Morais critica Dinamite e diz desconfiar de armação ao ser cobrado por torcedores em 2008

Terça-feira, 15/01/2013 - 12:44

De aposentado ao vice-campeão brasileiro. O meia Morais voltou à rotina de treinos, pelo Atlético-MG, encerrando um período de seis meses sem contato com a bola. O motivo de ter abandonado o futebol em junho do ano passado foi a vontade de estar perto do pai, que passou por momentos complicados devido a Mal de Parkinson e diabetes.

O jogador retomará uma carreira que começou promissora no Vasco e teve alguns bons momentos no Corinthians e no Bahia, mas que no fim das contas ficou marcada pela irregularidade. O ponto mais alto foi a presença em uma pré-lista de Dunga para defender a seleção brasileira na Copa América de 2007 - uma lesão no púbis impediu qualquer possibilidade. O pior momento foi também pelo Vasco, dez meses depois, no episódio que o tirou de São Januário.

Ao recordar o dia que mudou sua carreira e o levou para o rebaixado Corinthians, Morais não poupa o presidente Roberto Dinamite de críticas e faz uma revelação: desconfia que o protesto de torcedores que o intimidaram na porta do vestiário pode ter sido armado, embora não cite quem poderia estar por trás.

- O Dinamite assumiu e fui tratado como uma laranja podre. A gestão me prejudicou. Um cara com contrato de quatro anos, que dez meses atrás ia para a Copa América... Minha única mágoa é essa. Faltou respeito comigo. Logo que ele assumiu, todo mundo recebeu o salário, menos eu. Dinamite acabou botando na imprensa que eu tinha que correr mais, mesmo assim continuei, até que um dia não havia segurança no clube, os torcedores invadiram e foram até o vestiário me cobrar. Sorte que um segurança estava lá, era meu amigo, estava armado e segurou a onda. Todo mundo saía do vestiário e não era cobrado. Achei que estava tranquilo e, quando saí, todo mundo veio em cima de mim. Falaram que eu não queria nada com o clube, que só vivia em baile funk. Cheguei a pensar que de repente foi armado. Talvez tenham deixado de propósito. Como podem dez caras chegar até mim numa facilidade, coisa que nunca tinha acontecido? Talvez tenha sido uma armação para eu sair, já que eu estava cansado. Não tenho certeza. De repente estavam de saco cheio de mim, não sei - afirmou Morais, em entrevista concedida dias antes do acerto com o Atlético-MG.

Sua saída rendeu lucro ao Vasco, mas ele reclama que ainda tem dinheiro a receber. Apesar disso, descarta entrar na Justiça contra aquele que diz ser - por algumas vezes na entrevista - o clube do seu coração.

- Fui emprestado e vendido por R$ 4 milhões. Ficaram dois salários pra trás, e lembro que, quando fui assinar minha rescisão para ir para o Corinthians, estava entrando esse valor da venda. Pedi para pelo menos pagarem meus salários e férias, que eu tinha direito. Uma pessoa do departamento pessoal falou que eu estava na próxima folha. Disse que iam pagar quando entrasse o valor, e até hoje nunca recebi. Liguei três, quatro vezes, nunca fiz nada contra o clube porque sou vascaíno, devo ao Vasco tudo o que conquistei no futebol. Até hoje não me pagaram, mas bola para frente - disse o jogador, que chegou ao Vasco aos 13 anos, após ser revelado pelas categorias de base do CRB.

A reportagem do GLOBOESPORTE.COM tentou ouvir por telefone Roberto Dinamite, que no entanto afirmou que tinha coisas mais importantes para tratar do que falar do Morais e sugeriu que seus assessores fossem procurados. Através de sua assessoria de imprensa, ele criticou as declarações de Morais, mas contemporizou ao elogiá-lo como atleta.

- Acho profundamente lamentável que esta história venha à tona tantos anos depois. Não sei qual a intenção do Morais com isso, o que está por trás destas declarações. Não gostaria mais de tocar neste assunto. Suas afirmações não são verdadeiras e não refletem o que houve realmente. Lembro, entre outras coisas, que foi o próprio Morais quem pediu para deixar o Vasco. Acho que o jogador deveria, neste momento, botar sua cabeça no lugar e pensar em apenas jogar futebol. O Morais recebeu uma chance de recomeçar no Atlético MG, talvez seja a última em um time grande. Como vascaíno, torço para que retome sua carreira, que sempre foi promissora. Bola, ele sempre teve, o que lhe faltou algumas vezes foi equilíbrio emocional. Se ele estiver focado, tenho certeza de que pode ajudar seu time, inclusive na Libertadores.

Arrependimento de não ter saído em 2006

O caminho de Morais no futebol já começou turbulento. Um ano após ser promovido no Vasco, ele não chegou a acordo com a diretoria para renovar seu contrato e, em 2004, foi para o Atlético-PR. Lá, pouco atuou e em 2005 retornou a São Januário. O bom futebol voltou a aparecer e foi coroado com a convocação - a primeira de Dunga - para amistoso da seleção brasileira contra a Noruega, em 2006. Manteve o bom nível de atuações e foi pré-convocado para a Copa América de 2007.

Morais diz ter recebido propostas oficiais de clubes europeus na época. Mas conta que a vontade de ser campeão com a camisa do Vasco pesou e resolveu ficar, contrariando conselhos que recebia para que deixasse o clube.

- Poderia ter forçado a saída. Eu queria ser campeão no Vasco. Lembro que meu irmão falava para sair e que (a situação) era muito difícil, todo mundo sabia. O Felipe estava no Qatar e sempre me dava moral, dizia que eu era o novo meia. Veio de férias no meio do ano, via a situação difícil do clube e falou para eu sair, porque estava tudo errado. Lembro como se fosse hoje. Acabei ficando e não foi o melhor que fiz. Deveria ter saído, mas vida que segue.

As lembranças da passagem rápida pela Seleção são guardadas em fotos e recortes de jornais que o meia coleciona. Para Morais, a lesão no púbis que o tirou da Copa América de 2007 foi decisiva para que não conseguisse ter sequência com a amarelinha.

- Era meu melhor momento. Passei quase cinco meses parado com uma lesão no púbis. Tratava, tratava, mas lesão no púbis é algo muito complicado. Aquilo me abalou psicologicamente. Voltei em 2007, e em 2008 teve a eliminação para o Sport (pelo Vasco, na Copa do Brasil), que caiu toda sobre mim. É o destino, tem que ser assim. Agora é pensar em voltar a jogar, pois ainda estou jovem e tenho mais cinco ou seis anos pra queimar e fazer de tudo pra ter bons momentos - planejou.

Melhora na saúde do pai motivou volta ao futebol

Em junho passado, Morais resolveu largar o futebol. Estava sem cabeça para jogar, já que o pai encontrava-se em estado crítico por diabetes e mal de Parkinson. Recusou a possibilidade de assinar por mais três temporadas com o Bahia, clube pelo qual foi campeão estadual depois de 11 anos de jejum, e optou por deixar a profissão para ficar ao lado da família. Ele garante que foi a melhor decisão e não tem arrependimento.

- Meu pai estava muito doente, eu estava distante, preocupado e não conseguia render. Tinha que ir para casa, dar um tempo, que de repente eu não voltaria a jogar. Voltei para casa, meu pai melhorou, e o Parkinson e a diabetes estão bem controlados - comemorou.

Fonte: GloboEsporte.com