Historiador do Centro de Memória do Vasco fala sobre os 90 anos de São Januário

Terça-feira, 11/04/2017 - 06:21
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O jornal Lance está publicando uma série de reportagens sobre os 90 anos de São Januário, que serão completados no dia 21 de abril. Entrevistado sobre o assunto, o historiador do Centro de Memória do Vasco, Walmer Peres, contou um pouco das motivações que levaram os vascaínos a construir o maior estádio da América do Sul à época:

"São Januário está intrinsecamente envolvido na luta do Vasco contra o racismo e contra o preconceito social. Ele é um monumento que representa duas coisas: primeiro a luta do Vasco contra essas coisas no futebol e segundo a demonstração da força da instituição contra aqueles que queriam enfraquecê-lo. O estatuto da Amea era claro, ele não queria que clubes montassem equipes competitivas, para ganhar um campeonato, com jogadores das camadas mais populares. A base do Vasco era com esses jogadores. Isso não é papo de vascaíno. Estou falando como historiador. Eles, infelizmente, tomaram posturas institucionais racistas e preconceituosas contra os jogadores das camadas populares. Isso não tem como apagar. Os jornais da época estão aí para provar, boa parte da memória oral da época foi materializada em livros, inclusive por Mário Filho no 'Negro no Futebol Brasileiro", afirmou Walmer.

O historiador vascaíno também esclareceu como os regulamentos da época disfarçavam a proibição de que jogadores de baixa condição social ingressassem nela:

"Você não vai encontrar no estatuto da Amea assim: 'proíbo negros'. Então, ela proibia analfabetos, quem executava trabalhos braçais, quem estava em ofício, que, recebe gorjeta... Uma série de características de pessoas que estavam inseridas nas camadas populares. Então, era essa a forma que eles faziam para barrá-los. E o campo, não era qualquer um que tinha o seu próprio para jogo, mas os fundadores da liga já tinham. Então, também era um subterfúgio para dizer 'proibimos jogadores de camadas populares'. Era uma série de eufemismos para não dizer 'proibimos negros e brancos de baixa condição social", finalizou Walmer.



Fonte: NETVASCO (texto), Centro de Memória do Vasco (foto)