Com caneta e bom humor, Andrezinho vem brilhando no Vasco

Terça-feira, 23/02/2016 - 15:31
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Não espere que Andrezinho siga roteiros. Ele prefere o improviso - Willian Arão que o diga! Seja com a bola ou com as palavras, o meia tem dividido com Nenê o protagonismo do Vasco 100% neste início de 2016. Na base da sopa, garfo, colher e caneta, o cruz-maltino abusou da espontaneidade após o vazamento de um áudio em que brincava ao falar do drible entre as pernas do volante rubro-negro. Característica de quem ainda leva o riso fácil e o bom humor para um ambiente cada vez mais pautado no politicamente correto:

- É preciso encarar o futebol com seriedade, mas com bom humor. Tem que brincar com respeito, senão o futebol fica muito chato. Está faltando o drible bonito, a brincadeira sadia. O futebol é um espetáculo.

Sem frases prontas, Andrezinho recebeu o GloboEsporte.com no condomínio onde mora na Barra da Tijuca para falar sobre o momento iluminado que vive em São Januário. Cria do maior rival, o meia diz sentir como se estivesse há muito tempo no Vasco. A resenha, obviamente, não ficou restrita ao campo e bola. O meia vascaíno se esbaldou de rir ao contar histórias no período em que morou na Coreia do Sul e na China, relembrou o início da carreira, quando foi "adotado" por Adriano, e mandou um conselho para os peladeiros do Brasil:

- Não tomem sopa com garfo. Não venham de primeira, tem que comer pelas beiradas. Se colocar a boca no meio da sopa, vão queimar a língua. Sopa é com colher, não com garfo (risos).

Confira todo o bate-papo:

Cinco jogos, cinco vitórias... O Vasco tem tido um início de ano perfeito, parece ter superado qualquer trauma do rebaixamento. É um desempenho surpreendente?

- Esperávamos realmente esse início. Nos preparamos muito na pré-temporada, o Jorginho bateu muito na tecla de que temos que pensar em fazer história no clube. E tem a união, que é muito importante. Temos um grupo forte, sem vaidade. Às vezes, um jogador vai se destacar mais do que o outro, mas o coletivo é que faz o grupo vencer, é o diferencial. O Vasco tem isso, além da manutenção da equipe, que é importante para conquistarmos títulos.

Essa manutenção da base do ano passado tornou tudo mais fácil? Não só em campo, mas também psicologicamente, passou confiança?

- Não tenha dúvidas. Quando você começa um ano com um grupo que já se conhece, a comissão técnica, a manutenção do trabalho, fica mais fácil entrar em campo. Já temos um estilo de jogo definido, todo mundo sabe o que fazer. O trabalho do Jorginho está sendo essencial.

Dentro desse coletivo que tem dado certo, você e Nenê têm sido as principais figuras. Pela experiência e até pela função em campo, vocês sentem que precisam mesmo assumir essa responsabilidade?

- É importante quando você tem uma certa experiência. Sabemos da responsabilidade que é vestir a camisa do Vasco. Não tendo vaidade, você sabe que vai ter um jogo que um vai se destacar mais do que o outro, o que é normal, e o coletivo vai prevalecer.

E essa parceria com o Nenê?

- Jogamos juntos na Seleção Sub-23. É um cara fantástico, fora de série, e está provando a qualidade que tem. Procuro me entender muito bem com ele não só dentro como também fora de campo. Conversamos muito até sobre coisas fora do futebol. Além da experiência, é um cara que a gente sabe que vai estar bem marcado e precisamos ter alternativas. Acredito que essa parceria pode durar muito aqui no Vasco.

Falando do clássico, o episódio da "Sopa de garfo" repercutiu bastante. Como você encarou tudo isso? Foi uma surpresa?

- Tomou uma proporção muito grande. Realmente, foi um lance bonito. Não era para o áudio ter vazado, mas foi uma brincadeira. E sempre brinquei nas peladas de fim de ano com os amigos. Não tem como tomar sopa com garfo, a gente não consegue (risos). Até pela humildade do Willian Arão, que entendeu que não houve desrespeito. Está faltando isso ao futebol, essa coisa sadia. Tem que ter mais lances bonitos, essas brincadeiras. Isso é o que move. O futebol é feito de paixão. Esse carinho dos torcedores, essa brincadeira, tem me divertido muito. Onde eu chego, todo mundo fala: "Não vai tomar sopa com garfo, vai devagar". Virou um bordão.

Você acha que esse tipo de provocação faz falta ao futebol atual, onde tudo é tão policiado?

- O futebol é feito de paixão. Você tendo respeito, essas brincadeiras têm que existir. No Brasil, está faltando um pouco. O povo brasileiro tem que sorrir. Sempre que entro em campo penso em milhares de pessoas que estão nos assistindo e tento transmitir meu futebol para dar alegria. É preciso encarar o futebol com seriedade, mas com bom humor. Tem que brincar com respeito, senão o futebol fica muito chato. Está faltando o drible bonito, a brincadeira sadia. O futebol é um espetáculo. Quando o torcedor vai ao estádio, quer ver lances bonitos, gols e brincadeiras.

Há outros bordões, outras brincadeiras internas dos boleiros que podem pintar por aí?

- Tem que ser espontâneo, algo que vem na hora. Você pega jogadores habilidosos, como o próprio Nenê, que vem do salão e tem uma facilidade grande no um contra um. É difícil roubar a bola dele. É algo que sai na hora, como o lance da sopa com garfo. Quando você vai com muito apetite em uma jogada ou tenta antecipar e toma um drible desconcertante, sempre brinco com essa gíria.

No período em que você jogou na Coreia e na China, devia ter sopa com garfo toda hora...

- (Risos) É incrível como que isso ganhou proporção. Recebi mensagens do mundo todo. Um lance como esse marca tanto quanto um gol. E lá na China, modéstia à parte, alguns tomaram sopa com garfo (risos).

Nesses seis anos de Ásia, foram muitas histórias engraçadas fora de campo?

- Fui muito novo para Coreia e foi difícil a adaptação no começo. É um país com uma cultura completamente diferente da nossa, tive dificuldade no idioma, na escrita é impossível entender. Já errei de cidade. Fui passear em um lugar que levaria meia hora para chegar e dirigi quase cinco horas sem entender nada. Uma letra muda tudo. Um policial tentou me ajudar, mas teve que ser na mímica. Fiz gestos de chutar bola, mostrei o símbolo do time e ele ria para caramba. Na China, tomei sustos com a comida. Eles realmente comem larva, besouro... Para mim, era mito, brincadeira. Eu não provei. Posso ter comido cachorro enganado, achando que era picanha (risos).

Você é da mesma geração do Adriano no Flamengo. Como você vê o rumo que ele acabou tomando? Ainda tem contato?

- Temos um grupo de Whatsapp da nossa geração, mas ele não está. Tem tempo que não nos falamos. Ele e a família dele me ajudaram muito. Lembro que cheguei ao Rio com nove anos e quase todo fim de semana ia para casa do Adriano. A avó dele me tratava como um filho, eu dormia lá, eles me ajudavam com tudo que precisava. Infelizmente, aconteceram algumas coisas na carreira dele. Tenho certeza que era para ele ser o melhor jogador do mundo, é o 9 que está faltando para Seleção. Tinha tudo para chegar muito mais longe do que chegou.

Por falar nessa época, seu passado no Flamengo não interferiu em nada no Vasco. As coisas deram certo muito rápido...

- Foi uma surpresa muito boa ser recebido da forma que fui. Lembro que quando fui anunciado pelo presidente houve quase 90% de aprovação. O mínimo que posso fazer para retribuir esse carinho é honrar a camisa do Vasco, me dedicar. Parece que estou no clube há muito mais tempo por essa relação intensa. Sei da rivalidade, já joguei do outro lado, e sei mais agora o que representa. O presidente trata esse jogo como uma final, é guerra no bom sentido, e esse carinho do torcedor realmente me surpreendeu. Daqui para frente, ficaremos muito mais íntimos.

Seu contrato acaba no fim de maio, há uma tendência pela renovação ou o futuro está em aberto?

- Vivo muito o dia a dia. Claro que minha vontade é permanecer. Já disse isso várias vezes e penso que a vontade do clube seja a mesma. Deixo nas mãos do meu empresário, que já tem algumas reuniões com o presidente, e estou tranquilo. Tenho que seguir trabalhando e penso que a renovação é questão de tempo. Eu quero.

Você completa 33 anos em 2016. Já pensa no Vasco como seu último clube ou é precoce?

- Claro que você tem que planejar o futuro, mas no futebol as coisas acontecem muito rápido e às vezes não temos como fazer planos. Hoje, não penso em sair mais do país. Morei quatro anos na Coreia, dois na China. Toda essa identificação, essa química que esse grupo formou com o torcedor é quase perfeita. Penso em ficar muitos anos no Vasco e, quem sabe, até encerrar a carreira.

Será a primeira vez que você disputará a Série B. Muda alguma coisa na cabeça do atleta?

- Não queríamos passar por essa situação, mas é uma realidade que vamos encarar com muita seriedade. É uma obrigação o Vasco voltar para Primeira Divisão. Não fico muito bitolado pensando que é Série B. Até porque, a grandeza do Vasco todo mundo sabe. Nossa responsabilidade é muito grande. Pensamos jogo a jogo. Hoje, o importante é o Carioca. Estamos querendo fazer história. Tem ainda a Copa do Brasil também. Temos que ir em busca de todos os títulos. Quem sabe não terminamos o ano com o título do Carioca, da Copa do Brasil e o acesso como campeão? Por que não cultivar esse sonho?




Fonte: GloboEsporte.com