Joel Santana fala sobre sua renovação, ligação com o Vasco e medo do time não subir

Sexta-feira, 05/12/2014 - 14:16
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Joel Santana está de bem com a vida, apesar de ainda não ter tido contato de Eurico Miranda para renovar contrato para a próxima temporada. Em divertida entrevista para o Terra, o treinador, que subiu a equipe carioca aos trancos e barrancos para a Série A de 2015, ironizou os autores das piadas sobre o seu inglês em 2010. Para Joel, agora os autores das brincadeiras devem estar "envergonhados" pelo sucesso que elas deram ao técnico.

"Eu achei graça. Achei que todo mundo estudava em Oxford. Parecia que todo mundo estava lá. E aquilo demos uma volta, hoje faço propagandas. O 'pode to be', de uma empresa de bebidas, foi eleita a propagando do ano em São Paulo. O nosso shampoo hoje se você acessar o YouTube tem milhares e milhares de visualizações", contou Joel.

O treinador vascaíno, sem futuro definido para a próxima temporada, ainda lembrou que Fabio Capello, italiano que treinava a seleção da Inglaterra, não falava inglês. Joel Santana disse que graças à fama pelo inglês é bem quisto por diversas gerações.

"Isso me deu um ganho muito grande porque hoje crianças, senhoras, vêm me cumprimentar, falar comigo, falar que gosta muito. E isso é bacana. Então aquelas pessoas, aqueles sábios que criaram uma situação, estão um pouquinho envergonhados. Que bom que esta dando 'dimdim' pro papai", ironizou.

Veja os principais temas da entrevista:

O que comemorar no fim do ano

"Comemorar a saúde. Tive um ano muito difícil. Nos últimos dois sofri operações, um botei um pino na perna e tive outra operação que estava incomodando, uma gastrite, história que não gosto nem de lembrar. E cumprimos uma missão que foi dada, difícil, terminamos com êxito, colocando o Vasco em seu lugar, em suas origens. Pode não ter sido um futebol belíssimo, aquilo que nós queríamos, mas foi aquilo que precisávamos. Mais uma vez termino o ano feliz.

Renovação e ligação com o Vasco

"Não sei (se renova). Está por conta da direção. Se por acaso achar que eu deva continuar, acho que será bom, mas se ela achar que tem que trocar o comando fico ao dispor. Se eu não sou o primeiro, sou com certeza o segundo maior conquistador de títulos no Vasco. São dezesseis títulos, Brasileiro, Mercosul, quatro regionais.. Sem contar que fui campeão nos aspirantes, juniores.. Não sou um treinador que caí de paraquedas. Passei por vários estágios que todo treinador tem que passar. Comecei da base, vendo garotos, e as vezes que nós conseguimos tirar o Vasco, não deixar nunca o Vasco cair para a Série B, perder seu prestígio nacional. Acho que foi mais uma vez, apesar que fiquei 17 meses no estaleiro, conseguimos conquistar o que estávamos precisando."

Teve medo de não conseguir o acesso

"Você sabe: quando o time está em baixa, ninguém quer e nós assumimos mais uma vez. Botei em risco uma vida de 25 anos, 30 anos de carreira diante de um clube que sempre me recebeu bem de braços abertos. Claro que nós temíamos a situação, pela equipe que não mantinha um padrão, oscilava bastante. Não tenho os dados, mas nós jogamos muitos jogos fora do Rio, com viagens cansativas, adversários vendo os jogos. Com a responsabilidade de vencer, em um clube que na Série B era a cereja do bolo e todo mundo queria vencer. Nunca vi os caras se dedicarem, tem até um clube que conhecia um jogador. Eles fizeram greve antes do jogo, e depois fui falar com ele: 'po, correram tanto, e a greve?'. Ele falou: 'professor, se não fizesse greve contra o Vasco, quem iria ver a nossa greve?'. Teve outro (Icasa), que jogou aqui, fez partida boa e depois demitiu 10 jogadores. Fui perguntar lá e o cara falou: 'po, deixaram pra jogar tudo no Maracanã, com 50 mil pessoas, no resto do ano foram mal e estamos rebaixados. Então vou demitir'."

Fórmula atual do Brasileiro

"Eu também acho um excesso quatro (rebaixados) porque o Campeonato Brasileiro da Série A é cada dia mais difícil, Série B também. Os campeonatos de pontos corridos são muito bonitinhos, mas há dois anos o Cruzeiro é campeão com oito rodadas. Um Flamengo, um Fluminense, um Corinthians, a torcida não suporta estar fora dos 10 primeiros. Eu gostava quando os campeonatos eram disputados em playoff. Você sabia que as competições americanas são todas disputadas em playoff? Americano sabe fazer dinheiro. Na hora de você motivar o público a ir aos jogos, as equipes brasileiras já estão fora da competição. A cada dia que passa, as coisas estão claras, tem o Palmeiras aí nesta situação.

Estou muito chateado de um time lá de cima, da Bahia, estar caindo. Já salvei o Bahia, fui campeão no Vitória. Nós vamos perder um público que vai aos jogos. Nós temos que saber lidar com estas competições, e agora com arena, ter competições mais rentáveis. E para isso tem que mudar o calendário. Com esse calendário e modelo de disputa, não dá samba. A gente vai encontrar soluções, tem que sentar e conversar, ver as datas que temos. Eu acho Estadual romântico e que equipes caíram porque o calendário é mal feito. Não pode ter um América forte, um Bangu forte. Se não tem 16, tem que ter 12 e fazer um campeonato forte. "

Queda do futebol brasileiro e carioca

"Caiu pela falta de organização. As equipes de Minas estão com supremacia porque eles têm um controle de competência dentro de seu mundo de trabalho e treinamento. A Cidade do Galo é a coisa mais linda do mundo e a Toca da Raposa tem hora que eu nem queria ir para casa, queria continuar lá. Se nós aqui no Rio não tivermos a capacidade de colocar dentro das nossas equipes, pode ser qualquer uma, outro dia fui no Nova Iguaçu e tem um local ótimo de treinamento. Ou a gente faz isso ou vamos chorar muito."

Romário

"Foi um dos maiores. Mas aquele baixinho, que fala a verdade, que é nosso senador, anos atrás ele falou que eu era o melhor com quem trabalhou até hoje. Se ele falou isso, eu sou o cara, e ele é amigo do cara. Ninguém faz 1000 gols à toa, só ele e o Rei. O Tulio também vai, com as contas dele, vamos respeitar."

Fonte: Terra