Campeão do Rio-São Paulo 1999, Zé Maria quer ser técnico

Sábado, 30/03/2013 - 13:26

Zé Maria já fez a alegria de algumas das maiores torcidas do futebol brasileiro. Rubro-negros, vascaínos, palmeirenses e, principalmente, torcedores da Portuguesa vibraram com seus cruzamentos perfeitos e chutes venenosos. Piauiense de Oeiras, cidade localizada 310 quilômetros ao Sul da capital Teresina, o ex-lateral-direito, que vestiu a camisa da seleção brasileira em 43 jogos entre 1995 e 2001, segue respirando futebol. Desta vez, porém, aos 39 anos, ele pretende seguir carreira à beira do campo, como treinador de futebol. Para isso, na companhia de astros como Baggio, se submeteu a um dos mais importantes cursos de formação de técnicos do mundo e aguarda oportunidade de mostrar do banco de reservas toda a experiência que adquiriu dentro de campo.

Piauiense de maior trajetória na seleção brasileira, Zé Maria atualmente mora em Perugia, na Itália, onde alimenta planos de construir nova carreira. Depois que parou, ainda em 2008, o ex-jogador abriu uma lanchonete na cidade de Campinas, interior paulista. A ‘Mister Zio’, no entanto, não durou muito e fechou as portas em 2010.

- Um jogador pega a primeira coisa que aparece depois que termina a carreira e, às vezes, acaba fazendo besteira. Por isso, decidi encerrar logo.

Foi durante essa desventura que Zé Maria retornou à Itália. Lá, o ex-lateral não se desvinculou do futebol. Abriu uma escolinha e iniciou uma nova empreitada: fazer carreira como treinador. Entre 2010 e 2011, treinou alguns clubes de divisões inferiores da Itália e agora se prepara para novos desafios.

- Em 2012 fiz o Curso Masters, considerado um dos melhores do mundo para formar treinadores. Agora estou esperando propostas.

Amigo de astros

Vivendo na Itália com a esposa e os três filhos, Zé Maria lembra de companheiros que marcaram sua carreira.

- Joguei com muito jogador bom: Romário, Ronaldo, Bebeto, Roberto Carlos, Zé Roberto... Na Itália, joguei com Figo, que é uma pessoa fantástica, assim como o Zanetti.

Outro jogador com quem o ex-lateral teve uma boa relação foi Cristóvão, ex-treinador do Vasco.

- Quando eu estava começando na Portuguesa, ele estava encerrando a carreira e era meu companheiro de quarto. É uma pessoa que admiro de coração e torço muito pelo trabalho dele hoje como técnico.

Lusa, Fla e Vasco

A sua história no futebol, no entanto, teve início há mais de 20 anos. Ele começou e encerrou a carreira na Portuguesa, clube pelo qual ganhou o prêmio de melhor lateral-direito do Campeonato Brasileiro de 1995, além do vice-campeonato nacional no ano seguinte, feito histórico para aquele time da Lusa, que contava também com outros importantes nomes, como o goleiro Clemer e o meia Zé Roberto. Ao lado do oeirense, eles levaram o clube paulista à sua melhor campanha em brasileiros de todos os tempos.

Essa época, aliás, é lembrada por Zé Maria como um dos melhores momentos da sua carreira.

- O ano de 1995 foi fantástico. Ganhei prêmio de melhor lateral-direito e cheguei à Seleção - recordou o jogador, que fez parte do grupo que venceu o Torneio Pré-Olímpico e acabou conquistando a medalha de bronze nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996.

Além da Portuguesa, o lateral piauiense passou por grandes clubes do futebol brasileiro. Um deles foi o Flamengo, onde chegou no pacote de reforços contratados pelo Rubro-Negro para o ano do seu centenário. Na Gávea, porém, Zé Maria jogou pouco: foram apenas 16 jogos. Mesmo assim, deixou o time com um título no currículo: o Campeonato Carioca de 1996. Naquele ano, inclusive, fez a assistência para Sávio marcar o segundo gol da vitória por 2 a 0 sobre o Vasco na final da Taça Guanabara, o primeiro turno do Estadual (veja no vídeo acima).

Três anos depois, Zé Maria defendeu exatamente o maior rival do Flamengo. Já com passagens pela Seleção e pelo futebol italiano, ele chegou ao Vasco no início de 1999, com a missão de suprir a ausência de Pimentel na lateral direita. Em apenas seis meses - tempo que durou seu contrato com o Gigante da Colina -, o piauiense disputou o Campeonato Carioca, o Torneio Rio-São Paulo e a Copa do Brasil. Seu melhor momento no clube foi o título do Rio-São Paulo, quando foi decisivo ao marcar o primeiro gol da equipe de São Januário na segunda partida da decisão contra o Santos (recorde no vídeo acima).

Depois disso, ainda jogou no futebol brasileiro por Palmeiras e Cruzeiro, sem o mesmo brilho e também sem conquistar títulos.

Duro golpe na Seleção

Na seleção brasileira, Zé Maria continuou sendo presença constante nas convocações do Velho Lobo Zagallo. Foi então que a carreira do lateral-direito sofreu um duro golpe. Bem cotado para disputar a Copa do Mundo da França, em 1998, o atleta acabou ficando fora da lista.

- Para mim, era o máximo jogar uma Copa do Mundo defendendo a Seleção, ainda mais brigando por posição com o Cafu. Foi muito triste ver a relação e meu nome não estar lá.

Além de perder a chance de disputar a maior competição do futebol mundial, o motivo do corte preocupava o jogador. Meses antes, Zé Maria começou a sentir dores provocadas por uma lesão na região do púbis que prejudicavam o seu desempenho.

- No último jogo da Copa Ouro de 1998, meses antes da Copa, eu pedi para o Zagallo para não jogar, porque estava com dores. Ele insistiu e eu entrei em campo, mas joguei mal. Ficava com muitas limitações.

Após ficar fora da lista dos jogadores que disputariam a Copa do Mundo, Zé Maria decidiu se concentrar no tratamento e passou quatro meses parado. O problema era grave, e o médico chegou a apontar que ele poderia ter que se aposentar ali, aos 25 anos. No entanto, seguindo o tratamento, Zé Maria voltou a atuar em novembro daquele ano, já pelo Perugia.

A carreira no exterior

A contusão da época da Copa de 1998 foi superada, e Zé Maria conseguiu continuar jogando em alto nível. Em sua carreira pela Europa, passou por times tradicionais, como o Parma (ITA) e o Internazionale (ITA), assim como outros mais modestos, como Levante (ESP) e Sheffield United (ING). E conquistou alguns títulos importantes, casos da Copa da Itália (por Parma e Inter), da Copa da Uefa (pelo Parma) e do Campeonato Italiano (pelo Inter).

De todos esses clubes, o que mais marcou a vida do jogador foi o Perugia.

- Eu me dei muito bem lá. Foi quando voltei para a Seleção, em 2001, num período superlegal. Por quatro anos seguidos estive entre os melhores da minha posição no Campeonato Italiano. Guardo um carinho muito grande por eles.

O carinho pelo clube e pela cidade é tão grande que, após encerrar a carreira e ficar um tempo no Brasil, foi para lá que ele voltou para construir sua vida. Em 2009, o já ex-jogador estava de passagem pela Itália apenas para realizar uma cirurgia no joelho, mas acabou ficando.

- Perugia é uma cidade muito gostosa, muito pequena. O Brasil é o país mais bonito do mundo, mas aqui tem segurança, algo que é difícil por aí. Aqui, posso deixar os meninos saírem tranquilamente. Aqui, eles vão para a escola a pé e brincam na praça.

O começo de tudo

José Marcelo Ferreira nasceu em 23 de julho de 1973, em Oeiras, região sudeste do Piauí. Com apenas cinco anos de idade e já sem pai, falecido anos antes, foi com a mãe e os nove irmãos para São Paulo. Na capital paulista, o garoto cresceu jogando bola na região do Brás, até que, aos 11, se juntou com um grupo de amigos com a ideia de fazer teste em um grande clube.

Os meninos queriam entrar nas categorias de base do Corinthians, mas, como a sede do Timão ficava muito longe, resolveram procurar a Portuguesa. Aí ocorreu um pequeno engano, como conta Zé Maria.

- A gente foi em um sábado, e, em vez de fazer o teste na Portuguesa, fizemos por engano no Serra Morena, um time pequeno que fica bem ao lado. Só na terça-feira seguinte fizemos o teste no clube certo. Passamos todos, mas, com o tempo, só eu fiquei.

Ali, nas categorias de base da Lusa, o garoto começou a se desenvolver como jogador de futebol.

- Eu cresci dentro da Portuguesa. Cheguei com 11 e saí com quase 23. Aprendi a jogar ali - comentou Zé Maria.

Profissionalizado, ele ainda foi emprestado para alguns clubes de menor expressão até estourar em 95.

Vida após o fim da carreira

A trajetória de Zé Maria como jogador profissional se encerrou no mesmo lugar onde começou: a Portuguesa. O lateral voltou para o clube em 2008 para disputar o Campeonato Paulista e o Brasileirão, mas por conta de lesões só atuou no Estadual.

Volta para casa

Após todos esses anos, Zé Maria ainda não realizou o que diz ser um grande desejo seu: voltar ao Piauí e relembrar suas origens.

- Eu ainda vou. Vou matar minha curiosidade de ir, passar uns 15 dias, conhecer tudo, saber de onde eu saí. Quero ver meu povo, minha casa e a praça onde eu jogava bola. Afinal, foi onde tudo começou.



Zé Maria, ex-lateral-direito da Portuguesa, com a esposa em Florença, na Itália


Zé Maria, Baggio e ex-jogadores durante o curso para formação de treinadores


Fonte: GloboEsporte.com