Vanderlei Luxemburgo admite: 'Houve uma sondagem muito forte para ir ao Vasco da Gama'
Domingo, 27/01/2019 - 16:47
Fora do mercado desde outubro de 2017, quando deixou o comando do Sport, o treinador multicampeão Vanderlei Luxemburgo foi o entrevistado do "Grande Círculo" que foi ao ar neste sábado (26). Sabatinado por Milton Leite, Mauro Naves, Martín Fernandez, Bárbara Coelho, Walter Casagrande, Marcos Uchôa e Roberto Kovalick, o técnico falou sobre as grandes polêmicas que "respingaram" em sua carreira, interrompida há mais de um ano.

Luxemburgo fez um balanço sobre alguns erros da carreira, como a não convocação de Romário para as Olimpíadas e a discussão pública com Florentino Pérez, presidente do Real Madrid. O treinador também revelou sua posição política, disse que vê a Seleção Brasileira como favorita para a Copa do Mundo de 2022 e afirmou que, no lugar de Felipão, teria "furado a bola" durante a derrota por 7 a 1 para a Alemanha.

A seguir, em tópicos, os principais trechos do programa:

Fora do mercado por opção

– Se pegarmos lá atrás, não é um privilégio meu. Se você pegar o Zagallo, depois da Copa do Mundo de 1974, quanto tempo ele demorou para pegar um outro clube. Se você pegar o Telê Santana, houve sempre uma demora. Eu tive propostas para trabalhar. E não quis trabalhar. (...) Eu optei por ficar parado, até existir uma possibilidade legal, de fazer um trabalho em alto nível, e não arriscar colocar meu nome em uma situação que eu não quero estar.

Sondagem do Vasco

– Houve uma sondagem muito forte para ir ao Vasco da Gama, mas eu pensei assim. Eu estive no Fluminense. Quando eu cheguei lá, o presidente disse: "Aqui não se fala o nome do Flamengo". Aí eu levei um susto, o que tem a ver uma coisa com a outra? Eu sou profissional, todo mundo sabe que eu sou flamenguista. Mas eu receber uma coisa assim de cara, não vai dar certo. Você vai ao Vasco com uma rivalidade grande, não sei como seria...

O técnico mais moderno de sua geração

– Isso é uma discussão que gira há muito tempo. Quando eu falo em vanguarda eu procuro mostrar isso. Todas essas coisas que acontecem hoje no futebol, há 20 anos eu trouxe. Levava muita gente para trabalhar comigo. Por que? Porque os clubes não tinham comissão técnica fixa. Ninguém tinha profissional de qualidade, você tinha que levar o profissional para formar uma comissão, para fazer um grande trabalho. Hoje você pode ir sozinho para um clube. Os clubes hoje têm centro de treinamento, na época não tinha, só o São Paulo, por isso levava vantagem, os outros foram construindo. O Corinthians fez em Itaquera, mas o pessoal não queria ir porque no Parque São Jorge era mais perto.

Romário: O arrependimento da vida

– Eu teria levado o Romário para a Olimpíada (2000). Eu simplesmente acompanhei uma determinação coletiva, de uma reunião, em que decidimos não levar jogadores com mais de 23 anos para a Olimpíada. Aquele time ganhou o Pré-Olímpico invicto e todo mundo achou que estava pronto para a Olimpíada. Na CBF tinha o Ricardo [Teixeira], o Marco Antônio [Teixeira, tio de Ricardo], que eram os dois que eu conversava mais. Na Olimpíada passada tinha tido um problema com os jogadores mais velhos. Os mais jovens não aceitaram, teve confusão [...]. Foi uma grande bobagem. Eu tenho condição de administrar o Romário numa competição, e foi o erro que eu cometi. Seria muito importante para nós ter levado ele. Essa é uma coisa que eu deveria ter feito e não fiz.

"Só joga quem bebe"

– É verdadeiro (que falava isso para os jogadores). Tem que beber mesmo! Essa coisa não existe, de você deixar de ser jovem. O que não pode é excesso, não pode encher a cara na véspera de um jogo, não pode ir para a noitada na véspera do jogo. Mas por exemplo, no Real Madrid eu me assustei com o vinho (nas refeições), mas como eu já tinha jogado no Internacional em 1978... (...) Em 78, no Beira Rio nós tomávamos vinho jogando no Inter, tinha na mesa para tomar. Cheguei lá e tinha o Roberto Carlos e Ronaldo e eu perguntei: "E ai?", e eles disseram que era normal, então falei, "continua, passa o meu aí". O baralho, que é tão discutido, faz parte da rotina do jogo de futebol.

– Eu falo para os meus jogadores, quando vou jogar um jogo em uma cidade qualquer. Acabou, tem dia livre? Eu falo para a rapaziada, "tá liberado, quem quer ir para a igreja vai, quem vai para beber vai. Libero para tudo que quiser".

Derrota para Camarões com dois jogadores a mais

– O erro foi antes (do jogo), e aí tem uma série de coisas que foram antes, CPI, eu ter que ficar no Brasil. Era pra eu ir antes, mas tive que ficar no Brasil. A ideia, que eu tinha combinado, era ir para as Olimpíadas, porque o Brasil (Seleção adulta) jogaria contra a Bolívia no Maracanã, foi quando convoquei o Romário para voltar, e fiquei aqui. Quando cheguei lá (em Sydney), não tinha o ambiente propício, demora para você arrumar. Luxemburgo vai ser preso ou não? Luxemburgo é o maior ladrão do futebol. Foi uma semana do Jornal Nacional só falando disso. E eu fui viajar, o ambiente estava ruim, se eu fosse antes, como era o planejamento, o Candinho tinha dirigido contra a Bolívia, eu controlava.

Projeto e planejamento: as polêmicas extracampo de Luxemburgo

– Você acha que você passaria impune em uma CPI como eu passei? Passar uma semana no Jornal Nacional, todos os dias (as pessoas) falando que você é ladrão. Na época eu falei, "se alguém provar que eu levei alguma grana com interesse de jogador, eu saio do futebol na mesma hora". São coisas que acontecem que não é relutar, é se defender.

– É duro você passar uma semana sem ter nada a ver com o que falavam. Tanto é que não se provou nada. A única coisa que tinha na época era troca de idade, que não é algo só meu, quem trocou foi meu pai, e imposto de renda, que era um problema do Brasil. Todo mundo tinha. Eu paguei o meu que devia e acertou a certidão, o resto era uma grande bobagem.

O pôquer do Luxa

– O baralho, eu defendia o jogo de pôquer, pra mim sempre foi algo estratégico, eu também trabalhava assim no futebol. Os profissionais são todos estratégicos, quando eu sento na mesa eu quero saber como você agride, como aposta, quem é o mais fraco da mesa, quem tenho que enfrentar. Isso é o jogo, falavam que eu era bandido por jogar pôquer. Fizeram matéria falando, "Luxemburgo perde um milhão de reais por noite". Não ganho isso, como vou perder? Saiu no jornal que eu era viciado, mas desde a época que eu jogava sentava eu, Zico, Raul, Junior, nós jogávamos pôquer, caxeta. Eu não vou deixar de me divertir, que é algo que eu gosto, que pratica minha cabeça [...] porque os caras falam que eu sou viciado em pôquer.

CPI do Luxemburgo

– Era muita coisa que eu desconhecia. Nossa vida naquela época era uma vida sem conhecimento. Minha mulher estava lá com minhas três filhas, elas sabiam de tudo e muito mais que eu. Quem tomava conta das minhas coisas era minha mulher. Para ter ideia eu passava para a conta dela, eu precisava e ela me mandava de novo. Isso de não ter resposta girou R$28 milhões como se eu tivesse esse dinheiro todo. Não era, simplesmente era eu passar para a conta dela, ela para a minha. E o Brasil funcionava daquela forma, não tinha preocupação de hoje com receita. Era desajustado. Eu não conseguia responder porque um carro que surgiu, a minha mulher sabia, sabia como comprou, mas eu não sabia, e aí? Não foi feito daquela forma e eu não tinha a resposta para isso.

Palmeiras e Flamengo como favoritos

– Favoritos teóricos. Foram os que mais investiram, então teoricamente são, mas você vai ter time chegando que você acha que não porque o futebol permite. Na Copa do Brasil, por exemplo, não tem favorito porque você pode chegar no mata-mata. Na minha cabeça, acho que tem quatro clubes que vão disputar, um tem uma perda importante, que foi o Cruzeiro, o Grêmio ganhou com o (Felipe) Vizeu, acho que ele tem a cara do Grêmio, o jeito de jogar do time, o torcedor vai abraçar. Acho que é Flamengo, Palmeiras, Grêmio e Cruzeiro, são os quatro que vão brigar na parte de conquistar. Mas ai você tem o Atlético-MG, o Corinthians que sempre tem tradição, que vão incomodar.

Palmeiras de hoje x Palmeiras dos anos 90

– Pesquisa, desse time do Palmeiras, quantos jogadores da Seleção que jogou nessa Copa do Mundo jogariam no meu time de 1993? São momentos do futebol. O Gabriel Jesus é um ótimo jogador, certo? Meu ataque era Edmundo, Evair e Edilson. E aí? E o Evair não foi para a Copa.

Os erros de Tite e o favoritismo para 2022

– Eu acho que o Brasil era candidato nessa Copa do Mundo e será nessa próxima. Essa geração vai ter 90% jogando a próxima Copa, vai repetir, isso faz você chegar à conquista. (Sobre o Tite) Por exemplo, eu recebo informação do meu assistente, mas se eu solicitar, eu tenho que fazer isso, não posso deixar chegar toda hora na minha cabeça informação que eu tenho que ver. São Paulo e Corinthians. O Raí voltou só para jogar aquele jogo. Eu imaginei que o Raí ia jogar mais adiantado, e o Fabiano o que, mais atrás. Quando começou o jogo o Fabiano estava adiantado e o Nelsinho colocou o Raí para começar a jogada e sair. Ai fui para a beira do campo e gritei que nem um maluco, "mudaram, mudaram". E aí o Mauro chegou para mim e perguntou, "por que você tá gritando? ". "Porque eles mudaram Mauro". Aí o Galvão Bueno mandou um "Luxemburgo com três minutos de jogo já viu tudo isso". Eu tenho que ver, sou obrigado a ver. Não podemos ver 45 minutos de um jogo de Copa do Mundo, disputando vaga na semifinal, em que você não tenha feito uma ação para mudar uma situação que não pode ser surpresa. Tite, não é crítica, acho que você está na próxima Copa e acho que você vai ganhar ela, porque você tem elenco para isso. Erros que eu cometi, como não levar o Romário.

O que fazer no 7 x 1?

– Eu furava a bola. Eu ia lá furar a bola, ia arranjar um jeito de fazer alguma coisa. O Felipão é meu amigo, o Parreira também, são características diferentes, e são dois campeões. Não cabe. Acho que o Felipão que eu vi na Copa aqui não foi o Felipão que eu estava acostumado a ver. É só pegar o banco, as atitudes dele, você vai ver que o Felipão que nós conhecíamos, não estava tão à vontade. E o Parreira, com currículo, com certeza conversando com a Seleção e existe uma coisa, o assistente, para te ajudar, te assessorar, e o assistente com o peso que tem o Parreira. Zagallo com Parreira, totalmente diferente.

– Nós não acreditávamos que a Seleção ia sair da Copa a qualquer momento, sempre achamos que ia chegar na frente, mas não ia acontecer. Perderia de um, dois... Ia perder. Eu ia dar um bico em cima do juiz, parar o jogo. Furar a bola é o seguinte, o cara ia virar em cima de mim e eu ia dar um bico em cima do quarto árbitro. Ia ser expulso, ia parar cinco minutos, ia esfriar. O jogo tinha que mudar. Armar uma confusão tudo bem, 7 a 1 que é complicado. Aconteceu, o Felipão não perde o mérito, ele ficou marcado, como eu estou para o Asa de Arapiraca, mas é um excelente profissional. Houve um processo, uma convocação de 90% da imprensa solicitando uma nova geração, quando não tem nada a ver um resultado de 7 a 1 para uma mudança radical, de chamar profissionais ainda não preparados para assumir alguns clubes. Respingou em mim.

Passagem pelo Real Madrid e discussão com Florentino Perez

– A saída foi algo que eu não faria de novo, jovem, trabalhando no Real Madrid, falado para caramba, o presidente desce da tribuna e eu saio do vestiário e encontramos no hall, e ele vai questionar por que eu tirei o Ronaldo do time e a torcida não gostou, "presidente, o Beckham foi expulso no primeiro tempo, e eu quero ganhar o jogo, faltavam dois minutos", e ele rebate dizendo que lá não podia fazer isso, aí discussão e eu falei, "meu comando, o senhor me trouxe para cá e então...". Hoje eu falava, "amanhã a gente conversa", iria esfriar a cabeça e não discutiria. Florentino Perez, cara vencedor, eu discuti com ele na frente de todo mundo, lógico fui embora.

Posição política e religião

– Era uma homenagem a Rosa Luxemburgo (o nome da mãe). Meu vô era do sindicato dos ferroviários e ele leu o livro da marxista Rosa Luxemburgo, e colocou na minha mãe assim. Virou meu sobrenome. Sou de esquerda, mas estou torcendo para que dê certo (o governo Bolsonaro), uma coisa é você ser de esquerda, outra coisa é você querer que a coisa não funcione. Democracia você discute o voto, ideologia, mas quem ganhou tem que respeitar e não pode ser oposição por oposição. Torço para que aconteça, que vai ser bom para mim, meus netos, meus bisnetos. Esquerda é na hora da discussão, mas ganhou quem?



Fonte: Sportv.com