Diretoria do Vasco intensifica articulação para ter empréstimo aprovado na reunião do Conselho Deliberativo
Quinta-feira, 06/09/2018 - 08:01
Na próxima semana, ainda sem data marcada, a diretoria do Vasco terá a segunda oportunidade de tentar aprovar no Conselho Deliberativo um empréstimo de R$ 38 milhões. A verba é considerada pelo presidente Alexandre Campello como determinante para o clube conseguir honrar seus compromissos até o fim do ano, e o caso virou motivo de mais um embate político em São Januário.

De acordo com a atual gestão, no dia 18 de agosto, ocasião da primeira reunião, o acordo era de juros de 0,96%, mas agora foram aumentados pela instituição financeira para mais de 1% - valor parecido com o praticado com o Flamengo, que também pegou empréstimo nesse banco e reclamou das condições mais favoráveis ao Vasco. A perda cruz-maltina chega perto dos R$ 2 milhões.



Se o empréstimo for aprovado, o clube pagará parcelas até 2023 - R$ 20 milhões em 2020, R$ 12 milhões em 2021, R$ 14 milhões em 2022 e R$ 7 milhões em 2023.

O GloboEsporte.com conversou com dois vice-presidentes do Vasco para que explicassem com mais detalhes sobre o empréstimo dentro do planejamento do clube. Vice do Departamento de Controladoria, Adriano Dias Mendes afirmou que esta é a única opção a curto prazo para que não aconteçam atrasos de pagamento. Um cenário ainda mais perigoso com o time lutando contra o rebaixamento no Brasileiro.

- A hora é agora, não dá mais para esperar. Esse empréstimo faz parte de um planejamento financeiro de três anos. Hoje, mesmo com a venda do Paulinho (nota: restam cerca de R$ 5 milhões da venda), existe a necessidade em torno de R$ 40 milhões para terminarmos o ano sem atraso de salário. Sem o empréstimo, no curtíssimo prazo, a consequência é o atraso de salários, fornecedores e acordos judiciais. Não existe um plano B à altura - afirmou.



Nos últimos dias, o clube sofreu novas penhoras e chegou a ter as contas bloqueadas em ação movida pelo advogado do ex-jogador Edmundo. Vice-Presidente de Finanças, João Marcos Gomes Amorim contou que tem feito seu papel político de tentar convencer conselheiros a aprovarem o empréstimo. Segundo ele, a necessidade de outra reunião já vai causar um atraso nos pagamentos, mesmo no caso de aprovação.

- Depois daquela reunião já houve conversas, e nós temos tratado com quem nos procura. A expectativa é de que aconteça o entendimento pleno. Agora é aguardar que a nova reunião seja marcada. Essa é a interrogação para nós. Tem que ser semana que vem. E já estaremos atrasados em relação ao que vem sendo feito desde o começo da gestão, com os pagamentos feitos próximo ao dia 10.

De acordo com Adriano Mendes, este é o único empréstimo deste porte previsto, já que as receitas deste ano são menores. Para se ter uma ideia, dos R$ 94 milhões de direitos de transmissão para este temporada, apenas R$ 2 milhões entraram nos cofres do clube, e há apenas mais R$ 5 milhões a receber até o fim de 2018.

- Essa interrupção levaria a volta aos problemas que tínhamos no início do ano. Teríamos que renegociar acordos, voltar a ter problemas trabalhistas... O empréstimo vai evitar um hiato e nos manter na trajetória de ajuste financeiro. Dentro do nosso plano, e que é plenamente viável, nós fechamos 2020 com o clube equilibrado, profissionalizado e modernizado.

No último encontro dos conselheiros, no dia 18 de agosto, a principal relamação dos opositores foi falta de transparêcia e atendimento a requisições do conselho fiscal. Adriano Mendes acredita, no entanto, que a questão política foi a que mais pesou.

- Entender que é necessário, todos entendem, até porque está no balanço. O que me parece é que é uma questão política. Respeita-se as posições contrárias, mas, dada a importância deste empréstimo, não me parece razoável colocar qualquer empecilho. Acompanhar, fiscalizar e discutir, tudo bem. Mas votar contra por votar... a situação política que leva a isso.

Tentativa de reduzir dívidas; inspiração no rival

Para o Vice do Departamento de Controladoria do Vasco, não há contradição em ter o discurso de reduzir dívida e ao mesmo tempo pegar empréstimo. Ele afirma que tudo está dentro do planejamento, e que a atual gestão trabalha com a projeção de reduzir em mais da metade a dívida do clube até 2020 - no início deste ano, a dívida do Vasco era calculada em R$ 674 milhões.

- Acreditamos que é muito possível. O grande problema da dívida do Vasco é ser de curto prazo. Metade é assim. Isso nos leva a essa asfixia que estamos passando agora. Esse empréstimo permite que a nossa recuperação não pare. Esse é o grande ponto - disse.

A administração de Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo, que diminuiu a dívida do clube e aumentou o poder de investimento, é uma inspiração. E ninguém esconde isso.

- Nosso maior rival teve um comportamento semelhante. A dívida, quando você aumenta a receita e deixa de incorrer em novos empréstimos, ela cai muito rápido. Se temos R$ 95 milhões de receita de TV e só entram R$ 7 milhões, a diferença toda é em dívida paga. O que pretendemos é deixar o clube com a dívida equacionada e de longo prazo. O que aconteceu com o Flamengo mostra que a direção é essa - disse Adriano Mendes.

Possível parceria com fundo de investimento indicado por Julio Brant

Na última segunda-feira, o grupo liderado por Julio Brant protocolou na secretaria do clube o pedido de convocação de uma reunião do conselho para a apresentação de um possível parceiro para o Vasco, um fundo de investimento internacional. A expectativa é de que Brant apresente os detalhes aos conselheiros e tire dúvidas.

Segundo Adriano Mendes, a atual diretoria vai analisar sem deixar pesar a questão política. Ele, no entanto, disse que, mesmo que a parceria seja a aprovada, o empréstimo de R$ 38 milhões é fundamental, visto que tem como objetivo sanar problemas de curto prazo.

- Temos escutado muita coisa. A torcida acompanha. Evidente que estamos de portas abertas para esse ou outro parceiro. De forma profissional e isenta, será avaliado. Mas são duas soluções financeiras bem diversas. O empréstimo é para curto prazo, para pagamento de salários até o fim do ano. Com livre uso. Uma parceria como essa do fundo de investimento, apesar de não termos informações, deve ser um dinheiro com carimbo. Demoraria alguns meses para entrar o dinheiro, provavelmente apenas para 2019. São coisas complementares.

O vice de finanças João Marcos Gomes Amorim também afirmou que o possível parceiro será analisado sem levar em conta disputas políticas.

- A avaliação será estritamente técnica. Qualquer coisa que venha do fundo, demoraria um bom tempo. E o clube precisaria fazer tudo com a segurança que exige. É preciso ser entendido dessa forma. Temos todo o interesse que recursos entrem no clube - finalizou.

As próximas reuniões do Conselho Deliberativo do Vasco prometem ser agitadas.

Fonte: GloboEsporte.com