Baleado na mão no Complexo do Alemão, funcionário do Vasco acusa PMs de truculência

Domingo, 07/04/2013 - 16:25

Uma confusão entre policiais e moradores da comunidade da Grota, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, terminou com um homem ferido gravemente na mão, na tarde do último sábado. O vigia Wagner Luiz da Silva, o Peu, de 28 anos, acusa PMs da UPP Alemão de agirem com truculência durante uma abordagem, além de um deles ter disparado dois tiros contra ele. Uma bala atingiu a mão do vigia, que estava com a mulher, Michelle Barros, 23, e a filha, de 4 anos, na hora do ocorrido. A Polícia, no entanto, diz que moradores teriam tentado desarmar um militar.

Segundo Peu, que trabalha como vigia do Estádio Vasco da Gama, popularmente conhecido como São Januário, ele estava indo comprar ovos de Páscoa com a família quando avistou cerca de três policiais parados em frente a um mercado. Em seguida, uma viatura maior teria chegado ao local com aproximadamente seis PMs, entre eles, o sargento Marcelo Moura de Souza, que, ainda de acordo com Peu, pediu a documentação de um irmão dele, Luciano, de 37 anos. Durante a ação, policiais teriam abordado também, com xingamentos, homens que estavam em um bar próximo dali.

– Eles (os policiais) chegaram gritando, mandando todo mundo encostar na parede. Como não tinha nada a ver comigo, continuei com a minha mulher e com a minha filha, quando um falou que era pra eu colocar as mãos pro alto também. Questionei a maneira de ele falar comigo, já que sou pai de família e trabalhador, e aí começou o tumulto todo – diz o vigia.

Peu conta que, ao ver a situação, o sargento se aproximou para entender o que estava acontecendo. Foi quando, indignados, os moradores acusaram os policiais de serem violentos. No meio da discussão, a PM teria lançado spray de pimenta contra os moradores, inclusive na filha e na mulher do vigia. Neste momento, Peu disse que viu um sobrinho de 17 anos ser agredido por um dos militares:

– Quando eu vi aquilo, coloquei as mãos pro alto, com dificuldade pra enxergar por causa do spray, e fui em direção ao policial que deu uma rasteira no meu sobrinho. Foi quando ele disparou dois tiros contra mim, na frente da minha filha, sem nenhum motivo pra isso.

O vigia foi socorrido por moradores, pois se negou a entrar na viatura com os policiais – segundo ele, por medo de acontecer algo pior. Após ser atendido na UPA da comunidade, Peu foi levado para o Hospital Souza Aguiar, no Centro, onde passou por uma cirurgia de aproximadamente seis horas.

No mesmo dia, os policiais envolvidos no caso registraram uma ocorrência na 38ª DP, na qual acusam o vigia de desacato à autoridade. O morador prestou depoimento na mesma delegacia nesta segunda-feira, quando recebeu alta médica.

– Até agora, ninguém apareceu aqui em casa para ver como estou. Sinto dor o tempo inteiro, estou com a mão inchada, cheia de pinos, vendo minha filha falar o tempo inteiro que ‘o policial deu um tiro na mão do papai’. Foi uma covardia. Eles tratam todo mundo como vagabundo em vez de proteger a comunidade. Tenho medo de perder a vida, mas vou até ao fim por justiça – emociona-se Peu, que na tarde desta quinta-feira vai à Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj.

O funcionário do Vasco já ficou preso em regime semiaberto durante dois anos e seis meses por um roubo cometido em 2004, e é irmão de Diego Raimundo Silva dos Santos, vulgo Mister M, ex-traficante e agora modelo e cinegrafista do AfroReggae.

Inquérito investiga conduta de PMs durante a abordagem

Comandante da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), coronel Paulo Henrique de Moraes, disse que o caso está sendo investigado para avaliar a conduta dos PMs durante a ação na comunidade. Segundo ele, laudos periciais foram feitos com o objetivo de compreender o que de fato aconteceu.

– Houve uma lesão corporal. Sendo o caso, consequências jurídicas essenciais serão tomadas com o intuito de se fazer justiça.

Wagner Luiz da Silva, conhecido como Peu, de 28 anos, tomou um tiro na mão durante uma confusão com policiais da UPP do Alemão


Peu trabalha como vigia no Estádio Vasco da Gama, conhecido como São Januário


O vigia mostra os exames que fez após levar um tiro na mão, disparado por um policial da UPP Alemão


Cleide Almeida ajuda Peu a fazer o curativo do ferimento. Na foto, os medicamentos usados pelo vigia


Fonte: Extra Online