Gilberto Corôa relembra confusão na decisão do Estadual de 1981, a do Ladrilheiro
Domingo, 29/04/2018 - 16:40
Quem olha para o carismático Gilberto Corôa comandando os treinos do Madureira não associa a imagem do treinador ao ex-lateral do Vasco que protagonizou um dos lances mais marcantes de uma final de Campeonato Carioca.

Treinador com estilo boleiro e "paizão" para os jogadores que disputam a Série D do Brasileiro, o hoje "professor" Gilberto Corôa já roubou a cena em uma decisão que colocou frente a frente duas lendas da torcida Rubro-Negra e da Cruz-Maltina: Zico e Roberto Dinamite.

O ano era 1981. E Gilberto foi responsável por iniciar uma confusão no Maracanã após dar uma "rasteira" em um torcedor "festeiro" do Flamengo que viria a ficar conhecido como "Ladrilheiro".

Trinta e sete anos se passaram desde o episódio. Mas as recordações seguem bem vivas na mente do comandante do Tricolor Suburbano, que tenta emplacar na carreira de treinador, como você confere abaixo na entrevista ao GloboEsporte.com.

Após ter vencido os dois turnos do estadual de 1981, que tinha formato diferente, o Flamengo levantaria a taça contra o Vasco com um simples empate em qualquer uma das duas partidas da final. Mas, apesar da grande vantagem, o Cruz-Maltino se impôs nas decisões e conquistou duas vitórias - 2 a 0, com gols de Roberto Dinamite, e 1 a 0, com gol, novamente, do ídolo vascaíno. O título, então, ficou para o terceiro jogo.

- Chegamos na grande final contra o Flamengo precisando ganhar os três jogos. No domingo, ganhamos por 2 a 0. Na quarta-feira, ganhamos por 1 a 0. Aí, no jogo decisivo, em um Maracanã com mais de 160 mil pessoas, aconteceu o lance que marcou a minha carreira - relembra Corôa.

Na grande decisão, o Flamengo abriu 2 a 0 ainda no primeiro tempo com gols de Nunes e Adílio. Mas, quando a vitória já parecia certa, Ticão descontou para o Vasco aos 38 do segundo tempo e colocou fogo na reta final. Foi então que o torcedor rubro-negro, Roberto dos Passos Pereira, que ficaria conhecido como "Ladrilheiro", invadiu o gramado para festejar e dar uma "esfriada" na reação rival, o que causou a revolta vascaína.

- Eu estava na lateral e vi o rapaz, que saiu do vestiário do Flamengo, entrando em campo. O Dinamite tentou tirá-lo duas vezes, mas o torcedor voltou. Aí eu perdi a cabeça. Precisávamos ganhar de qualquer jeito e o cara estava fazendo cera. Acabei derrubando ele, joguei ele no chão e o clima fechou. Teve muita discussão e porradaria naquele dia. Deu polícia e tudo no gramado.

Após a derrota, jogadores e dirigentes vascaínos acusaram o Flamengo de ter incentivado a invasão de "Ladrilheiro" ao gramado do Maracanã. Em entrevista ao Jornal O Globo na época, o torcedor se defendeu das acusações e revelou que já tinha até apostado com um amigo que comemoraria o título do time do coração dentro de campo.

- Nem vi o gol do Vasco. Nesta hora já estava dentro do fosso, que separa a geral do campo, me preparando para cumprir a promessa. Não podia deixar de apostar. Time que tem Adílio, Zico, Leandro e Raul, você tem que confiar - declarou Roberto, que trabalhava como ladrilheiro

Quase quatro décadas depois do título rubro-negro, o ex-jogador vascaíno procurou se justificar. Mas, até hoje, segue fiel à teoria de que o Flamengo foi favorecido pela invasão do "Ladrilheiro".

- Eu nunca fui um cara violento, sou um cara do bem, mas me aborreci muito. Era final de campeonato, estávamos trabalhando ali e o rapaz entrou para estragar o jogo. Depois que a confusão acabou, a partida esfriou e eles foram favorecidos com essa história toda - disse Gilberto, em entrevista que você confere outros trechos abaixo.

Amizade com Roberto Dinamite

- Eu e o Roberto Dinamite temos uma relação próxima desde que subi aos profissionais do Vasco. A gente dividia quarto e tudo. Depois, quando parei de jogar, fui trabalhar com ele na política. É um cara que sempre apoiou os mais jovens, me ajudou muito quando eu era apenas um garoto. É como se fosse meu irmão mesmo, só tenho que agradecer por tudo que já fez por mim.

Oportunidade de treinar o Madureira

- Eu assumi a equipe no pior cenário possível, o time já estava praticamente rebaixado no Carioca. Mas, apesar do pouco tempo de trabalho, conseguimos salvar o Madureira na última rodada. A diretoria gostou e me efetivou para comandar o time na Série D do Brasileiro.

Série D do Campeonato Brasileiro

- Empatamos em casa por 0 a 0 com o Linense na estreia, mas só faltou o gol mesmo, tanto é que saímos de campo aplaudidos pela torcida. Estamos com uma equipe muito jovem, apostamos nos jogadores da base. É uma grande oportunidade para mim e para todos eles, queremos mostrar o nosso valor, queremos vencer. Estamos confiantes de que conseguiremos esse acesso para a Série C.

- O Vasco tem uma camisa muito forte, é o time da virada. A fase não está muito boa, mas eu confio nesse time e nessa torcida. Os jogadores já provaram que têm técnica, mas precisam mostrar mais garra, determinação. Já morei debaixo daquela arquibancada, eu sei bem qual é o espírito desse clube. Torço muito para que seja um ano de sucesso.

A CARREIRA

Revelado na base do Vasco no final da década de 70, o ex-lateral Gilberto Corôa também jogou por equipes como Guarani, Botafogo, Joinville e Figueirense. Como treinador, Corôa já comandou o Serrano, de Petrópolis, e trabalhou nas divisões de base do Madureira antes de assumir a equipe principal.



Fonte: GloboEsporte.com