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Felipe: 'A torcida voltou a ter confiança, voltou a ter orgulho do time'


Domingo, 04/12/2011 - 12:58

Ao se sentar para conceder a entrevista, Felipe expõe de cara a combinação que traduz seu sucesso no elenco vascaíno. A cabeça - com alguns cabelos faltando - aos 34 anos, como descreveu, não briga com a bermuda estilo saruel, moda entre a garotada. Combina com o jeitão autenticamente carioca do camisa 6, que fala com tranquilidade da missão de tentar levar o Vasco ao penta brasileiro neste domingo.

Esse perfil permitiu que ele tivesse mais acesso aos jovens do elenco e os ajudasse a superar momentos complicados na temporada, como o episódio do AVC de Ricardo Gomes. Com experiência, mas sem ser professoral.

E também a personalidade característica que alia a impetuosidade dos jovens para dizer o que pensa à consciência de quem tem peso suficiente no nome para colocar suas opiniões e arcar com as consequências. Assim, sente-se à vontade para discordar de decisões da diretoria, julgar (negativamente) o momento escolhido por Ronaldo e Romário para a aposentadoria, e mostrar descrença com o estágio do projeto da Copa de 2014 e exaltar o do Qatar. Hoje, a missão é complicada, mas devolver o orgulho ao vascaíno também era, e nisso Felipe acha que já foi bem-sucedido. Simples assim.

O que você acha do futebol atualmente? Quando não está jogando, acompanha?

Se tiver de sair com meus amigos, ir para um restaurante, para a praia, qualquer tipo de coisa que eu goste... Não deixo de fazer nada para ver um jogo. Quando moleque, não ia ao Maracanã, por exemplo. Preferia ficar na rua jogando bola, soltando pipa, jogando bola de gude. Ver lances, gols, até gosto. Jogo, em si, não.

Então, continuar no futebol, ser comentarista um dia, por exemplo, nem pensar...

É um segmento diferente. Pretendo, quando parar, tirar umas férias, só indo para a praia. Mas pretendo continuar no futebol. Para ser comentarista, tem que ter um dom. O que sei é que não iria cornetar como muitos fazem por aí. Crítica tem de ser construtiva. Jogador tem família.

As críticas o incomodam?

Já incomodou minha família. Há muitos anos não vejo programa de futebol, não leio jornal, nem no momento ruim, nem no bom.

Você sempre mostrou uma personalidade forte...

As pessoas têm de gostar da maneira que sou, independentemente se vou agradar ao presidente ou ao faxineiro. Se tiver algo incomodando, vou falar educadamente, mas expor minha opinião. Infelizmente, sinceridade no futebol, às vezes, não é bem-vinda. É aquele famoso engole sapo. Existe muito e eu, particularmente, não gosto de sapo. Sou mais chegado ao pessoal do baixo escalão do que do alto escalão. Talvez por ter vindo do Subúrbio. Não tenho essa palhaçada de que, só porque sou Felipe tenho que...

Você e Juninho são líderes do grupo, pela idade, pelas conquistas... Mas, no dia a dia, é possível ver que vocês são bem diferentes.

Eu sou mais moleque, apesar dos 34 anos, brinco com os garotos. Juninho é mais profissional, acho que se exige até demais, se cobra demais. Sou mais largado.

Ele continua no Vasco em 2012?

Não me disse nada, mas acho que ele deveria continuar. Seria importante para a Libertadores.

Mesmo com essa diferença, de você ser um pouco mais largado, a garotada enxerga no Felipe um exemplo. Tem essa noção?

Brinco com eles: "faz o que eu falo, não faz o que eu faço". Não é meu estilo, mas procuro orientar da melhor maneira. Eles ficam à vontade quando estão comigo, para expor seus problemas e eu procuro dar minha opinião.

Você surgiu e usava um topete que virou moda. O Fellipe Bastos diz que imitava. Hoje em dia, a moda é moicano. Você usaria?

Fellipe Bastos não usava nada, porque é careca desde os 10 anos de idade (risos). Se hoje eu tivesse mais cabelo, de repente, poderia usar moicano. Mas meu cabelo não tem mais forma para isso.

A chegada do Roberto Dinamite à presidência, você e Juninho retornando... Isso devolveu uma certa identidade ao Vasco?

O Roberto, por ter sido ídolo maior do clube, como presidente é importante. Minha chegada, a do Juninho... É um somatório. Mas o mais importante é o que temos feito dentro de campo. A torcida voltou a ter confiança, voltou a ter orgulho do time. Independentemente do que vai acontecer, o grupo está de parabéns. Conquistar a Copa do Brasil, chegar à semi da Sul-Americana, brigar pelo Brasileiro. Se for ver, poucos grupos fizeram isso.

Por tudo o que se passou neste ano, um título no domingo teria um gostinho ainda mais especial?

Com certeza, ganhar o Brasileiro, do jeito que está acontecendo, por tudo que passamos... Acho que o Vasco é merecedor. Mas isso não quer dizer que o Corinthians também não seja. O Vasco conseguiu algumas vitórias que todo mundo achava que não conseguiria. Na Copa do Brasil, no início, talvez ninguém apostasse no Vasco. Acho que tudo está se desenhando. Estamos tendo sorte de campeão. Espero que isso continue no domingo e que o Palmeiras dê uma força.

E como o grupo reagiu ao problema do Ricardo Gomes?

O grupo já estava unido e se uniu muito mais pelo Ricardo, isso é notório. Ficamos chocados primeiramente. Um companheiro que estava com a gente e, de repente, acontece aquilo. Mas serve de lição, futebol é movido a paixão e exerce muita pressão em cima das pessoas. Às vezes, os resultados vêm a longo prazo, tem de dar tranquilidade. A pressão é muito grande em cima dos treinadores.

E o que deu errado neste ano com PC Gusmão? Vocês tinham algum problema? Após uma derrota, você acabou sendo afastado...

Da minha parte, não. Sou transparente e sincero com todos. Se alguém deixou de ser comigo, não posso falar. Dei o meu melhor e fui injustiçado pela suspensão. Não sei quem fez isso, se foi treinador, presidente. Pelo momento ruim, tinha de botar culpa em alguém.

Aquela fase ruim acarretou na saída de Carlos Alberto. Pelo convívio que tiveram, o que acontece com ele, na sua opinião?

É um excelente jogador, mas acho que tem problemas com ele mesmo. Tem alguns problemas fora de campo, isso complica. No futebol, não tem mais espaço para isso.

Como você tem visto o surgimento do ídolo Dedé?

O Dedé é merecedor. Batalha muito e fico feliz pelo sucesso dele. Mas o Anderson Martins foi fundamental para isso. É tão bom quanto o Dedé. Esqueceram um pouco dele. De repente saiu porque a diretoria ficou tão preocupada com Dedé que esqueceu do Anderson. Quando veio a proposta... A vida é feita de acertos e erros. No caso do Anderson, a diretoria errou. Ele poderia estar com a gente aqui.

Seu contrato com o Vasco acaba em 2012. Vai parar depois?

Pretendo cumprir o contrato e renovar ainda. Se eu seguir sendo útil, vou continuar. Não acho legal forçar uma barra e estragar tudo o que já fiz na carreira. Mas, até o momento, acho que ainda estou ajudando (risos). Quando não achar mais isso, serei o primeiro a dizer que vou parar.

Ronaldo e Romário, por exemplo, forçaram a barra?

Ronaldo errou. Não manchou a carreira pela grandeza dele, mas não foi legal vê-lo com aquela barriga. O Romário passou do limite, mas foi por um propósito, os mil gols. Mas, com 40 anos, já não ajudava muito. E nego exigia dele.

Você morou no Qatar e, agora, voltou ao Brasil. Como vê os projetos de ambos para as próximas Copas do Mundo?

Hoje, acho que o Brasil não tem condições. O Qatar sei que sim. Tem poder aquisitivo muito grande. Via maquetes, falei com o xeque sobre isso pelo telefone.

Fonte: Lancenet