele do que do clube, que vai buscar maneiras para que ele permaneça.

E os demais reforços?

Todo e qualquer tipo de avanço em negociações passa por reuniões. Temos alguns nomes, trocamos informações com a comissão técnica, mas primeiro precisamos estabelecer as possibilidades financeiras. Alguns podem chegar independentemente da capacidade de investimento. Outros não. Tudo que conseguimos até agora foi na base da superação e da criativdade. Agora precisamos entrar em outro patamar.

Você já disse que a semente foi plantada e que os ciclos podem se encerrar. Se você não continuar, sai frustrado por não estar no projeto Libertadores ou com sensação de dever cumprido?

A sensação é de dever cumprido. Frustrado eu sairia se não tivesse conquistado nada e nem ajudado a melhorar o clube. Hoje o Vasco está estabelecido, com uma metodologia de trabalho. A base está montada e, o mais importante, o clube tem ativos. Se por acaso a coisa apertar, o Vasco pode realizar a venda de dois ou três atletas e equilibrar as finanças. Segundo uma pesquisa, o Vasco é hoje o quarto clube em termos de valor ativo. Se por acaso eu sair, encaro de outra forma e cito o Grêmio como exemplo. Deixei o clube vice-campeão do Brasileiro de 2008 para vir ao Vasco na Série B.




Fonte: GloboEsporte.com