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Fagner fala sobre a sua carreira e o atual momento do Vasco


Domingo, 25/09/2011 - 14:00

A capacidade vascaína de cair e se levantar vai além do goleiro Fernando Prass. Segundo nome da escalação do time que lidera o Brasileiro, Fágner tropeçou no empate em 1 a 1 com o Atlético-GO mas já está de pé para enfrentar o Cruzeiro hoje em Sete Lagoas e completar 100 jogos pelo clube. Recuperado de pancada no quadril, o lateral usa as dores como estímulo para avançar, rumo à linha de fundo e ao segundo título da temporada:

- A gente dá o sangue porque sabe da dificuldade que passou lá atrás. Se o time correr junto, um ajudando o outro, o Vasco tem condição de chegar.

Criado pelo pai, que trabalhava como vendedor em São Paulo, Fágner passava tardes solitárias no apartamento do Jardim Capelinha onde seu horizonte era o campinho a separar o edifício de uma favela vizinha. A integração experimentada desde a infância ganhou força em sua terceira temporada em São Januário, onde chegou, após passagem obscura pelo PSV, para recomeçar junto com o time que disputaria a Série B. Num esporte em que a masculinidade muitas vezes se confunde com demonstração de força, o momento do Vasco mostra que futebol é para homem que dá as mãos e se emociona.

- É preciso mudar a imagem de que jogador é bruto, não tem sentimentos e é mercenário. Aprendi com meu pai a ser homem com dignidade, e que chora se for preciso - disse o lateral de 22 anos, mais da metade dedicados ao futebol. - A gente amadurece cedo.

Com problemas de saúde, sua mãe passava mais tempo com os pais no interior do que cuidando dos meninos Fábio e Fágner na capital. Após idas e vindas, o pai Calixto, decidiu seguir sozinho. Como o irmão mais velho estudava em outro turno, aos 10 anos Fágner passava as tardes sozinho até encontrar companhia nas divisões de base do Corinthians. Além da primeira chuteira vermelha, lembra que ficou com rosto da mesma cor diante do constrangimento passado pelo pai ao se desencorajado por um homem sob a alegação de que era preciso ter padrinho:

- Um ano depois, eu ainda estava lá e os três filhos dele tinham sido dispensados.

Num domingo de futebol e Dia das Mães, Fágner era um dos meninos do time que ganharam rosas para oferecer às homenageadas. Em vez de sofrer com a situação espinhosa, deixou o sentimento desabrochar.

- Dei a rosa para meu pai. Aprendi com ele a ser humilde, a acertar meus erros e a deixar que os outros falem dos meus acertos - disse o jogador, pai de Henrique, de um ano e seis meses. - O DVD da galinha pintadinha e do patati-patatá já estão na cabeça. Ficar em casa é um refúgio diante de tanta pressão que a gente suporta.

Hoje não há como fugir dela. Sem Éder Luís, seu parceiro pela direita, Fágner terá que encontrar alternativas para não se sentir sozinho como nos tempos do Jardim Capelinha. Em vez de se lamentar, há mais uma conquista no horizonte para um time de homens que cai, se levanta e segue em frente, sem esconder os sentimentos.

Fonte: O Globo