Médicos comentaram AVC sofrido por Ricardo Gomes há 1 ano

Terça-feira, 28/08/2012 - 23:49

Hoje, completa-se um ano de um dia inesquecível para o Vasco e principalmente, para Ricardo Gomes. Há exatamente 365 dias, durante o clássico entre Vasco x Flamengo, o técnico sofreu um AVC enquanto comandava o Trem Bala da Colina em mais um jogo, jogo este muito importante para o Vasco. Praticamente 100% recuperado, os dias que se passaram desde o dia 28 de agosto de 2011 até agora foram de muita luta para o treinador, tão querido por todos.

Em sua homenagem, o repórter da Super Rádio Brasil, Gustavo Pena, fez um especial relembrando o fato e contando como foi sua recuperação.

Primeiramente, o médico do Vasco, Fernando Matar fala sobre como foram os primeiros atendimentos a Ricardo Gomes.

“Eu tava participando do jogo junto com ele, no banco, ele tava ali na beira do campo, e pra minha surpresa ele veio e sentou do meu lado, ai ele falou “Fernando, chama o Cristóvão e me leva pro vestiário que eu to me sentindo mal". Ai foi uma sequencia de coisas, eu mandei chamar o Cristóvão e imediatamente após essa atitude ele me falou que o lado direito dele já estava paralisado, e ai bateu o desespero, porque apesar de eu ser médico, a gente se viu em uma situação impar no futebol, e o jogo não foi parado, o quarto juiz tava sabendo, a gente teve dificuldades, mas a gente conseguiu atingir o bom senso e nós conseguimos a transferência pra um hospital particular. Poderia ter sido um pouco mais rápido, mas foi o rápido suficiente pra atingir o êxito. Nós fizemos tudo da maneira mais rápida que nós pudemos fazer, graças a tudo ter acontecido do jeito que aconteceu, mesmo com as dificuldades nós conseguimos realizar isso, e isso foi fator primordial de todas as sequencias, todas as etapas do procedimento, até o ato cirúrgico.”

Fernando Matar fala sobre a dificuldade em conter a emoção ao lutar pela vida de um amigo.

“O que a gente vê no dia a dia, na estrada que a gente percorre a muitos anos, da medicina, o normal das coisas é acontecer com o êxito não ser total como foi esse, esse foi uma coisa a parte. A gente embora esteja pronto pra essas coisas e pra tentar ajudar da melhor maneira possível, a gente tem um comprometimento sentimental muito grande, porque acima de tudo a gente é médico, e a gente é postulado para salvar o quanto a gente puder fazer, e o Ricardo também merecia, pois ele é uma pessoa sensacional.”

Roberto Calheiros, chefe da emergência do hospital, estava em casa acompanhando o jogo e não sabia que seria fundamental para o salvamento do técnico Ricardo.

“Na realidade eu acompanhava o jogo e pude perceber que ele já apresentava alguns sintomas de um quadro neurológico em campo, e ai me chamaram pelo rádio e eu fiquei aguardando ele no hospital. Quando ele chegou ao hospital a situação era dramática, era crítica, com risco de morte, evidente, e com aquelas condições que ele chegou, a gente coloca ai no mínimo 60 ou 70% de chances de ter um desfecho ruim, após os exames iniciais, foi evidenciado então um derrame e então contactado a equipe de neurocirurgia que deu o tratamento definitivo pra ele, com uma resposta realmente impressionante, que foi a recuperação dele.”

Após os primeiros exames e procedimentos, Ricardo foi levado para a sala de cirurgia, onde a equipe do neurocirurgião José Antonio Guasti aguardava pelo início da operação que durou 3 horas. Era o primeiro passo de longos 21 dias de internação, além de um ano de sacrifícios físicos e seções de fisioterapia e fonoaudiologia. Segundo o médico, Ricardo Gomes sabe o tamanho da façanha que tem realizado dia após dia.

“Ele tem noção de tudo, é importante o paciente ter consciência do que aconteceu porque colabora na recuperação. Eu acho que ele surpreendeu a todos nós, devido a gravidade da situação, e muito pela força de vontade dele de viver, de se recuperar. Com certeza foi uma vitória espetacular. Ele, por toda a formação dele, e claro, pela ajuda naturalmente de um ente superior de Deus, que ajudou-o no momento crucial da vida dele. Para colocar em números, vamos avaliar de 1 a 10, sendo esse 10 um grau bem grave, bem crítico. Eu diria que ele estava no grau 8, se recuperou e está com 95% de recuperação, esta apto para exercer a atividade dele perfeitamente. Eu to sempre em contato com ele, to acompanhando, e ele ta muito bem, muito bem. É importante acreditar que pode dar certo, confiar em toda a estrutura que está ao redor dele, isso é fundamental."

Para os médicos, a motivação de Ricardo foi fundamental para o sucesso de sua recuperação e acreditam que muitas pessoas se espelham na vontade dele para saírem vencedoras também.

“Muita gente, com certeza, se espelhou nele, na sua recuperação. Ele é uma pessoa muito querida, então eu sei disso pelos meus pacientes, pelas pessoas que me procuravam, que tinham ele com um exemplo. Só o fato de procurar com essa finalidade, de que o Ricardo se recuperou, já é um sentimento de preocupação, e foi muito importante.”

Desde o momento mais crítico até o processo lento e gradual de superação das sequelas, Ricardo foi acompanhado pelo clínico geral Fábio Miranda, que acompanhou a firmeza do treinador para vencer as limitações físicas.

“A luta pela recuperação tem que ser seguida o tempo todo e a pessoa não pode desistir. Se a pessoa tem um perfil depressivo, de que não vai conseguir vencer as etapas, ai é muito ruim pra recuperação da pessoa, então quando ela vê um semelhante, um outro cidadão que se recupera da maneira que o Ricardo se recuperou, isso serve de estímulo pra que ela também se esforce para alcançar a recuperação. O que mais chamou a atenção foi a velocidade com que ele se recuperou. A gente tinha esperanças de que ele teria algum grau de recuperação em um prazo maior de tempo do que o que ele apresentou, e isso se deve a vários fatores, o primeiro que ele era uma pessoa saudável, o segundo que ele é jovem, terceiro que ele foi operado rapidamente e por ultimo a força de vontade dele em recuperar todas as seqüelas que ocorreram devido a hemorragia cerebral. A força de vontade fazendo exercício, se dedicando a fisioterapia com força e determinação.”

Ricardo Gomes hoje vive normalmente, fazendo as atividades pessoais com independência, os obstáculos, cada vez menores, estão na fala e na perna esquerda, o que ainda o impedem de pensar em sua volta ao trabalho, embora sua recuperação esteja perto do fim, como destaca o médico Fábio Miranda.

“No momento é contra indicação médica. Naturalmente todo paciente hipertenso deve, além de tomar medicação e controlar a pressão, deve evitar momentos de grande estresse emocional, não chega a ser uma contra indicação absurda, é uma contra indicação relativa, é a profissão dele e ninguém vai indicar mudar de profissão porque tem pressão alta, apenas procurar se resguardar mais pra evitar que algo o leve a um estresse emocional maior.”

O dia de hoje também é importante para o companheiro Cristóvão Borges, que acompanha Ricardo Gomes a vários anos. É um dia que ele não consegue esquecer.

“Estávamos nós, a comissão técnica assistindo o jogo e tava tudo normal, ele na beira do campo, como de costume, mas teve um momento que ele ficou muito tempo sem ir pra beira do campo, e nós sabíamos que isso não era hábito dele, ai começamos a prestar atenção, vimos que estava todo mundo olhando, ai imaginamos que tinha acontecido alguma coisa e foi nesse momento que um funcionário do clube me avisou que eu tinha que descer que ele não tava passando bem, ai eu desci rápido, e quando cheguei à pista ele já tinha sido levado e ai eu já sabia, pelos movimentos, os semblantes das pessoas próximas, que era algo grave mesmo. Foi um dos dias mais terríveis da minha vida, de um abalo emocional muito grande. Foi difícil pra todo mundo, pra mim especialmente, a sensação é muito difícil, e no momento em que eu fui chamado pra descer ao campo, eu já estava muito abalado, e mesmo sem saber eu já tinha percebido que era alguma coisa grave, depois, tomando conhecimento das coisas, foram dias de muita preocupação, e passamos dias terríveis até a melhora dele. Ele é como um irmão pra mim. Ele nasceu de novo e ele tem consciência disso, e hoje, depois de tudo, é uma felicidade muito grande, imaginar, pensar lá atrás, que ele quase morreu e a gente sabe que foi um milagre. Hoje, do jeito que ele ta, ficamos muito felizes. É bacana quando ele vem aqui, ele transforma o ambiente, fica todo mundo feliz e emocionado.”

Fonte: Supervasco