Colunista revela bastidores da passagem e da saída de Juninho Pernambucano do Vasco

Quarta-feira, 26/12/2012 - 07:05

Neste Natal houve vários pedidos.

A grande maioria dos leitores queria bastidores.

Detalhes da saída de Juninho Pernambucano do Vasco.

E fui atrás.

Não há como não ficar chocado com as histórias.

É mais do que compreensível as suas últimas declarações antes de seguir para os Estados Unidos.

E encerrar a carreira no New York Red Bulls.

Clube que nada tem a ver com ele.

A não ser o fato de pagar muito bem no seu ano de adeus à carreira.

A falta de rumo, de estrutura implodiu o Vasco.

E a paciência de Juninho Pernambucano.

Ele surgiu no Sport, foi para o Vasco como contrapeso.

O grande contratado deveria ser Leonardo.

Mas o jogador se impôs e foi peça fundamental na conquista da Libertadores.

Misturando técnica, talento e muito personalidade, ele se impôs.

Fez tanto sucesso que acabou contratado pelo Lyon.

Ficou oito temporadas.

Acabou heptacampeão francês.

Foi para o Al-Gharafa do Catar.

Acabou como o melhor jogador do país.

Tinha propostas bem melhores financeiramente.

Do São Paulo e do Internacional.

Preferiu voltar ao clube que amava.

O Vasco da Gama.

Retornou com o sonho de encerrar a carreira em São Januário.

Conversou com Roberto Dinamite e ouviu as dificuldades econômicas do clube.

E também soube da desconfiança de alguns conselheiros.

Ligados a Eurico Miranda, inimigo mortal de Juninho Pernambucano.

Fizeram que soubesse que não acreditava no seu potencial aos 35 anos.

Irritado, ele não propôs a Roberto Dinamite.

Avisou que atuaria de julho a dezembro pelo salário mínimo de 2011.

Receberia R$ 545,00 mensais.

E 'calaria a boca' daqueles que duvidavam dele.

Assim fez.

Foi peça importante no time.

Sua liderança, visão de jogo, talento foram fundamentais ao time.

E aí veio 2012, Juninho conversou com Dinamite e era hora de acertar um contrato de verdade.

Foi sacramentado que ele receberia R$ 50.000,00 por partida.

Jogou, ganha.

Não entra em campo, não ganha.

Justo para quem tinha 36 anos.

Juninho só exigiu uma coisa da diretoria de Dinamite.

Que os valores fossem tratados como segredo de estado.

Só que não há segredo em São Januário para os defensores de Eurico Miranda.

E eles fizeram questão de vazar a jornalistas.

Sabiam o que faziam.

Juninho Pernambucano se sentiu traído, irritado, exposto.

Por que os atrasos já estavam virando rotina no clube.

A maior mistura de incompetência e ingratidão da diretoria com jogadores brasileiros.

Com o AVC de Ricardo Gomes, os jogadores mais experientes cuidavam do time.

E davam o maior amparo possível para o técnico Cristóvão.

Se havia um elenco no Brasil que não merecia ficar sem receber era o vascaíno.

Foi quando o pagamento acabou sendo uma forma de provocar a cizânia no elenco.

A discórdia era alimentado pelos indefectíveis conselheiros ligados a Eurico Miranda.

Eles ficavam atentos às reclamações dos líderes do time para a falta de pagamento.

O Vasco chegou a uma semana de completar três meses sem pagar os atletas.

Pela legislação perderia o direito aos jogadores.

Mas esses conselheiros espalharam que alguns atletas eram privilegiados.

E recebiam, enquanto o resto, não.

O principal deles seria Juninho.

Era mentira.

Ele teve de provar aos companheiros que também não recebia.

Vivia bem graças à carreira vitoriosa que teve.

Tanto que chegou, de maneira discreta, a ajudar os mais necessitados.

Só que ele não suportava mais o desgaste, as promessas de Roberto Dinamite.

Foi decepção atrás de decepção.

O Vasco estava bem demais no Brasileiro.

Tinha chance de brigar pelo título quando o dinheiro dos salários sumiu.

A equipe tentou ainda reagir, buscar uma vaga na Libertadores.

Juninho era o grande líder e que dizia toda semana que o dinheiro chegaria.

Ele não chegou, o meia acabou desmoralizado.

E o Vasco despencou e até a vaga da Libertadores fugiu das mãos.

No final do ano, surgiu a proposta do Red Bulls.

Ele avisou Roberto Dinamite e foi conhecer o clube americano.

O meia tem uma filha estudando nos Estados Unidos.

Gostou do que viu, mas ainda queria ficar no Vasco.

Se reuniu com Dinamite e dirigentes.

Recebeu o que considerou uma proposta indecente.

O clube carioca oferecia o mesmo contrato R$ 50 mil por jogo.

Haveria até um patrocinador especial que se comprometia a pagar o meia.

O restante do time, Dinamite não teria como prometer a ele que o salário não atrasaria.

Assim como as premiações, as luvas, os bichos.

Ou seja, só Juninho receberia em dia.

Ele percebeu a injustiça.

Capitão do time, não se prestaria a este papel.

A tanta falsidade.

E decidiu ir embora para os Estados Unidos.

Não quis ser o único privilegiado em um ambiente tão desgovernado.

Até no último instante, ele mostrou sua índole.

Alexandre Kalil e Cuca o procuraram.

O Atlético Mineiro pagaria o mesmo que o Red Bulls.

E ele seria o maestro do time na Libertadores de 2013.

Juninho agradeceu e disse que não jogaria em outro clube brasileiro a não ser o Vasco.

Fidelidade que é dele, ninguém pediu.

O meia é um jogador especial.

Em 2006 ficou tão desgostoso com a bagunça que dominava a Seleção que avisou.

Não queria mais saber de defender o Brasil.

Deixou claro que havia muita coisa errada e que todos descobririam no futuro.

Ele se referia às baladas em plena Copa da Alemanha.

Ronaldo, Adriano, Roberto Carlos e Robinho lideravam o grupo que se perdia nas noitadas.

Com a disputa do Mundial, o time voltava às cinco da manhã depois dos jogos.

Se acabava nas danceterias alemãs.

Juninho foi um dos poucos a se rebelar contra os líderes da balada.

Acabou deslocado, sem ambiente.

Por isso desistiu da Seleção.

Fez o mesmo agora no Vasco.

"O ambiente no dia a dia é sujo e não posso ser escudo para isso tudo. (...)

A situação que o Vasco vive é propícia para oportunistas.

Como ex-dirigentes, conselheiros e até jornalistas.

É coisa de euriquistas."

O Vasco perde um líder.

E o futebol brasileiro vê sair um homem de caráter.

Homem de muita personalidade, transparência.

Estirpe cada vez mais rara por aqui.

Juninho vai de cabeça erguida.

Sabe que cumpriu sua missão.

Há hoje poucos lugares no Brasil para homens dignos como ele.

Infelizmente o seu amado Vasco da Gama não é um deles.

Mas o coração não permite que use outra camisa.

Por isso um grande homem está embarcando para os Estados Unidos.

Sai sem jogo de despedida.

Muita mágoa no coração.

E uma certeza.

São Januário que aprendeu a amar não existe mais...

Fonte: Blog Cosme Rímoli - R7