Responsável pelo 'olhar clínico' do Vasco, Clóvis de Oliveira jogou com Dinamite

Quinta-feira, 16/05/2013 - 22:52

Ele trabalha de forma discreta. Muita das vezes, está no meio da multidão, aparentemente como apenas mais um, porém, por trás do sorriso fácil e da boa conversa, Clóvis de Oliveira exerce uma dupla função que vem sendo importantíssima no departamento de futebol do Vasco: a de descobrir talentos e a de analisar os adversários do Cruz-Maltino.

Há dois meses, o profissional, que foi jogador do Gigante da Colina na década de 70, foi convidado pelo diretor-executivo René Simões para assumir o cargo de gerente de observação e captação. Basicamente, sua missão é viajar pelo Brasil afora em busca de jogadores que se encaixem nas necessidades e no perfil traçados pela comissão técnica vascaína. O outro objetivo é analisar taticamente os rivais do Vasco.

Somente na última semana, Clóvis foi às cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Salvador. Além disso, tem na mesa cerca de 500 dvd's de atletas e observa uma média de 10 a 12 por dia. No sigiloso material, trouxe informações que já fazem o clube caminhar para um segundo passo neste período em que o mercado está aquecido, que é o da conclusão de contratações, o que deve ocorrer já na semana que vem.

restes a ganhar uma equipe com, pelo menos, mais quatro pro-fissionais, ele sonha alto:

– Sou muito entusiasmado com aquilo que faço e estou empolgado com o projeto. Quero ser pontual, conseguir uma coisa maravilhosa. Trazer um cara que a gente gaste pouco e daqui há um ano, dois ou mesmo três, o cara desponte. O clube necessita e me sinto honrado, qualificado e capaz. Vamos fazer muita coisa boa dentro disso.

Clóvis foi atleta do Vasco e jogou com Dinamite

A ligação de Clóvis com o Vasco começou cedo. Aos 13 anos, ele passou a integrar as categorias de base do Cruz-Maltino. Mas a carreira como jogador foi encurtada por conta de uma lesão no joelho.

Lateral-direito promissor, Clóvis lesionou-se durante uma final de Campeonato Carioca de juniores, em 1972, após fazer a jogada do gol com Roberto Dinamite, ídolo e atual presidente do Vasco. Eles cresceram juntos no clube.

– Eu estava perto de completar 18 anos. No último jogo do campeonato de 72, cruzei uma bola para o próprio Roberto Dinamite e fizemos o gol. Aí fui vibrar, dei um salto para comemorar e o joelho meio que saiu. Conclusão: nunca mais joguei bola. Tentei voltar para o segundo tempo, mas não deu – lembrou Clóvis.

Mesmo após seguidas cirurgias, ele não conseguiu voltar a atuar. E lembra que, dias depois da lesão, foi informado que estava convocado para a Seleção Sub-20.

– Eu tinha uma convocação para a Seleção. Fui saber somente depois. Mas não tinha como jogar. A lesão não deixou – lamentou.

Depois que deu a carreira por encerrada, Clóvis fez faculdade de educação física. Jogando torneios de futebol pela instituição em que estudava, praticamente com uma perna só, foi convidado a voltar ao Vasco. Disputou jogos pelo time B,
mas preferiu não seguir.

Parceria com René Simões é antiga

Não é à toa que René Simões confiou a Clóvis de Oliveira a função de cuidar do departamento de captação do Cruz-Maltino. Eles já trabalharam juntos por diversas vezes e se conheceram ainda nos tempos de faculdade.

O primeiro contato foi em um torneio de futebol da faculdade, em que atuaram no mesmo time. Depois, profissionalmente, René sempre tentou puxar Clóvis para os clubes em que trabalhou. Assim foi na seleção da Jamaica, por exemplo. Quando René saiu, Clóvis assumiu o cargo de diretor técnico.

– O convívio existe há muito tempo. A gente se conhece há 35 anos. Nas vezes em que tive a oportunidade, que fui como técnico, foi com indicação dele. Todo o passo que gente dá, faz contatos. Em 2009, eu trabalhava no Vasco e o René me convidou para trabalhar com ele no Bahia. Quando foi para o São Paulo, tentou minha colocação, mas não foi possível. Aí voltei para cá, convidado pelo Dinamite – lembrou Clóvis.

Quando René Simões foi contratado pelo Vasco, já tinha conhecimento de que Clóvis trabalhava na base do clube. Então, fez um pedido para que ele pudesse fazer parte do time de cima e o colocou para coordenar o projeto de captação.

– O René fez esse pedido e estamos trabalhando juntos novamente. Estou muito empolgado com esse projeto novo – completou ele.

Confira a entrevista completa com Clóvis de Oliveira

O que esperar deste projeto que está sendo iniciado no Vasco?
Estamos montando esse projeto, que é um dos mais importantes para o clube. O fundamental, a médio e longo prazo, para nós, é contratar bem para vender bem. É ter uma visão ampla e geral de como captar o jogador, porque, por exemplo, às vezes você vai ter o objetivo técnico, mas o cara já é experiente e você não pode prospectar uma eventual venda no futuro. Diferente de você
trazer um garoto tecnicamente tão bom quanto e ele gerar recursos futuramente ao clube.

Há modelos que já servem de exemplos?
Há alguns bons trabalhos, como no Grêmio, Corinthians, São Paulo, além da Udinese (ITA), que tem um programa de captação fantástico. Eles têm três times de ponta, em outros países, onde desenvolvem esse trabalho. Pretendo contratar mais três ou quatro profissionais de alto nível. Lá na Udinese são 18 observadores, no Grêmio são oito, no Corinthians, sete. Vai ser um dos setores mais importantes do Vasco.

E por qual motivo você tem viajado tanto nestas semanas?
Às vezes as pessoas me perguntam: “Clóvis, qual a diferença de ver na TV e ao vivo?”. A diferença é absurda. Na televisão você só vê o cara com a bola, mas o futebol é um todo. Quero saber a participação dele sem a bola, como é o espaço. Se o time está atacando, quero saber como ele está posicionado. Esse é o motivo de estar no estádio.

E como é a parte de observação dos adversários?
Para o Paulo Autuori é importante que eu veja o último jogo do próximo adversário. Então, com o Brasileiro, viajarei bastante. O Paulo e a comissão técnica dele gosta muito que a gente trabalhe bastante com imagem, informação...

E como este processo é dividido no departamento de futebol?
O aspecto técnico é com Autuori e Ricardo Gomes. Não posso dar um passo à frente ou um passo atrás sem que eles saibam. E o René, como um gestor de todo o clube, executa e traça relatórios.

Fonte: Lancenet