Ex-Vasco, Cesinha deixa o futebol profissional para jogar na várzea em São Paulo

Quarta-feira, 13/07/2016 - 13:07
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Cesinha, zagueiro ex-Vasco, posa para foto com camisa do Primavera, do futebol amador de São José Campeão da Copa do Brasil de 2011 pelo Vasco, o zagueiro Cesinha decidiu deixar o futebol profissional aos 29 anos de idade. Mas ele fez isso sem pendurar as chuteiras. Com propostas de clubes do interior de São Paulo, optou pela oferta do Primavera, time do futebol amador do bairro Nova Esperança, em São José dos Campos. Cesinha explica que a várzea oferece uma boa estrutura. E que já cansou de ficar na mão com contratos furados de clubes menores no profissional.

– A várzea é organizada. Passei por muitos times pequenos onde fiquei sem receber, fiquei na mão. Cansei disso. Aqui no amador, estou na minha cidade. Só jogo aos domingos e recebo todo domingo. A estrutura é muito boa – elogiou César Augusto Pereira Marques, que foi vice-campeão do Paulista de 2010, pelo Santo André, antes de acertar com o Cruz-Maltino.

Cesinha disputa o Campeonato Amador da Divisão Especial de São José, com organização da ACAF (Associação de Clubes Amadores de Futebol). A competição reúne 20 clubes da cidade do Vale do Paraíba. O atual campeão é o Porto, do bairro Campo dos Alemães (relembre o título de 2015). O zagueiro ex-Vasco, que atuou pelo clube carioca de 2010 a 2012, destaca a popularidade do futebol da várzea.

Cesinha, ao centro, comemora gol com a camisa do Vasco– Joguei no Santo André, no Náutico, no Vasco. É claro que time grande a realidade é outra. Você jogar num Vasco, por exemplo, é inesquecível. Mas a várzea também tem seu valor. Fico até assustado com a rivalidade que tem na cidade, tem muita gente que gosta mesmo de acompanhar o futebol amador – comentou.

A "pureza" da várzea também é destacada, após casos de manipulação de resultados ganharem as manchetes do noticiário esportivo, como a Operação Game Over.

– O futebol amador é aquele de raiz, aquele futebol puro, da nossa infância, sem esquemas, sem nada sujo. Essas notícias de manipulação, combinação de placares, isso tudo faz muito mal ao futebol profissional. O torcedor perde a confiança, perde o amor – acrescentou.

A rotina do boleiro no futebol amador

No futebol amador de São José dos Campos, os jogadores recebem por partida e atuam sempre aos domingos. O craque de um time pode ganhar até R$ 500 por jogo. Os dirigentes ainda pagam bichos nos vestiários. E as regalias não param por aí.

– Tem jogador que já pediu para o dirigente bancar o silicone da namorada. Aí tem caso de um mecânico apoiar o time e aquele atleta conseguir uma manutenção no carro, pagamento de IPVA, enfim, tem de tudo. Nos jogos finais, nosso time fica hospedado e concentrado. E aí as premiações aumentam – explica João Paulo, presidente do Primavera.

A diretoria do Primavera, time que está invicto na temporada, - com seis jogos, cinco vitórias e um empate - tem folha de pagamento mensal de cerca de R$ 8 mil. Além dos gastos com cada jogador, há custos da área de departamento médico e também com o "terceiro tempo".

– Depois dos jogos tem que ter aquela cerveja gelada com o pessoal, né. Churrasquinho e cerveja, como toda boa várzea – comenta o dirigente.

Os jogadores não treinam durante a semana. Há apenas treinos físicos e individualizados. Cesinha, por exemplo, faz academia em dois períodos para manter a forma.

– Se você não treinar, não aguenta. O nível do amador é alto. Muita gente na cidade fala que há times que poderiam disputar tranquilamente uma Série A2 ou uma Série A3 de Campeonato Paulista – opinou Cesinha.

Notícias sobre os 20 times que disputam o Campeonato Amador se espalham pela cidade. "Você viu que tal time contratou aquele ex-jogador? Quem é aquele zagueirão do time deles?". O sonho da diretoria do Primavera, por exemplo, é contratar um veterano famoso para movimentar o noticiário no município. O presidente conta que paixão por futebol de várzea não se explica.

– Não tem como explicar por que nós somos apaixonados por futebol de várzea. Fim de semana você deixa a família para ir ao campo. Dia de semana, você abdica do trabalho para caçar novos patrocinadores, fazer reuniões, buscar novidades pro time. Isso é paixão, cara. Esse é o futebol de verdade, isso aí só explica quem gosta mesmo – comentou.

No Primavera, além do ex-Vasco Cesinha, a equipe conta com o ex-Flamengo Fábio. José Fábio da Silva, 31 anos, é lateral-direito e atuou pelo Rubro-Negro em 2005. Revelado nas categorias de base do Mengão, também passou por Bahia, Guaratinguetá e Monte Azul.

– Ter ex-jogadores e veteranos no time são atrações a mais para a várzea. Todos querem assistir. Não posso revelar o nome ainda, porque estamos negociando, mas tem um ex-Corinthians aí que pode assinar em breve com a gente – revelou Rangel Chamorro, gerente do Primavera.

Fonte: GloboEsporte.com