Leonardo Gonçalves fala sobre orçamento 2013 e redução do investimento nos esportes olímpicos

Segunda-feira, 24/12/2012 - 14:42

A votação do orçamento do Club de Regatas Vasco da Gama para 2013, que acontecerá na Sede Náutica da Lagoa no próximo dia 27, será decisiva para os esportes olímpicos do clube em termos de existência. Com a crise financeira, um dos pontos escolhidos pelo orçamento proposto para, supostamente, melhorar a situação é a exclusão de diversos esportes amadores do Gigante da Colina, restando apenas o remo, cuja existência é assegurada pelo Estatuto do Vasco, e o futsal, desporto fortemente correlato ao carro-chefe, o futebol. No plano de gastos para o ano que vem, a parte destinada aos esportes olímpicos assusta: ZERO.

Embora grande parte de sua fama e o altíssimo número de torcedores seja devido ao esporte bretão, o Vasco da Gama de maneira nenhuma pode ser visto apenas como um time de futebol. Durante sua História, os títulos em outras modalidades abundam. Basquete, vôlei, remo, atletismo, natação etc. Títulos de ordem estadual, nacional e até mundial. Além disso, há a questão de que também é enfraquecida uma importante vertente do clube que sempre foi levada em conta durante sua gloriosa história que vai muito além dos gramados: a responsabilidade social. Centenas de atletas das categorias de base têm acesso à escola dentro dos muros de São Januário, têm acesso ao esporte e se formam não apenas como atletas, mas principalmente como cidadãos. O Vasco deixa um importante legado na vida destas crianças e destes adolescentes. De maneira que também podemos citar outro fator que seria prejudicado com esta bombástica decisão: o fato de que são formadas pessoas com amplo conhecimento e identificação com o clube, são formados vascaínos de verdade, incondicionais.

A crise financeira não pode ser motivo para a exclusão desses esportes. Para tê-los em altíssimo nível, sim. Percorrendo os outros grandes clubes cariocas, que também nos servem de exemplo e que também se encontram em crise financeira, essa saída não é cogitada. Estrutura em bom estado e uma crescente participação em competições de alto nível, por exemplo. É importante reiterar que isso não é uma saída de emergência abrupta, mas, com efeito, dá para ser entendida quando consideramos o crescente descaso que é perpetrado para com essas modalidades pela atual gestão do clube. Último campeonato adulto de basquete que disputamos foi em 2007, neste ano fomos lanterna do Campeonato Estadual de futsal, que continha equipes fraquíssimas, perda da hegemonia no remo (último título em 2008), condições parcas para as categorias de base (por exemplo, neste ano não foi sequer oferecido vale-transporte aos atletas do basquete, que tiveram que pagar por conta própria seus deslocamentos aos treinos e jogos)... Fora o patrimônio do clube. O ginásio principal está caindo aos pedaços, literalmente, e o parque aquático, que já sediou etapa de Copa do Mundo de natação, também está em condições precárias, servindo apenas como um belo enfeite para o clube, sendo um legítimo elefante branco.

Enquanto o país, às vésperas das Olimpíadas em casa, conta com um crescimento dessas modalidades de maneira geral, crescimento este que é uma necessidade com vistas a 2016, o Vasco vai na contramão e busca a solução fácil de excluir um ponto importante de sua História. Busca a transformação em Vasco Futebol Clube. É importante considerarmos que o Vasco jamais foi concebido durante seus 114 anos de existência para ser só um time de futebol. Além dos incontáveis títulos fora dos gramados, ainda podemos observar São Januário, que possui belíssima estrutura (que está sendo depredada) e, até mesmo espacialmente, foi projeto para abrigar diversos desportos. Ginásios, parque aquático, quadras etc. O Vasco está sendo atacado em sua essência, perdendo em grande parte seu alicerce.

Leonardo Gonçalves, conselheiro do clube e presidente do movimento de oposição Cruzada Vascaína, manteve contato com o "CRVG - Em Todos os Esportes", página parceira do site SuperVasco, e nos confirmou essas informações, além de nos contar que elas se tornam ainda mais absurdas se consideramos que diversos gastos cuja pequena parte já garantiria a existência de vários esportes são observados em outras partes do orçamento, como salários de jogadores e pagamento a três dirigentes do futebol:

- Acabar com todos os esportes amadores não pode ser uma solução aceitável pelos Vascaínos quando ainda vemos a diretoria do clube torrando dinheiro em outros setores do clube por incompetência. Como podem trazer um ex-funcionário do clube (Cristiano Kohler) que não teve bom desempenho em 2010 pagando muito mais do que ele ganhava anteriormente e ainda manter 3 diretores (René Simões, Ricardo Gomes e Daniel Freitas) no futebol? Qual é a coerência dessas ações? Só o salário do Carlos Alberto seria suficiente para manter vivo muitos esportes olímpicos no cube. Outro ponto absurdo no orçamento é prever a contratação do terceiro goleiro do Vasco, Diego Silva, por R$ 500 mil. Estão malucos? Dar um montante desses num goleiro que nunca jogou é um absurdo quando temos bons goleiros na base do Vasco como o Fabricio que foi recentemente dispensado e o Jordi, que tem se destacado.

Diversos projetos para captação de recursos para essas modalidades existem pelo Brasil. Em clubes de pujança muito menor que a do Vasco, com uma marca bem mais fraca. E não apenas a partir da iniciativa privada: ainda há a Lei de Incentivo ao Esporte, que fornece recursos a importantes projetos e poderia servir, pelo menos uma tentativa, como rota de fuga para recursos. Apurando informações com pessoas ligadas ao esportes olímpicos do clube, pudemos saber que houve e há diversos projetos feitos nesse sentido que foram desconsiderados pela diretoria, além de alguns engatilhados. Tivemos a informação até de que há um na mesa do presidente relacionado à Lei de Incentivo. Não é preciso ser grande especialista para saber que a situação do clube nesses esportes não é condizente com a História do clube neles e sequer com a marca do Vasco.

Leonardo ainda nos fala sobre outros aspectos imanentes a essa extinção, e se "surpreende até agora o silencio do pessoal do marketing do clube, que deveria ver nos esportes amadores um bom nicho para atrair parceiros para o Vasco.". Um ponto importante e que também contribui para a decisão de extinguir os esportes olímpicos do Vasco é a demissão de funcionários (importante ressaltar que o quadro atual de funcionários dos esportes amadores é inclusive aquém do necessário), sobre o qual o presidente da Cruzada Vascaína também nos fala:

- Outro ponto absurdo é falarem que uma das premissas do orçamento é aumento zero de divida e ao mesmo tempo, recomendarem a demissão de um monte de funcionários sem pagar seus direitos. Porque eles não recomendam ao Dinamite que seus parentes e amigos sejam os primeiros a se demitirem sem gerar custo excedente para o Vasco? Só isso já aliviará muito a folha do Vasco e talvez nem sejam mais necessárias essas demissões.

Chega a ser engraçado e triste quando lembrados que o Movimento Unido Vascaíno (MUV), que alicerçou a chegada de Roberto Dinamite à presidência do Vasco e tinha José Pinto Monteiro, até pouco tempo vice-presidente de Esportes Olímpicos e Responsabilidade Social, como um de seus diretores, tinha como um dos pontos de crítica à gestão de Eurico Miranda o sucateamento e queda de resultados de alto nível dos esportes olímpicos do clube (http://goo.gl/eTe5R). Em entrevista recente ao GloboEsporte.com, Leo Gonçalves fala que extinguir os esportes olímpicos do Vasco representa assinar a confissão de que o clube está quebrado:

- Quem fez esse orçamento acabou de assinar a confissão de que eles quebraram o Vasco. E confessaram também que são incompetentes para lidar com essa situação. Acabar com todos os esportes e mandar para a rua um monte de empregados sem pagar seus direitos não pode ser solução séria para um clube como o Vasco.

Rogério Abreu, sócio emérito e proprietário diamante do clube, ex-atleta do basquete do Vasco, ex-conselheiro e pessoa que acompanha diariamente o basquetebol vascaíno, nos informou da tristeza que acomete todos desse esporte dentro do clube. Ele nos fez um desabafo:

- É um absurdo acabarem com os esportes olímpicos para contratarem executivos que não entendem nada de Vasco. O que estão fazendo é terceirizar o Vasco, colocando profissionais que nem a historia do Vasco querem conhecer. Falam em enxugar , demitir e contratam a peso de ouro profissionais que passaram pelo clube e foram cúmplices das barbaridades feitas: maquiagem de balanços, salários superdimensionados, rebaixamento da marca Vasco etc. Esse que vem como salvador da pátria lá já esteve e o que fez? Trouxe o Vasco para a Série A. Me desculpem, mas qualquer meia tigela conseguiria isso.

O basquete é um dos esportes do clube que mais sofreu nesses últimos anos. Desde 2007 sem disputar o Estadual adulto, o Gigante da Colina oferece condições pobres aos atletas da base e, com o ginásio principal interditado desde dezembro de 2011 e sem obras feitas, até os mandos de quadra, que tradicionalmente são efetivados na Colina, tiveram que ser realizados fora de São Januário e não há horários suficientes para os treinos. Mesmo assim, o pré-mirim conquistou o Estadual deste ano, com muito brio e muita luta. O primeiro título do basquete do Vasco desde 2007. Rogério prossegue em seu desabafo concedido ao “CRVG – Em Todos os Esportes”, citando que a grandeza do Vasco vai muito além do futebol e que o Gigante da Colina não pode se tornar apenas um time de futebol, se diferenciando nesse sentido de muitos dos grandes clubes do futebol brasileiro que têm sua história praticamente resumida aos gramados. Também nos fala no quanto essa decisão fere a história do clube no sentido de que o Vasco sempre ofereceu condições para que centenas de crianças pudessem praticar esportes em São Januário:

- O Vasco não é um time do Rio grande do Sul que não tem história nos esportes, o Vasco é clube, tem história, tem passado, tem representatividade política; ou melhor, tinha até estes senhores chegaram no Vasco. A hora é de responsabilizar todos que estão nos humilhando, pois perder no campo, na quadra, na raia é do esporte, porém perder o nosso sentimento de orgulho não é admissível. Fora Roberto! Fora Olavo! Fora todos os que pularam fora com medo ou por rabo preso. Fora do Vasco todos os que compactuaram com o golpe de 2008. Vocês não são dignos da cruz que eu me orgulho de carregar no coração. Vocês querem acabar com a máxima vascaína de que "enquanto houver um coração infantil o Vasco será imortal", pois vocês estão acabando com o sonho de centenas de crianças que praticam esportes no clube.

O “CRVG – Em Todos os Esportes” reproduz os relatos dessa matéria a fim de mostrar o quão desesperadora é a situação através de pessoas que vivem o clube e seus esportes olímpicos, que, portanto, têm legitimidade e informações suficiente para falar sobre a questão em tela. Entretanto, como página apartidária em relação à política do Vasco, isto não significa que subscrevamos integralmente o que nos foi falado. De qualquer maneira, nosso conteúdo não é de maneira nenhuma apolítico. Desta forma, não podemos nos calar diante da extinção de uma significativa parte da História do Vasco, de um dos braços do clube. Convocamos todos os vascaínos a comparecerem presença na votação do dia 27 e fazerem pressão para que esse crime contra o Club de Regatas Vasco da Gama seja efetivado. O CRVG vai muito além dos gramados!

Fonte: Facebook CRVG - Em Todos os Esportes