Basquete: Confira entrevista com o técnico do Sub-19 Christiano Pereira, 27 anos de Vasco

Segunda-feira, 01/04/2013 - 10:25

Falou em basquete do Vasco, falou em profissionais com muito tempo de clube. Desde roupeiro, passando por fisioterapeutas e até treinadores e supervisores, no geral são pessoas com muitos anos, muitas vezes décadas, de clube. Marcelo Mascarenhas, Marcelo Barreto, Luiz Brasília, David Gaglianone etc. Neste aspecto também se destaca Christiano Pereira, que hoje é treinador da equipe juvenil (sub-19) do clube e, ao lado de Brasília, é supervisor do departamento de basquetebol. Para simbolizar essa identificação com o clube presente no basquete vascaíno, Christiano, dos outros dois treinadores do departamento, foi treinado por um quando jogador (Brasília) e treinou o outro quando este era atleta (David). Além disto, foi treinador do atual estagiário da comissão técnica, Cássio Santos. Ele comenta sobre a importância desta situação:

- Eu acho importante, mostra o comprometimento do profissional com o Clube, e é isso que a gente tenta passar para os jogadores. Estamos passando por um momento muito difícil, uma fase onde os jogadores estão perdendo a identidade com o Clube, devido às próprias responsabilidades do Vasco.

Sua trajetória no clube começou como jogador, quando chegou em 1986 para jogar na categoria infantil. Em 1992, assumiu como técnico da categoria mirim, e desde então foi treinador de todas as categorias, até do adulto. E conquistou diversos títulos como comandante de equipes. Há muitos anos dirige equipes mais velhas, chegando até a comandar o adulto nos anos de 2005 e 2006. Ele, como todos do departamento de basquete do clube, lamenta a fase atual. Critica de maneira acentuada a ausência do ginásio principal de São Januário, interditado em dezembro de 2011 e que faz imensa falta. Atualmente, as categorias sub-17 e sub-19 treinam na Associação de Basquetebol de Veteranos do Rio de Janeiro (ABVRJ), e até o ano passado todas as categorias lá também jogavam (para este ano, o mirim, o infantil e o infanto jogarão no Forninho, com o sub-14 e o juvenil continuando a atuar no mesmo local de jogos de 2012). Christiano, que viveu a fase áurea do final da década de 1990 e começo dos anos 2000, pode como poucos dissecar ambas as situações antagônicas e compará-las.

- Estamos há mais de dois anos treinando duas categorias fora do Clube. Tem atleta que passou pelo Vasco que não teve o privilégio de pisar, de jogar dentro de São Januário. E eu acho que com isso o Clube foi perdendo credibilidade no Rio de Janeiro e foi perdendo a sua identidade. Credibilidade porque o jogador pensa da seguinte maneira, isso não é mentira porque converso com muito jogador: “vou jogar num clube que não tem nem quadra?”; e a identidade pelo jogador não vivenciar o dia-a-dia do Clube. Antigamente você chegava em São Januário, passava pela social do Clube, deparava com o treino do Clube, deparava lá escrito bicampeão sul-americano, passar por todo o Clube até chegar ao ginásio. Tinha que andar uniformizado, tinha vestiário, com a Cruz de Malta, todo mundo vivendo o dia-a-dia do Clube, e, a partir do momento que você não vem no Clube, começa a perder isso.

Christiano recebeu a equipe do ‘CRVG – Em Todos os Esportes/SuperVasco’ de maneira extremamente solícita, e, nesta longa e esclarecedora entrevista, comenta sobre diversos aspectos que envolvem o basquete vascaíno. Fala sobre sua história como jogador e treinador, cita fatos que lhe marcaram, fala sobre o momento áureo, no qual havia muito dinheiro injetado, comenta a fase atual do esporte no clube, opina sobre a ausência do ginásio principal, cita pessoas que marcaram e marcam o basquete vascaíno e, sobretudo, como bom basqueteiro vascaíno, deixa uma mensagem de otimismo em meio a tantas dificuldades:

- Eu continuo acreditando que dias melhores virão, posso garantir que não falta trabalho, capacidade no corpo técnico do Clube, falta nós termos melhores condições, até para atletas voltem a acreditar. Hoje não temos nada para oferecer ao atleta. Temos um bom trabalho, mas os outros clubes tem passagem, escola, um lanche, alguma coisa. Continuo acreditando que coisas melhores podem voltar a acontecer.

Confira mais essa entrevista exclusiva!

Como e quando chegou ao Vasco

- Eu cheguei aqui em 1986, até então eu tinha começado minha carreira de jogador nesse mesmo ano no Olaria. Por intermédio de um tio meu que trabalhava no futebol, eu passei a vir aos treinos do Vasco, e no ano seguinte eu me transferi em definitivo para cá, em 1987. Iniciei na categoria infantil, joguei infantil, Infanto e juvenil. No meu último ano de juvenil, comecei minha faculdade de Educação Física, e, paralelamente a minha função de jogador, eu exercia a função de auxiliar técnico na categoria Infanto-juvenil com o Marcio Bronquinha, isso em 1991, que foi meu último ano de jogador. A partir de 92, fui convidado a me tornar técnico da equipe mirim do Vasco e, de lá pra cá, passei por todas as categorias que o Vasco teve, de mirim, dirigi infantil, Infanto, juvenil, dirigi sub-23 e dirigi adulto em 2005, 2006, os dois últimos anos que o Vasco teve adulto. Hoje me encontro na função de técnico do sub-19 e dividindo com o Brasília a responsabilidade do departamento de basquete.

A equipe e título que mais marcaram

- Em termos de títulos, acho que todos eles têm sua importância. Acho que em 99 foi um ano especial que foi o meu primeiro título dentro do Clube com a categoria infantil. Era uma equipe completamente desacreditada, porque no anterior, em 98 tinha ficado em penúltimo no campeonato. Então em 99 peguei uma equipe completamente desacreditada, com pouquíssimos jogadores, consegui peneirar bastante jogador na escolinha nossa, trouxe um ou dois jogadores de outro clube e nós conseguimos o título, foi quase que inédito para o Clube, visto que o Clube não ganhava um título de infantil há muitos anos e por ter pegado uma equipe completamente desacreditada. 2006 foi um título também muito importante pro Clube que foi o título do sub-23, uma equipe toda mesclada de jogadores Infanto e juvenis e, pouquíssimos atletas sub-23. Tivemos uma série muito forte contra Macaé, que eles tinham montado um baita de um time, inclusive para disputar o campeonato adulto na sequencia da competição, e nós conseguimos ganhar deles dentro da casa do adversário o título do sub-23 do Rio. Se não me engano em 2005, um título em cima do Flamengo, dentro da Gávea, pela partida ao todo nós estávamos perdendo o jogo de 8 pontos, faltando 01:09, posse de bola para o Flamengo. Conseguimos reverter e ganhamos o jogo dentro da Gávea por um ponto de diferença. Teve um sabor especial pelo que estava acontecendo no jogo, um jogo decisivo, e a gente ter conseguido reverter o placar.

Já foi treinador do David e Cássio, que hoje em dia treinam categorias inferiores

- Foram meus atletas desde base, desde infantil. David inclusive tenho uma participação muito grande na vida dele, não só como atleta, como profissional. Ele foi meu atleta infantil, Infanto, foi meu atleta sub-23. Eu levei para estudar no colégio Gissoni e ganhar bolsa de estudo, então ele foi meu atleta estudantil. Foi pra faculdade, dei bolsa pra ele na Faculdade Castelo Branco. Ele pediu para estagiar aqui, enquanto estava fazendo faculdade, foi quando pintou uma oportunidade de indicar ele a dirigir as escolinhas do Vasco Barra. Então foi uma indicação minha para o Fernando Lima na ocasião ele fazer parte lá das escolinhas. Sou padrinho de casamento dele por parte da esposa, porque eu no Colégio acabei intermediando com a Mirena e acabei sendo o padrinho desse relacionamento.

E o Cássio foi meu atleta Infanto e juvenil. Quando ele ainda era Infanto, já jogava comigo no juvenil. Fui eu que o convidei pra ir a Castelo Branco e dei bolsa de estudo para ele. Ele está fazendo a faculdade e fui eu que indiquei para ele vir ao Vasco pra ser estagiário, e está com a gente até agora.

Comissão técnica com a identidade Vascaína, todos com anos de Clube; A importância na criação de identidade dos mais novos

- Eu acho importante, mostra o comprometimento do profissional com o Clube, e é isso que a gente tenta passar para os jogadores. Estamos passando por um momento muito difícil, uma fase onde os jogadores estão perdendo a identidade com o Clube, devido às próprias responsabilidades do Vasco. Estamos há mais de dois anos treinando duas categorias fora do Clube [infanto e juvenil treinam na ABVRJ]. Tem atleta que passou pelo Vasco que não teve o privilégio de pisar, de jogar dentro de São Januário. E eu acho que com isso o Clube foi perdendo credibilidade no Rio de Janeiro e foi perdendo a sua identidade. Credibilidade porque o jogador pensa da seguinte maneira, isso não é mentira porque converso com muito jogador: “vou jogar num clube que não tem nem quadra?”; e a identidade pelo jogador não vivenciar o dia-a-dia do Clube. Antigamente você chegava em São Januário, passava pela social do Clube, deparava com o treino do Clube, deparava lá escrito bicampeão sul-americano, passar por todo o Clube até chegar ao ginásio. Tinha que andar uniformizado, tinha vestiário, com a Cruz de Malta, todo mundo vivendo o dia-a-dia do Clube, e, a partir do momento que você não vem no Clube, começa a perder isso. Treina numa quadra emprestada, empoeirada, não tem vestiário adequado pra trocarem de roupa. Então você passa a perder o jogador da mão. Então os jogadores começam a fazer comparações, vão para um outro clube fazer peneira, ou o Vasco. Isso especificadamente na categoria sub-17 e 19, já o sub-15, sub-13, já não perde tanto isso, o David consegue manter mais próximo.

Como treinar uma equipe, sem espelho de um time profissional no Clube?

- Vontade não falta, o que vai faltar é a gente sempre ter o jogador diferenciado. De dois anos pra cá, a gente tem tido jogadores de nível técnico mais baixo. Os jogadores com nível técnico mais alto querem jogar no Flamengo, num Tijuca, no Fluminense, que têm equipes adultas, onde têm uma vitrine em cima. O Vasco está passando justamente por isso, e, por coincidência, são as equipes que vem disputando final, semifinal de campeonato. De 2010 pra cá, eu não chego mais uma semifinal de campeonato, porque acabamos com as últimas gerações que ainda davam bons resultados ao Vasco, foi a geração do Cássio. De lá pra cá, 2011, 2012, o nível técnico foi caindo, devido s não ter essa vitrine, ter aqueles jogadores que de certa forma vem de equipes sem expressão ou vem de equipes de maior expressão que não foram aproveitados no corpo de jogadores, com isso o nível técnico tá cada vez menor. Nossa equipe juvenil tem 4 atletas juvenis, optamos por não ficar trazendo jogadores para jogar um ano só, vamos botar a equipe Infanto-juvenil pra rodar, para eles terem mais dois, três anos, e a gente daqui a um, dois anos, ter uma equipe sub-19 mais forte.

Time adulto do Riachuelo próximo de fechar com o Vasco; Não seria melhor aproveitar e investir na base antes de voltarmos a ter um time adulto?

- Não tenho dúvida e tenho certeza disso. Mas isso independe da minha opinião, do Brasília, Cássio ou David. Hoje não temos espaço suficiente para adequar uma equipe adulta. Precisamos reestruturar nossa base, precisamos voltar a ter um local de treinamento, nossa identidade e aí sim pensar na equipe adulta. Uma equipe adulta estará mascarando um monte de deficiência que temos aqui, seria um time de aluguel. Não seria um time com as tradições e identidade que o Vasco teria que ter. Treinaria em um outro lugar diferente e colocaria a camisa do Vasco para jogar. Eu acho que com as tradições do Vasco, pelo que já representamos pelo basquetebol brasileiro e mundial, não acho que seria a forma ideal para recomeçarmos.

Com as escolinhas se tornando pagas, tornou-se mais difícil colher frutos, jogadores para o esporte?

Uma briga nossa desde alguns anos pra cá. No título que eu citei de 1999, eu cheguei a catar da escolinha do Vasco uns 6 ou 7 atletas que ficaram até a equipe juvenil. Atletas que vieram e que fizeram parte do corpo técnico. Brasília dirigiu por muitos anos a equipe mirim, sempre pegou. De um tempo pra cá a escolinha do Vasco passou a ser paga, e naquela ocasião tínhamos 100 alunos na escolinhas; hoje temos 3, 4 atletas na paga. Brigamos muito com a administração atual. Ano retrasado resolveram pôr a escolinha de graça, mas ao mesmo tempo perdemos o ginásio, e a escolinha passou a treinar no mesmo horário da equipe. Não podemos fazer a divulgação que gostaríamos, porque treinam junto com a equipe e a escolinha voltou a ser paga de novo.

Ginásio é o símbolo da situação atual do basquete?

Eu acho que sim, acho também que um grande número de esportes dentro do Clube para pouco espaço é uma grande causa. Até 2008, 2009, agora não me recordo, nós só tínhamos aqui dentro do clube futsal e basquete. Com a nova gestão, o vôlei passou a fazer parte, a ginástica tem que usar o ginásio, mais uma atividade dentro do ginásio, então eu acho que isso também atrapalhou um pouco. Porque só tem duas quadras, com a externa três, que não é a ideal para prática competitiva, mas é a única coisa que nós temos para mais esportes. O Forninho durante muitos anos, ele foi único e exclusivamente do basquete, hoje divide com o vôlei, que usa muito mais; ainda tem o vôlei sentado que usa de manhã, usa sábado.

O basquete do Vasco vai jogar no Forninho nesse primeiro semestre?

- É uma ideia até por questão de logística. Na Associação temos deficiência de água, gelo, o Vasco não oferece transporte para os jogos. Hoje dependemos de um carro, ou deixamos a roupa com os jogadores para irem direto, dependemos de um pai, avô, alguém para comprar água e gelo para gente. Se trouxermos esses jogos para São Januário, principalmente de sábado, por conta da rodada tripla, visto que, aqui temos vestiário, água, gelo, nosso roupeiro para dar todo o apoio, e a gente consegue resolver 100% esse problema.

E na verdade temos só um problema para trazer as partidas para cá, estamos tentando viabilizar o conserto do cronômetro de 24 segundo e adequar com o pessoal do vôlei para trazer as partidas para São Januário.

Nota: esse problema exposto pelo Christiano já foi resolvido. Os medidores de vinte e quatro segundos de posse de bola foram consertados, e as categorias mirim, infantil e infanto-juvenil farão rodada tripla nas manhãs de sábado, a partir das 9h. À tarde, o ginásio é do vôlei.

Qual categoria treina e como estão os preparativos para o Carioca?

- Atualmente treino a categoria sub-19, que ela está justamente adequada a sub-17 por estar treinando junto. Os treinamentos estão tendo três a quatro vezes por semana, o nível técnico não é excepcional, mas também não é ridículo. Acredito que no decorrer da competição os meninos vão melhorando e acho que vamos atingindo os resultados aos poucos. Tem a coisa dos mais novos jogarem com os mais velhos, sente um pouco a categoria, até porque as outras equipes utilizam dois jogadores mais novos, utilizaremos mais, mas justamente para tentar no futuro termos jogadores com mais rodagem, mais jogos até chegarem ao sub-19. Não temos time para ser campeão, aos poucos tiraremos proveito dessa aposta que estamos fazendo

A importância de a torcida acompanhar o basquete do Vasco:

- Eu acho que a torcida faz parte do clube de massa e o Vasco é um clube de massa. Já joguei com gente na arquibancada torcendo e já joguei sem. Posso dizer que como jogador é um aditivo diferente, e pro atleta também. Já teve torcida nos meus jogos, tanto na base como no adulto, e jogadores dizem que é uma coisa diferenciada. No dia-a-dia do treino acho que só vocês mesmo participando, um dia ou outro, conversarem com o atleta, sentirem na parte deles, porque estamos com bastantes jogadores novos e os jogadores que estão chegando, precisam vivenciar isso, para eles poderem passar o que eles acham. Mas é de fundamental importância.

A importância do Brasília no basquete do Vasco

O Brasília é um grande amigo, foi meu técnico em 1991, nós fomos campeões juntos. Quando cheguei ao Vasco, o Brasília ainda jogava, estava no final de carreira dele e fui muito na arquibancada torcer pra ele. Ele foi técnico do adulto, depois do juvenil, tive o privilégio de treinar com ele. Desde então como técnico, sempre tivemos uma ligação muito forte. Ele está muito junto a mim, à medida que estou subindo de categoria, e o Brasília sempre esteve junto comigo no banco, como meu assistente, sempre tivemos uma ligação, um respeito muito grande.

Diferença entre a fase áurea do Clube e fase atual de decadência:

- Eu cheguei ao Vasco em 1986, joguei até 1991, sendo que 91 eu já estava fazendo faculdade, auxiliava a categoria Infanto, 92 eu assumi a categoria mirim. Meu primeiro titulo foi em 99, ganhei 99, 2001, 2002, 2003, 2004, 2006 e 2007. Sendo que em 2005 eu ganhei dois, Infanto e juvenil, 2005 dirigi Infanto, juvenil e adulto. 2006 dirigi juvenil, sub-23 e adulto, ganhamos o sub-23, fomos 4º no adulto e 2005 fomos 3º no adulto, com equipe toda montada, 80% de atletas formados dentro de casa, os que vieram de foram eram atletas universitários. A divisão é o seguinte, antigamente tínhamos uma vitrine, os jogadores adultos praticamente vivenciando o dia-a-dia da base, o da base no adulto; o corpo técnico da base fazia parte do corpo técnico do adulto, o técnico juvenil daquele época, o Marcio Bronquinha, fazia parte do corpo técnico do adulto. O Carlito era um cara que tava sempre na base, o Charles Byrd sempre acompanhando treinos, jogos da base, e aquilo era uma motivação. Hoje nós não temos ginásio, tem jogador que passou pelo clube e não pisou em São Januário. Outro dia chegou um atleta do sub-17 com uniforme do Fluminense pra treinar na ABVRJ, obviamente nós não deixamos o menino treinar, pediu mil desculpas, mas não podíamos. Mas, na cabeça do jogador, ele jamais iria com a camisa do Fluminense para dentro de São Januário, mas ele foi para a ABVRJ. Vivi as duas épocas, mas a anterior dava mais gosto de trabalhar, você tinha dinheiro, atletas com nível técnico excepcional, obviamente você crescia com isso; hoje nas adversidades tem que dar nó em pingo d’água para contornar as coisas.

Como as pessoas de fora veem o momento atual do Vasco:

- Meu nome hoje é vinculado pelos 26, 27 anos que tenho de Vasco, sempre trabalhei no Vasco, as pessoas não acreditam como está o basquete do Vasco hoje, comparado ao passado recente, porque 10 anos é um passado recente. E tenho certeza que a torcida mesmo de outros Clubes quer que o Vasco volte a ter uma grande equipe, tenha um adulto, volte a disputar títulos, a torcida do Brasil inteiro torce pra isso. Pelo menos é o que passam pra gente.

Recebeu muito assédio de outros clubes nesses anos todos de Vasco?

- Na verdade não fui muito assediado não, o Marcio que está no Fluminense passou por isso, o Brasilia passou por isso. A gente cria uma imagem com o Clube, isso intimida o outro clube fazer uma proposta pra gente. Já recebi algumas propostas, mas, no momento que foi feito, não foi compatível, umas não deram certo, outra no momento não era uma boa eu ter saído. Enquanto isso, eu sou Vasco, sou fruto do que o Vasco produziu, porque tudo que eu sei aprendi aqui; aonde eu cheguei, cheguei devido ao meu trabalho aqui. Sou uma pessoa muito ética, respeito o profissional que está do outro lado, nunca cavei espaço em clube nenhum, nunca me ofereci a clube nenhum, acho que por isso estou aqui até hoje.

Futebol influencia nos demais esportes?

- Todo clube que tem o futebol vive dos resultados do futebol. O áureo tempo do basquete do Vasco foi quando o Vasco estava no áureo do futebol. Muito dinheiro dentro do Clube, o futebol bombando, em contrapartida tínhamos um basquetebol forte. Isso não posso deixar de citar duas pessoas que foram extremamente responsável por essa fase histórica do basquetebol do Vasco, que foram o Fernando Lima e o José Luiz Velho. Velho já falecido e Fernando Lima era VP de Quadra e Salão, ele que montou o projeto que levou o Vasco a ser vice-campeão mundial. Se não tiver uma pessoa junto à diretoria que queira mudar isso, isso não vai ser mudado. Se depender da alta cúpula, só vão querer o futebol.

Influência de Fernando Lima

- O pai dele era Benemérito, era diretor do Clube quando o Brasília começou a jogar, o Fernando jogou pelo Clube basquete, se tornou dirigente. Quando eu cheguei aqui ele era diretor; na gestão do Eurico, se tornou vice-presidente. Em 96, que o Vasco começou a situação extraordinária de dinheiro, National Banks, ele montou o projeto de basquete adulto. Antes de 96 ficamos um bom tempo sem adulto, aí ele iniciou um novo projeto de basquetebol adulto, trouxe Alexey, Charles Byrd, Alberto Bial como técnico. Foi até 2003 com o Hélio Rubens, ficou dois três anos sem, voltou comigo em 2005, com jogadores Infanto, juvenil e alguns atletas universitários e depois disso não teve mais nada.

Ele faz falta, acredito que sim, era o cara do basquete dentro da presidência, era um cara basqueteiro, amava o basquete, amava o Vasco e vivia ao lado da presidência; e isso falta ao Vasco, um cara dentro da diretoria, que ame o basquete e que viva isso com intensidade, que brigue pelo basquete. Desde a saída dele não tivemos. Hoje temos o Ricardo, que se vira pra arrumar dinheiro, brigar por três esportes, não é a mesma coisa que o Fernando fazia. O Fernando era única e exclusivamente para o basquete.

Mais pessoas que contribuíram com o basquete do Vasco:

- Teve uma pessoa que passou por aqui que acho importante citar, chamava Iran Silva. Os dois filhos dele foram atletas, estudou comigo. O Iran foi jogador, morador da Barreira do Vasco, depois ele teve que correr a vida dele como profissional, e graças a Deus conseguiu construir a vida dele muito bem, se tornou empresário. Depois de sei lá quanto tempo fora do Clube, trouxe os filhos dele para jogar, se tornou diretor de basquete, não sei se Benemérito ou Grande Benemérito, até 2003, 2004, ajudou muito o Clube com o dinheiro, botou muito dinheiro dentro do Clube. Se não me engano, em 2001, 2002, ele botava 6 mil reais por mês no basquete, ele bancou o basquete sozinho, o Vasco só bancava os profissionais; arbitragem, federação, basquete, ele pagava do bolso, porque ele amava isso aqui. Até um dia que os filhos pararam de jogar e ele falou: “Christiano, não dá mais, estou perdendo um carro 0km por ano”, se você põe no total, são 60 mil por ano, na época era um Zafira 0km. É um cara que teve no Vasco nos áureos tempos, perdeu dinheiro. Na verdade ele deve falar que ganhou, porque pagava com prazer, mas chega uma hora que cansa também, e tem que parar. Hoje tem algumas pessoas que ajudam a gente aí, dentro das suas limitações. O Rogério Abreu, que está sempre pronto para pagar uma coisa quando precisamos, o seu Valdir, que é avô de um atleta do juvenil, que vira e mexe compra água e gelo para os meninos. Só que isso não pode virar uma obrigação. Com o que o Vasco é, isso não pode virar obrigação, ficar dependendo de pai, avô, colaboração.

Mensagem final:

Eu continuo acreditando que dias melhores virão, posso garantir que não falta trabalho, capacidade no corpo técnico do Clube, falta nós termos melhores condições, até para atletas voltem a acreditar. O Fernando uma vez me falou uma coisa. Quando começou a montar a equipe adulta, o Vasco era uma equipe com pouca credibilidade, por muito tempo sem ter equipe adulta. Hoje não estamos vivendo isso no adulto, estamos vivendo isso na base. Jogador hoje prefere jogar no Municipal da vida, sem desmerecer o Municipal, quando iria preferir jogar no Municipal a jogar no Vasco, Flamengo, Fluminense da vida? Ás vezes morando perto do Clube, da ABVRJ, mas prefere ir a outro clube, porque vê com desconfianças. Hoje não temos nada para oferecer ao atleta. Temos um bom trabalho, mas os outros clubes tem passagem, escola, um lanche, alguma coisa. Continuo acreditando que coisas melhores podem voltar a acontecer.

Christiano Pereira na sala de Departamento de Basquete do Vasco, em São Januário, cheia de glórias e histórias do Gigante da Colina


Fonte: Blog CRVG Em Todos os Esportes - Supervasco