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Felipe: 'Para me tirar do Vasco, será muito difícil'


Quinta-feira, 08/12/2011 - 12:02

Na vitória ou na derrota, com ou sem o título brasileiro, Felipe estará literalmente nas nuvens após o confronto com o Flamengo. Quatro horas depois, feliz ou arrasado, ele embarcará para os Estados Unidos com a mulher, Carla, e os filhos Lucas, 6 anos, e Thiago, 2. Na melhor das hipóteses, Felipe perderá a festa do título. Na pior, vai chorar no ombro do Mickey e do Pato Donald, no fantástico mundo da Disney.

A entrevista ao Jogo Extra foi também uma viagem. No tempo. Felipe lembrou, por exemplo, seu último jogo pelo Flamengo, em 2004, quando marcou um golaço na vitória de 6 a 2 sobre o Cruzeiro, e arremessou o manto sagrado para um voo polêmico. Felipe viaja também para o futuro. O jogador mais vitorioso da história de São Januário quer mais e, mesmo que o título não venha, ele já se realiza: "Sinto orgulho do Vasco", afirma.

Sofreu com a eliminação da Sul-Americana?

Apaguei. Quando acordei, estava 1 a 0. Dormi mais, vi o Fagner sendo expulso e eles fizeram mais um. Aí, desliguei.

O que fará nas férias?

Vou passar 11 dias na Disney com a família. Será minha primeira vez. Vou depois do jogo. Do Engenhão, sigo direto para o aeroporto.

Vai ficar fora da festa e da foto dos campeões?

Ah... Vou viajar... O importante é ganhar o título.

Está surpreso com sua boa fase?

Fiquei cinco anos fora e fico feliz por me sentir útil. Não passa pela minha cabeça parar. Tem muita gente na minha frente: Deco, Juninho (risos)... Tenho 34 anos e mais um de contrato.

Mesmo com contrato em vigor, recebe sondagens?

Nada oficial. Para me tirar do Vasco, será muito difícil. A princípio, pretendo cumprir meu contrato, renová-lo e parar um dia, jogando pelo Vasco. Não pretendo sair mais. Tenho identificação e história.

Você é o jogador mais vitorioso do clube. Mas a relação já foi conturbada. O que mudou?

'FUI CAMPEÃO BRASILEIRO GANHANDO R$ 2 MIL DE SALÁRIO, EM 1997'

Cheguei em 1983, com 6 anos. Melhorei, estou mais maduro. O Vasco também melhorou. A estrutura vem melhorando cada vez mais. Acredita que campeão brasileiro ganhando R$ 2 mil de salário, em 1997? Eu vivia duro (risos).

Foi um erro ter passado pelo Flamengo?

Não. Sou profissional acima de tudo.

Trouxe um vídeo aqui pra você ver...

Eu já até sei o que é. É o meu gol, contra o Cruzeiro? É aquele que eu comemorei jogando a camisa do Flamengo para o alto?

Sim. Por que você fez aquilo?

(Olhado o vídeo) Esse não foi um gol normal. Tá maluca? Foi o gol mais bonito da minha carreira. E já é difícil eu fazer gol. Foi uma maneira de extravasar. Joguei a camisa para o alto, mas camisa não voa. Cai. A questão é que quem gosta de mim interpreta de um jeito. E quem não gosta interpreta de outro. Jogar a camisa no chão e pisar é uma coisa. Foi um golaço, na última rodada. Livramos o Flamengo do rebaixamento. Eu era um dos principais jogadores e, se o Flamengo fosse rebaixado, ia cair nas minhas costas, e também nas do Júlio César e do Zinho. O Ibson estava surgindo, mas era garoto. Eu ia entrar para o lado negro da história do futebol. Foi um alívio.

Comenta-se que na véspera desse jogo você tinha discutido no vestiário com o Júlio César e o preparador físico Marcelo Salles, filho do lateral-esquerdo Marco Antônio, campeão do mundo em 1970. Eles teriam dito que o Marco Antônio tinha jogou muito mais do que você...

Nossa, misturaram as histórias!!! Eu e o Júlio César ficávamos botando pilha. Não vi o Marco Antônio jogar, mas dizia: "pô, teu pai foi do Vasco mas não jogava nada". Não houve discussão. Marcelo é meu parceiro até hoje.

A torcida rubro-negra entendeu mal o seu gesto?

Quem gosta de mim entendeu do jeito certo.

Com raízes vascaínas, foi difícil vestir a camisa do Flamengo?

Meu pai prefere que eu jogue pelo Vasco, mas não tenho dúvida de que torceu pelo meu sucesso. Voltei da Turquia e o Flamengo procurou meu empresário. O Vasco não procurou. Ia fazer o quê? Deixar de trabalhar? Sabia que seria um desafio por ter sido cria do Vasco, mas honrei a camisa de todos os clubes que defendi. Se foi bom ou ruim, cada um que tire a sua conclusão, mas eu tenho a consciência de que onde fui, dei o meu melhor.

Você é Vasco?

Sou.

A Libertadores do ano que vem é uma motivação?

Já conquistei uma. É diferente. Os times sul-americanos fazem muita catimba. Acredito que a Libertadores será difícil, pois as equipes dos outros países evoluíram.

A perda de dois mundiais está engasgada?

Bati duas vezes na trave. Contra o Real Madrid, fomos superiores durante os 90 minutos. Contra o Corinthians, as duas equipes eram de alto nível.

'FOI LUXEMBURGO QUEM ME BOTOU PARA JOGAR NO MEIO'

Luxemburgo foi quem pela primeira vez convocou você para a seleção, em 1998. Ele tem um significado especial?

Foi o primeiro que me convocou e foi quem me botou também no meio campo. Ele enxerga onde um jogador pode ser útil, uma leitura rara entre treinadores. Foi um dos melhores técnicos que tive. A partir dali, mudei para o meio. O (Antônio) Lopes, meu técnico no Vasco, gostou.

Algum palpite para essa última rodada?

Se for para chutar, vou ter que dar um palpite favorável também ao Palmeiras, né (risos)? Olha, sabemos que é difícil, mas não é impossível. É complicado depender dos outros.

É muito ruim perder para o Flamengo?

Sem dúvida. Assim como para eles também é muito ruim perder para o Vasco. Qualquer vascaíno prefere perder para o Botafogo ou o Fluminense. Os rubro-negros também.

A síndrome de vice incomoda?

Não. Só é vice quem chega à final. E os que nem isso conseguem? Dizem que ser vice é o mesmo que ser o último. É a nossa cultura, infelizmente. Mas é melhor chegar à final com chance de ser campeão do que estar em último, sem esperança. Se houver festa no Rio, será do Vasco.

O Vasco é motivo de orgulho para você?

Sempre foi e sempre vai ser. Tenho orgulho do nosso grupo, pelo que a gente fez o ano todo. Espero que todos fiquem para a próxima temporada e que venham reforços. Talvez, o Vasco nem seja o melhor time do Campeonato, mas tem o melhor grupo. Não há vaidade. Já joguei em outros grupos mais qualificados, mas sem essa parceria. Em 97, havia divergências, mas o time vencia pela qualidade técnica.

De onde vem essa união?

Vem do treinador. Ricardo e Cristóvão ganharam o grupo pela simplicidade. Um jogador não faz questão de aparecer mais do que o outro.

Fonte: Blog Extracampo - Extra Online